Por: Renan Omura | Jessica Silva
Notícia
Publicado em 24.04.2023 | 16:35 | Alterado em 27.02.2024 | 16:43
Quem anda pelas ruas das cidades do Alto Tietê, na Grande São Paulo, provavelmente já viu o desenho de um cachorro sorridente estampado nos muros. O nome da personagem é Lalala Dog e pertence ao grafiteiro e tatuador João Ricardo Vieira Santos, 40, mais conhecido como Jawn.
Morador de Mogi das Cruzes, Jawn ganhou popularidade no município em 2013, logo depois que começou a ilustrar a cachorrinha. A figura surgiu como uma homenagem à Dalila, uma dogue alemã resgatada por ele que faleceu.
“Comecei a fazer os grafites da Dalila em lugares abandonados para mudar o visual e trazer um olhar diferente para quem estiver passando. Depois de 10 anos, a Lalala está maior do que nunca e continua superando minhas expectativas”, conta.
Devido à aceitação dos mogianos, Jawn passou a ser procurado por comerciantes para fazer pinturas em fachadas, quartos e portões. Atualmente ele já fez 971 desenhos de Lalala Dog, a maioria nas cidades do Alto Tietê.
Com o aumento da visibilidade, logo surgiram também os convites para fazer exposições em shoppings, centros culturais e em escolas.
Existem diferentes versões de Lalala Dog espalhados pelas ruas, no entanto, os traços marcantes, o visual colorido e os elementos geométricos tornam as ilustrações de Jawn inconfundíveis.
“No começo a intenção era desenhar uma dogue alemã, mas depois eu fui simplificando a ilustração até chegar nessa versão cartoon”, conta o artista que gasta entre duas a três horas para finalizar cada desenho.
Não é só nas paredes que a obra de Jawn está presente. O artista também tem trabalhado bastante na internet, inclusive criou algumas ilustrações em NFT (Non-fungible Token), ativos digitais que representam bens considerados únicos, como uma obra de arte.
Nas redes sociais, ele recebe encomendas em que transforma pessoas em versões “Lalala’s”. Além disso, o grafiteiro vende camisetas, almofadas, quadros e adesivos com a estampa da personagem.
Apesar da ilustração canina ter se tornado uma espécie de marca, Jawn não pretende focar no trabalho comercial, pois quer aumentar o alcance artístico das obras e manter a essência da intervenção nos locais abandonados.
“Nesses 10 anos conheci pessoas incríveis, fiz vários eventos em periferias e exposições. Mas também tive momentos difíceis, com baixas criativas e financeiras”, afirma.
Jaum começou em 2013, em Mogi das Cruzes, a desenhar a personagem @Renan Omura/Agência Mural
Artista também faz outras produções e tem camisetas com Lalala Dog @Renan Omura/Agência Mural
Lalala surgiu como homenagem a cadela que o artista havia resgatado @Renan Omura/Agência Mural
971ª ilustração de Lalala Dog na Praça dos Enfartados, em Mogi das Cruzes @Renan Omura/Agência Mural
Nos primeiros meses da pandemia de Covid-19, o grafiteiro teve a renda bastante comprometida, pois foi necessário parar completamente com as atividades presenciais. “Além de pausar os grafites, minhas vendas na internet zeraram por alguns meses. Foi um período difícil”.
Com a queda no número de casos da doença, Jawn voltou aos poucos com os desenhos nas ruas, mas somente em 2022 as demandas voltaram a ser como eram antes.
Apesar da intervenção de Jawn ser bastante conhecida no Alto Tietê, ele explica que, ao longo desses anos, foi abordado inúmeras vezes por agentes de segurança. Na maior parte de forma truculenta.
“Abordagem de policiais sempre tem. Não sei como eles diferenciam uma intervenção artística de vandalismo”
‘Alguns me veem como artista, já outros me enxergam como vândalo’
Jawn, artista criador do Lalala Dog
Devido o Lalala Dog ter se popularizado, Jawn conta que é mais fácil mostrar para os agentes durante a abordagem que se trata de uma intervenção artística. Porém, lamenta que outros artistas menos conhecidos tenham que passar por esse tipo de situação.
Aos artistas de rua que estão começando agora, Jawn aconselha: “Tem que produzir e buscar sempre a evolução. Não tem outro jeito. Sei que é difícil, mas o caminho é esse.”
Jornalista. É fotógrafo por hobby (as vezes por trabalho), é amante dos dias frios e nunca dispensa um café. Correspondente de Suzano desde 2019.
Jornalista formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, Pedagogia e Mestra em Educação pela PUC-SP. Ama fotografias, séries, filmes e não vive sem Netflix. Correspondente de Mogi das Cruzes desde 2013.
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.
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