Egberto Santana/Agência Mural
Por: Egberto Santana | Karine Ferreira
Notícia
Publicado em 07.12.2023 | 11:08 | Alterado em 07.12.2023 | 11:18
“Quando eu vi meu nome, eu me senti com 17 anos acreditando em mim e me olhando hoje com 23 anos, eu num livro, mano, documentado toda a minha correria de inspiração para alguns”.
A fala com emoção é de Gabriel Henrique Jesus, MC e organizador da Batalha do Escadão, evento de batalha de rima de Suzano e um dos mais de 72 nomes do projeto “Iluminada por Deus seja a minha Zona Leste”, que pretende reunir diversos artistas da região, incluindo o extremo leste e as cidades do Alto Tietê.
Quem está por trás desse corre é Vitor Gonçalves Chaves, 19, também de Suzano, e a inspiração vem do livro “The Young and the Banging”, do DJ e designer de moda Heron Preston, publicado em 2008. Com cerca de 200 artistas e em formato de anuário escolar com fotografias polaroid, a obra capturava a cena de Nova York da época.
“Nossa, seria muito legal se alguém fizesse pela zona leste”, pensou Vitor quando descobriu a obra em uma madrugada de estudos sobre moda. O objetivo dele é finalizar a obra quando ela atingir o número de 100 artistas.
Sem esperar por ninguém, o jovem começou a reunir nomes que já conhecia, buscou indicações com amigos e iniciou a versão brasileira do projeto. O título é uma menção a um trecho da coletânea de músicas “Todas as quebradas”, do MC Daleste.
Vitor também é criador e designer da marca de roupas Correrue, criada em março de 2022. Corre vem da correria do dia a dia, enquanto “rue” significa rua em francês. “A gente pega momentos, vivências, emoções e transcreve em formato de roupa”, explica ele.
Uma das peças, por exemplo, tem o símbolo de uma ampulheta ao lado de uma maço de dinheiro. Abaixo do desenho, a frase: “focado no progresso, sem tempo para perder.”
Vitor iniciou no ramo da moda quando trabalhava em uma empresa de teologia cristã e o filho do patrão, na época, pediu para ele criar uma marca para ele. Apesar de sempre ir ao Brás e conhecer um pouco sobre o assunto, a questão da criação era algo novo. Foi quando se aproximou de Thiago, da marca Rumi 13, responsável por apadrinhá-lo no mundo da moda.
Tanto Thiago quanto Vitor, agora com a Correrue, trabalham no meio do “streetwear”. O termo é traduzido como “roupa de rua” e designa peças e acessórios que procuram expressar a cultura urbana de uma determinada região ou movimento.
Depois da Correrue, Vitor fez trabalhos para a marca Éden, de Minas Gerais, para a Peita Lisa, da zona norte de São Paulo, e possui outras colaborações com lançamento para 2024.
Por não estudar moda formalmente, em instituições de ensino, o jovem buscava aprender e se atualizar em relação ao segmento por conta própria. Foi assim que descobriu o livro de Heron Preston.
“Era tipo meia-noite, eu estava terminando meus estudos, vi esse livro e fiquei doido. Fiquei até as 6 horas da manhã pensando como eu iria fazer isso”, relembra Vitor, que iniciou os trabalhos escrevendo as informações e reunindo as fotos de colegas artistas que ele conhecia.
Na mesma época, o jovem descobriu que o autor do livro original faria uma visita ao Brasil. Foi quando decidiu desenvolver um exemplar com 20 nomes para entregar ao artista.
“Encontrei com ele em São Paulo, em um evento na Barra Funda. Consegui entregar para ele a peça piloto e a partir daquilo as coisas foram desenrolando”, explica o dono da Correrrue. Preston publicou sobre o exemplar de Vitor no Instagram, mencionando a criação da versão brasileira de seu livro.
O livro não se resume apenas a músicos e a moda, trata-se de um projeto para gerar conexão entre os artistas da zona leste de São Paulo e também permitir que tenham mais visibilidade.
Para Isa Faustino, 17, estudante de relações públicas e criadora de conteúdo, que também está no mapeamento, o projeto do livro é uma oportunidade para deixar a nossa cultura registrada, seja na internet ou em uma versão física, mostrando o que está acontecendo no agora.
“Estou ansiosa para olharmos para trás daqui uns anos e poder falar: ainda bem que alguém acreditou em mim, ainda bem que eu acreditei em mim. Muitos talentos saem daqui da zona leste, às vezes o que falta mesmo é a gente ser visto”, conta Isa, moradora da Vila Industrial.
Para MC Gabriel Henrique, o ciclo de inspiração deve continuar, um artista inspirando o outro e assim vai. “Tem várias pessoas na quebrada, principalmente na zona leste, que desacredita de si. Espero que essas pessoas possam ver em um documento que aqui também tem estrela, tem inspiração, tem força, tem voz e tem vez”, conta.
A ideia de Vitor é, depois de concluir a publicação, realizar a distribuição e reunir toda essa galera em um evento na região. Também por esse motivo, Vitor busca patrocinadores para apoiarem o projeto e permitir que ele cresça ainda mais.
“Acredito que com o livro e com tudo de arte que a periferia produz, possamos ter um pouco mais de visibilidade e atenção do Estado. Mais investimento em esporte e cultura. As empresas privadas também, pessoas que lucram com a zona leste possam investir seu dinheiro aqui igualmente”, finaliza Gabriel.
Jornalista, também é crítico de cinema e redator. Sempre ouvindo ou assistindo alguma coisa, do novo ao velho, do longa-metragem ao reels do Instagram ou Tik Tok. Correspondente de Poá desde 2021.
Jornalista cultural, publicitária e corinthiana. Fiel à fotografia e à música, nunca falta samba, rap ou funk no meu dia-a-dia. Correspondente do Jardim Helena desde 2023.
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