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'Louvamos cada mulher negra que rompe com o silêncio', diz Sarau das Pretas

Coletivo lança na internet o livro ‘Narrativas Pretas” neste sábado (25), Dia da Mulher Negra Latina e Caribenha

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Elaine Campos

Por: Lucas Veloso

Notícia

Publicado em 24.07.2020 | 17:20 | Alterado em 22.11.2021 | 16:11

RESUMO

Coletivo lança na internet o livro ‘Narrativas Pretas” neste sábado (25), Dia da Mulher Negra Latina e Caribenha

Tempo de leitura: 5 min(s)

Criado em 2016 por mulheres negras das periferias de São Paulo, o Sarau das Pretas lança neste sábado (25) o livro “Narrativas Pretas”. A publicação, fruto de um concurso literário realizado pelo coletivo, reúne 30 autoras. 

A proposta é destacar novas narrativas a partir da escrita de mulheres pretas das comunidades de São Paulo. 

Para falar sobre a obra lançada no Dia da Mulher Negra Latina e Caribenha, a Agência Mural enviou por email perguntas para o Sarau das Pretas, composto por Thata Alves, Débora Garcia, Elizandra Souza, Jô Freitas e Taissol Ziggy. 

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O Sarau das Pretas é formado por Taissol Ziggy, Thata Alves, Jô Freitas, Elizandra Souza e Débora Garcia @Elaine Campos

Em tempos de pandemia de Covid-19, as participantes do Sarau têm atuado na doação de cestas básicas e também de cestas culturais [entrega de livros junto com as cestas de alimentos].Além disso, tem trabalhado em ações virtuais, como o lançamento da obra. 

“A importância de ter mais uma publicação como essa é romper com o silêncio e potencializar as escritas negras e estamos na luta pelo acesso ao livro e a leitura”, afirma o coletivo. O lançamento oficial ocorrerá online, no perfil oficial do coletivo nas redes sociais. A live terá participação das cantoras Bia Ferreira e Doralyce.

Nesta entrevista, o grupo fala sobre a obra e situação do Brasil, do racismo e as reflexões sobre o 25 de julho. O Dia da Mulher Negra Latina e Caribenha, criado em 1992, no 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-Caribenhas.

A data marca internacionalmente a resistência das mulheres negras contra a opressão de gênero, o racismo e a exploração de classe no continente. No Brasil, também se celebra o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, instituído por meio da Lei nº 12.987/2014. Tereza foi uma líder quilombola no Mato Grosso, durante o século 18.

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Coletivo lança coletânea com textos de mulheres das periferias da capital e Grande SP @Acervo pessoal

Agência Mural | Como foi o processo para escrever a Antologia Poética Narrativas Pretas?
Sarau das Pretas | A Antologia vêm somar esforços para a difusão da literatura feita por mulheres negras dentro da periferia. É um livro que teve um processo democrático com a realização de um concurso e quem se enquadrava nos pré-requisitos teve a oportunidade de se inscrever. Recebemos quase 100 inscritas e 400 textos. Tivemos uma comissão avaliadora qualificada com três profissões do cenário de literatura. E dentro desse processo foram selecionadas 20 autoras. 

Qual a importância de lançar uma antologia neste momento?
A importância de ter mais uma publicação como essa é romper com o silêncio e potencializar as escritas negras e estamos na luta pelo acesso ao livro e a leitura. Como também estamos na disputa para a criação de novas narrativas, disputa de imaginário e também a pluralizar as vozes negras. Entendemos como coletivo que as mulheres negras são diversas, assim como nossa formação e o racismo insiste em nos unificar em uma única voz. Por isso o nome do projeto é “Narrativas  Pretas”, temos diversas possibilidades de contar nossa história. 

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Como avalia a entrada das mulheres negras das periferias na literatura? 
As mulheres negras sempre estiveram na cena, mas sempre foram invisibilizadas por conta do machismo, pois somos agentes de transformação social, mas dentro de uma estrutura racista e machista. E com a somatória de opressões as mulheres negras ficavam à margem. Estamos reeducando nossos próprios pares. As mulheres negras estão há muito tempo lutando para ter a oportunidade da fala e agora precisamos de escuta. Diversos coletivos de mulheres negras vêm se fortalecendo ao longo dos anos, pelo menos nos últimos 10 anos. Já estamos semeando e plantando há tempos.

Agora é tempo de continuar plantando e começar a colher. Não vamos dar nenhum passo para trás para deixar as coisas confortáveis. Estamos aguerridas e amorosas para chegar de igual com qualidade nas nossas produções literárias, fazendo bonito com um livro com qualidade. 

O que acha da maneira que as mulheres negras são retratadas na literatura brasileira?
O jeito ‘tradicional’ de contar a narrativa de mulheres negras nos estereotipa e nos subestima colocando em papéis muito limitados. Somos o universo, complexos e potentes, e o concurso demonstrou isso. Alcançamos vozes que não conhecíamos e isso nos surpreendeu. Estamos felizes com o resultado do nosso primeiro livro.

As homenageadas deste livro são a Luz Ribeiro, poeta e pedagoga da zona sul que participa do Slam das Minas, e Miriam Alves, professora e escritora com destaque na cena literária afro-brasileira, e com estudos acadêmicos sobre o trabalho dela. Como chegaram a essas escolhas?
Temos um entendimento ancestral que fazemos parte do processo e acreditamos que “nossos passos vêm de longe”. Essa frase de um subtítulo de um dos livros organizado por Jurema Werneck nos representa muito. Precisamos aprender a homenagear nossas escritoras em vida e as duas escritoras selecionadas pelo coletivo representam esse princípio de continuidade a nossa mais velha e a nossa mais nova. Entendemos que a mais velha tem a sabedoria da experiência e a mais nova tem a potencialidade de sonhar junto no mesmo tempo e espaço. Miriam Alves e Luz Ribeiro são referências literárias que estão semeando dentro da literatura.

O Brasil valoriza as mulheres negras? Qual o valor que o país dá? 
O Brasil é um país racista e machista. Estamos nos rankings de lugar que mais mata mulheres no mundo [país é o quinto no mundo com maior número de feminicidio segundo o Alto Comissariado das Nações para os Direitos Humanos).. Não podemos dizer que o país é generoso com as mulheres negras. E temos como mantra “eles combinaram de nos matar e nós combinamos de não morrer”, frase de Conceição Evaristo. A nossa luta é que nós mulheres negras tenhamos um país mais generoso e igualitário com as mulheres negras. Lideramos em todas as estatísticas de morte, descaso e desigualdade. Estamos na batalha para que o novo mundo seja gestado com mais amor por nossas mulheres negras

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Um dos objetivos do grupo é incluir as vozes de mulheres negras na literatura @Acervo pessoal

Como vocês têm atuado neste período de pandemia?
As integrantes nas suas outras ações estão envolvidas na distribuição de cestas básicas, cestas culturais que tem presenteado a população com os livros nas cestas básicas.Também produção literária para o momento de pandemia convocando autoras negras para o autocuidado e distribuição de alimentos básicos para algumas pessoas. O importante nesse momento é a redução de danos.

No início do mês, o Instituto Marielle Franco lançou a PANE (Plataforma Antirracista nas Eleições), uma plataforma para promover a entrada de mulheres negras na política. Como você vê essa iniciativa e outras que buscam incluir as mulheres nos espaços de poder? 
Esse país é da necropolítica [conceito desenvolvido pelo filósofo camaronês Achille Mbembe, em que um conjunto de políticas define quem deve viver e quem deve morrer], racista e machista. Temos como maior exemplo de que mulheres negras que estão de peito aberto na luta são alvos, como Marielle Franco. Desde que estamos nesse país é dia de luta e luto ao mesmo tempo. Logo ações afirmativas serão necessárias para ir diminuindo essa desigualdade. Louvamos cada mulher negra que rompe com o silêncio e se coloca a disposição para mudarmos nossa realidade.

Precisamos e convocamos a todas as mulheres negras para reconstruir esse país e que possamos permanecer vivas. Estamos com o mesmo lema da Marcha das Mulheres Negras lutando pelo bem viver.

*Erro. Alteração no texto em 25 de julho (12h41): Ao contrário do publicado inicialmente, as respostas não foram de Thata Alves, membro do Sarau das Pretas, com quem a reportagem conversou. Em contato neste sábado (25), ela explicou que as respostas foram em nome do coletivo Sarau das Pretas, escritas por Elizandra Souza.

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Lucas Veloso

Jornalista, cofundador e correspondente de Guaianases desde 2014.

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