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Mamãe chega aos 71 anos cheia de graça neste 13 de maio

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Por André Santos | 13.05.2018

Publicado em 13.05.2018 | 15:05 | Alterado em 27.02.2024 | 16:58

Tempo de leitura: 3 min(s)

Com humor peculiar, Dona Val queria uma filha, mas ao me conhecer após o parto foi protocolar e riu da situação

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Dona Val me prestigiando no teatro (e rindo, claro)  — Arquivo pessoal

O Dia das Mães é celebrado no segundo domingo do mês de maio, minha mãe faz aniversário no dia 13 de maio, não raro as datas coincidem, é também o dia da abolição da escravatura; sendo minha mãe uma mulher preta, temos muito o que comemorar.

Valdemira Maria Pereira Santos completa 71 anos, e nossa história começa no ano de 1979, quando eu nasci. Naquela época não havia muitos aparelhos de ultrassom na rede pública de saúde da cidade de São Paulo, então, não sabia o sexo do bebê que estava a caminho.

Dona Val ansiava por uma menina, pois já tinha um filho homem. Meu irmão Alexandre é mais velho que eu quatro anos e oito meses, sonhava formar um casal de filhos, estava com o enxoval rosa preparado e um nome escolhido, Adriana.

Segundo narra, naquela madrugada de 25 de outubro quando o médico que fez seu parto lhe passou sorrindo o recém-nascido e disse: “olha mãe, é um menino lindo e saudável!”. Minha mãe fez cara de contrariada e mandou um protocolar “que bom”. O doutor se espantou e perguntou: “a senhora não gostou, mãe?”, ela não se fez de rogada “queria uma menina”, e riu. Sempre conta isso rindo às gargalhadas.

Minha mãe é daquelas pessoas que ri de histórias sérias e tristes e nem adianta censurá-la, ela justifica: “gente, sei que isso não é nem coisa de rir”, mas minha mãe ri! E sempre riu.

Dona Val é a típica mãe de periferia, mãe solteira, seus filhos não têm nem o nome do pai em suas certidões de nascimento. Fazia de tudo para sustentar a casa, foi metalúrgica, copeira, faxineira, diarista e feirante. Às vezes exercia de duas a três funções dessas ao mesmo tempo. Era difícil vê-la em casa, mas suas recomendações estão sempre presentes.

“Aqui em casa ou estuda ou trabalha, quero vagabundo aqui não. E se fizer coisa errada e for pra cadeia, eu não vou visitar ninguém, hein!? Por mim, fique lá. E esquece que tem mãe. Vocês sabem o que eles fazem com os novatos na cadeia?”, advertindo: “droga mata, então, já sabe, se usar droga vai morrer”.

Val chegou a São Paulo no dia 8 de setembro de 1969, numa Kombi que saíra da Bahia três dias antes. Estava muito frio e a menina de 20 anos usava saia curta e camiseta; sentiu bem a temperatura, mas estava muito feliz.

Hoje, aposentada e com casa própria, não deixa de trabalhar. Toda tarde monta sua barraca de doces em frente a UBS Jd. Fontalis, na zona norte da cidade, bairro onde moramos, e faz questão de frisar: “trabalho para não ficar em casa sem fazer nada. Aqui eu converso com todo mundo, me distraio, dou risada. Se parar enferruja”, conclui sorrindo.

Minha mãe ri e fala, fala muito, fala alto e canta o dia inteiro. Atualmente, o repertório invariavelmente é composto de Dona Onete, influenciada que foi pela última viagem do seu filho mais novo (eu, no caso) ao Pará. “Quero ir ao show dela, hein!? Qualquer dia nós vamos”, intima. As marchinhas do século passado já são tradicionais em casa, até os netos sabem cantar. “Lembro dos carnavais da minha juventude, em Lençóis”.

Leia: O dia em que minha mãe me tornou um folião

Dona Val, ou Dú para os mais chegados e parentes, é natural de um paraíso na Bahia chamado Lençóis, no coração da Chapada Diamantina. É filha de lavadeira e garimpeiro, duas das ocupações mais comuns na região, dada a abundância de rios e diamantes. “Mas a Lençóis de hoje não é mais aquela de antigamente, não consigo mais me adaptar lá”.

Totalmente adaptada à capital paulistana, sabe de cor qualquer endereço na cidade. Familiares, vizinhos e amigos sempre recorrem a ela quando precisam se locomover pela cidade e não sabem o endereço. Ela acompanha as pessoas para consultas médicas, entrevista de empregos e o que mais aparecer. “Eu gosto de ‘bater perna’, sangue bom”, fala na gíria quando quer fazer piada imitando seus filhos, e rindo, claro.

As únicas coisas que tiram o humor de minha mãe é a saudade de sua mãe já falecida, e o acidente doméstico que sofreu, quando seu sobrinho caiu de cima da escada sobre ela. Dona Val quebrou três vértebras da coluna, mas não afetou sua medula. “Quase morri”, relembra.

Super ativa e com ‘carga total’, descobriu o meio digital. Está sempre mandando mensagens de áudio para suas amigas no ‘uatezape’ e assistindo dona Onete ou vídeos de candomblé no ‘iôtube’. “Tá pensando o quê? Sou uma velha pra frente, meu”, e dá-lhe risada.

Feliz dia das mães, mãe! Feliz aniversário e Poder Para o Povo Preto!

Por André Santos, correspondente do Jd. Fontalis

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