‘Não há mulheres dignas de serem homenageadas?’, questiona moradora. Organizações sociais e coletivos mobilizaram um abaixo assinado para mudar o nome da futura maternidade que está sendo construída na cidade
Arquivo Pessoal
Por: Jessica Silva
Notícia
Publicado em 05.08.2021 | 12:21 | Alterado em 05.08.2021 | 16:50
No dicionário, maternidade é o estado ou qualidade de ser mãe ou o hospital destinado a cuidar de mulheres na hora do parto. Apesar disso, em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, um novo espaço criado na cidade para esse serviço levará o nome de um homem.
Desde 2020, vários grupos de coletivos feministas e movimentos sociais da cidade assinaram uma carta enviada ao prefeito Caio Cunha (Podemos) solicitando a mudança da denominação da nova unidade de saúde. Prevista para abril de 2022, a nova maternidade fica no distrito de Braz Cubas.
Há quase um ano, a Câmara dos Vereadores aprovou o projeto que nomeia de Manoel Bezerra de Melo a nova maternidade. O projeto foi sancionado pelo ex-prefeito Marcus Melo (PSDB), se tornando a Lei nº 7.614 de 6 de outubro de 2020.
Morto em junho do ano passado, Manoel Bezerra foi vice-prefeito de Mogi das Cruzes em 1993, mas assumiu o cargo de prefeito após a morte do eleito em 1994, ficando no cargo até 1996. Ele fundou a Universidade de Mogi das Cruzes.
No documento apresentado à prefeitura, os grupos sugerem que a mudança seja para Aline Souza Matos, médica na área da saúde mental na cidade e que morreu em janeiro deste ano devido a complicações da Covid-19.
Em 2020, uma carta já havia sido enviada à gestão do ex-prefeito Marcus Melo (PSDB) para que a lei não fosse sancionada. Porém, o tucano aprovou o texto.
A ativista social Cintia Secario, 44, criou um abaixo assinado que até o mês de agosto obteve mais de 1.550 assinaturas. “Queremos a nossa parte nas homenagens. Não há em Mogi das Cruzes mulheres dignas de terem seus nomes eternizados?”, questiona.
O abaixo-assinado cobra igualdade de gênero, reconhecimento, respeito e valorização da mulher também para receber homenagens depois da morte. “Estamos em todos os espaços, política, ciência, setor privado, mas não somos lembradas em situações como essa, onde ninguém (nem legislativo ou executivo) tiveram a sensibilidade de achar no mínimo estranho essa propositura”, conclui.
“Não é que a gente seja contra o homenageado, mas pela lógica tinha que ser uma mulher”, afirma a vereadora Inês Paz (PSOL).
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Um dos fatores que influencia nesse tipo de nomeação é a falta de representatividade das mulheres na política. Além de Inês, há apenas mais duas mulheres entre os 23 vereadores de Mogi das Cruzes. No ano passado, quando o texto foi votado era apenas uma.
Na região metropolitana, 10 das 39 cidades não elegeram nenhuma mulher para o cargo e outras 12 elegeram apenas uma. São apenas três prefeitas.
A professora aposentada Marly Barbosa Siqueira, 69, militante do coletivo Impacto Feminista, afirma que uma vez que a maternidade é local de acolhimento a futuras mães é justo que tenha um nome de mulher ligado, pelo menos, à saúde da mulher.
“É fundamental que um espaço exclusivo para mulher tenha nome de mulher porque há mulheres, e muitas, que contribuíram com a sociedade e devem ser homenageadas.”
De acordo com a mogiana, existe uma visão machista em que os homens não dão visibilidade para as mulheres que acabam por ser apagadas da história. “Nome de mulher para nova maternidade é mostrar que as mulheres existem e resistem a esse apagamento de nossas histórias, de nossas ações e que temos nomes importantes para serem homenageados também”, relata.
Em resposta a Agência Mural, a Prefeitura de Mogi das Cruzes informou que o tema foi decidido pela gestão anterior.
“Como se trata de um assunto que envolve múltiplos atores do município, qualquer medida depende de um amplo debate com a sociedade e também com os atuais vereadores”, afirma a prefeitura.
Atualmente, Mogi das Cruzes conta apenas com a Maternidade da Santa Casa de Misericórdia para a realização de partos pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Na região do Alto Tietê, outras maternidades possuem nomes femininos e ou de santas, como a maternidade Dalila Ferreira Barbosa em Arujá.
É comum também que a maioria das gestantes da região recorram a cidade de Mogi devido a infraestrutura da cidade, que é a mais populosa da região.
Arujá: Possui a maternidade Municipal Dalila Ferreira Barbosa – Telefone: 4652-7600
Biritiba Mirim: A cidade não possui maternidade, apenas o Pronto Atendimento Municipal Irio Taino – Telefone: 4692-6271
Ferraz de Vasconcelos: Possui hospital regional do estado que também realiza partos, Hospital Regional de Ferraz de Vasconcelos Dr. Osiris Florindo Coelho – Telefone: 4678-3871
Guararema: Possui a Santa Casa de Misericórdia de Guararema – Telefone: 4693-8040
Itaquaquecetuba: A cidade não possui maternidade municipal apenas estadual, o Hospital Santa Marcelina de Itaquaquecetuba – Telefone: 4506-4160
Mogi das Cruzes: Possui a maternidade da Santa Casa de Misericórdia de Mogi das Cruzes – Telefone: 4798-6701
Poá: Possui o Hospital Municipal Guido Guida e maternidade M. de Nazaré para realização de partos – Telefone: 4639-1805
Salesópolis: A cidade não possui maternidade Municipal, mas existe um hospital chamado de Santa Casa de Misericórdia Frederico Ozanan – Telefone: 4639-1805 ou 4696-3017
Santa Isabel: Possui a maternidade da Santa Casa de Misericórdia – Telefone: 4656-8700 ou 4444
Suzano: Possui a maternidade na Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Suzano – Telefone: 4745-2077 ou 2074 e 4745-2120 ou 2095, além dos números 4745-2095 e 4745-2060
Guarulhos: Possui o Hospital e Maternidade Jesus, José e Maria – Telefone: 2475-7777 (Ramal 776)
Jornalista formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, Pedagogia e Mestra em Educação pela PUC-SP. Ama fotografias, séries, filmes e não vive sem Netflix. Correspondente de Mogi das Cruzes desde 2013.
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