Candidatura coletiva tenta fazer campanha pela cidade para quebrar tabu. Última vez que uma mulher venceu foi em 1982
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Por: Halitane Rocha
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Publicado em 08.11.2020 | 20:45 | Alterado em 22.11.2021 | 16:13
Udy Santos, 38, é ativista pelos direitos LGBTQIA+. Mãe de uma adolescente de 16 anos, ela já vivenciou dificuldades com atendimento de saúde e violência sexual no transporte público contra a filha quando ela era criança.
“Somos violentadas todos os dias e a justiça lenta nunca funciona, principalmente, quando o assunto é feminino”, desabafa.
Com a ideia de levar esse tipo de pauta para o legislativo que Udy decidiu fazer parte de uma candidatura coletiva para a Câmara dos Vereadores de Cotia, na Grande São Paulo.
Ela faz parte do Mandato Coletivo Feminino (PSOL), com cinco mulheres do grupo MulherAção. Além de levar as pautas para discussão, a presença feminina entre os parlamentares quebraria um tabu de mais de 30 anos no município.
Nos últimos anos da ditadura militar, em 1982, Cotia elegeu duas mulheres para a Câmara Municipal: Gilda Pompeia (PMDB) e Sonya Gaioto (PT). Em 1985, houve eleição no país em alguns municípios, mas não em Cotia. A próxima disputa foi a de 1988 e nenhuma vereadora venceu.
De lá para cá, o município com 250 mil habitantes teve duas suplentes na casa legislativa, mas não elegeu mais nenhuma mulher. “Acreditamos e levantamos a bandeira da diversidade na Câmara Municipal, pois, sabemos que a representatividade é muito importante e significativa”, ressalta Udy.
Uma das fundadoras do MulherAção e candidata do mandato coletivo, Carolina Rubinato, 38, participou da construção dos projetos de lei popular ‘Mais Mulheres na Política’ junto ao Ministério Público de São Paulo e coletivos feministas.
Uma das propostas criadas foi para alteração da Lei Complementar 78, de 30 de dezembro de 1993, para que 50% das cadeiras legislativas sejam reservadas para as representantes femininas, sendo 25% dessas cadeiras destinadas às mulheres negras.
O projeto ainda está processo de finalização para ser apresentado no Congresso Nacional. “Acreditamos que nas eleições de 2020 será possível quebrar essa resistência. Se formos eleitas, a cidade terá cinco mulheres atuando na câmara por meio de uma única cadeira.”, diz Carolina.
Em 2018, o Mandato disputou o cargo para deputada estadual na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo e ganhou quase 13 mil votos. Foram quase 6 mil de eleitores da capital, e apenas 722 de Cotia.
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Para as candidatas, conquistar votos em âmbito estadual é mais fácil do que na municipal, especialmente por dependerem do uso das redes sociais e poucos recursos do fundo eleitoral. A desigualdade no repasse de verbas pelos partidos têm sido questionado por candidatas este ano.
“Para se ter uma ideia, até o momento, não chegou nenhum repasse de verba partidária para nossa campanha. Nossos votos são conquistados na raça e na coragem”, ressalta Carolina.
Pela cidade, os 30 anos sem uma mulher eleita é um dos principais argumentos para as candidatas que tentam chegar ao legislativo.
Na disputa deste ano, entre os 372 que se candidatam para prefeito, vice e vereador, 32% são mulheres. No entanto, não há há nenhuma candidata à prefeitura de Cotia. O prefeito e candidato à reeleição, Rogério Franco (PSD), lançou campanha com a ex-secretária municipal da Mulher, Ângela Maluf (PV), como vice-prefeita.
“Me preocupa se é por competência ou por moda.” questionou a candidata a vereadora Lyli Martins (PSC), da mesma base que o candidato a prefeito Welington Formiga (PSB).
O ex-prefeito Quinzinho Pedroso (Avante) também lançou uma mulher como vice, a filha dele, Renata Pedroso – do mesmo partido. Silvio Cabral (PSOL) tem Maria Regina (PCdoB) na dobradinha.
Produtora do podcast Próxima Parada e correspondente de Cotia desde 2018. Mãe de gêmeas e 2 gatas. Família preta e do axé… muita treta!
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