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Mulheres se unem para quebrar tabus na área de programação

Mulheres ainda são minoria na área de tecnologia e programação, mas projetos desenvolvidos ajudam a preencher lacuna

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Por: Redação

Publicado em 23.06.2017 | 6:00 | Alterado em 23.06.2017 | 6:00

Tempo de leitura: 4 min(s)

Kauany Fernandes, 13, estuda programação desde fevereiro no Code Club, uma rede de programadores voluntários criada por duas inglesas para ensinar meninas e meninos a programarem.

A garota, que cursa o 9º ano em uma escola pública no Jardim Monte Azul, zona sul da cidade, sonha em se formar em engenharia civil ou química, gosta de jogar vídeo game e saber como eles funcionam. “Eu tinha certo interesse em aprender a fazer. Quando entrei no curso estranhei um pouco, mas as coisas foram se tornando mais fáceis”, conta Kauany, que sempre recebeu o apoio da família.

O universo onde Kauany adentrou há poucos meses é predominantemente masculino. Segundo dados do ano 2016 da comunidade de programadores Stack Overflow, 92,8% das pessoas que responderam a pesquisa são homens, 5,8% são mulheres e o restante preferiu não divulgar ou escolheu a alternativa “outros”. O Stack Overflow contou com a participação de mais de 55 mil pessoas envolvidas em alguma área tecnológica em 173 países, inclusive o Brasil.

A mesma pesquisa ainda indica que o grupo de profissionais que tem mais de 5 anos de experiência é dominado pelo público masculino, 55%. Em contrapartida, entre os que possuem menos de 5 anos, 63,4% são mulheres. Neste quesito não foram considerados os estudantes.

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Kauany tem 13 anos e começou a estudar programação na ONG Code Club Brasil – foto: Priscila Pacheco

Outra pesquisa que aponta desigualdade de gênero no mercado de trabalho, de uma forma mais geral, é o IRBEM 2017, elaborada pela Rede Nossa São Paulo e pelo IBOPE Inteligência.

Nela, os moradores de São Paulo deram nota 3 para o quesito igualdade no acesso à oportunidade de trabalho e emprego. Na comparação entre as regiões, divididas de acordo com o IBOPE, a sul 2, onde Kauany mora, recebeu uma avaliação média de 2,8. Junto com a região oeste, essa é a nota mais baixa.

A engenheira de software Luciana Bezerra, 46, faz parte da minoria feminina com muitos anos de carreira na área de programação. Desde que se formou em engenharia elétrica pela USP (Universidade de São Paulo), em 1996, trabalha em grandes empresas de TI (Tecnologia da Informação), inclusive com projetos internacionais.

Voluntária no Code Club, a engenheira que dá aulas para Kauany Fernandes, afirma que não teve problemas com preconceito na faculdade ou onde trabalha por ser mulher. “Eventualmente um ou outro colega poderia ter [preconceito], mas de modo geral fui muito bem acolhida. O curso era difícil para mim como era para qualquer pessoa, não por eu ser mulher”, explica.

Egressa de um curso com poucas garotas na turma, Luciana acredita que o primeiro obstáculo para mais mulheres se interessarem por tecnologia está dentro de casa, quando dizem “isso é coisa de menina, isso é coisa de menino”, quando bloqueiam a curiosidade da garota em mexer em algo como uma caixa de ferramentas ou jogar videogame.

“Quando dentro de casa ela tem a liberdade de brincar com boneca, mas também com uma ferramenta, com computador, de ser mais curiosa em relação à tecnologia, ela tem a chance de ver se tem vocação para aquilo ou não. E, se ela tiver, começar a estudar”, diz Luciana. “Se encontrarem dificuldades, não é porque são mulheres, mas porque é difícil para todo mundo”, finaliza.

Atualmente há grupos independentes que atuam para aproximar o público feminino de atividades tecnológicas, por exemplo, Minas Programam, PrograMaria, Reprograma, Marialab e Infopreta.

Há cursos de programação e de outras ramificações de TI, além de formação de redes de diálogos sobre o espaço da mulher. O Marialab é um caso que nasceu para ser um lugar de discussão de tecnologia para mulheres.

“Discutimos mercado de trabalho, inclusão de mães e equidade de gênero. A gente também foca em projetos que dialogam com outras áreas de tecnologia, como administração de sistema”, explica a analista de sistemas Fernanda Monteiro, 31.

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Quem está em busca de cursos de programação é a consultora de marketing Viviane Resende, 33. No trabalho ela oferece produção de sites, gestão de redes sociais e consultoria. “Dependo de programador para fazer os sites. Seria bom eu aprender para entender o que ele está fazendo”, diz.

Viviane tenta estudar assistindo a tutoriais na internet, mas os considera rasos. Deseja fazer cursos presenciais, mas teme estudar somente com homens e gostaria de encontrar um espaço com foco em mulheres.

Fernanda Monteiro pensa que é necessário acolher as pessoas na tecnologia. Formada em 2007, a analista conta que na sua turma, dos que concluíram, mais de 30 eram homens e apenas três eram mulheres.

Ela, que é transexual, já se reconhecia como mulher na época, mas ainda não havia passado pelo processo de transição e era vista como homem. Logo, se encaixou nas dezenas de formandos.

Durante a graduação viu uma colega ter a sexualidade questionada por ter bom desempenho nas matérias, enquanto outra que apresentava mais dificuldades era dita como “menininha boba”.

Fernanda também chama a atenção para a falta de representatividade das mulheres negras e trans. Além de o fato de que em empresas menores as políticas de diversidades são mais fracas ou inexistentes.

Por fim, relembra que o ENIAC (Computador e Integrador Numérico Eletrônico), o primeiro computador digital totalmente eletrônico, foi programado por seis mulheres durante a Segunda Guerra Mundial, e que Margaret  Hamilton foi a mulher que, além de programar a engenharia do foguete, também projetou todo o pouso da Apollo 11. Para Fernanda, se muitas mulheres brancas passam despercebidas pela história da computação, negras e trans são mais ignoradas ainda.

Foto Wocintech Stock Flickr CCBY

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