Covidata foi criado na Universidade Federal do ABC e faz triagem de possíveis casos; em Diadema, moradores criam canal para mostrar avanço dos casos no município
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Por: Laiza Lopes
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Publicado em 11.06.2020 | 17:57 | Alterado em 27.02.2024 | 16:22
Covidata foi criado na Universidade Federal do ABC e faz triagem de possíveis casos; em Diadema, moradores criam canal para mostrar avanço dos casos no município
Tempo de leitura: 4 min(s)A região do Grande ABC detém mais de 10 mil dos 156 mil casos de Covid-19 de todo o Estado de São Paulo, segundo números de 10 de junho. No entanto, o número tende a ser maior pela dificuldade de testagem nos municípios que concentram mais de 2 milhões de habitantes.
Para tentar mapear a situação da região, alguns pesquisadores que vivem nas cidades de Santo André e Diadema têm criado plataformas para auxiliar na localização de pacientes que foram contagiados pelo novo coronavírus.
Uma das plataformas é a COVIData. Coordenada pela docente de engenharia biomédica, Fernanda Nascimento Almeida, 41, e seis alunos da UFABC (Universidade Federal do ABC), a ferramenta foi desenvolvida logo no início da pandemia no país e lançada no final de abril.
A ideia da COVIData é fazer uma triagem e identificar suspeitos de casos de Covid-19, para assim, reportar às prefeituras das sete cidades do ABC. Com as informações, a respectiva administração pode entrarem em contato com o suspeito de contaminação para realizar teleatendimento.
“O sistema classifica em nível de probabilidade de ter a doença: baixo, médio e alto de acordo com os sintomas. Conseguimos captar localização geográfica em tempo real, mas todos os dados são anonimizados”, explica Fernanda.
A prefeitura só é notificada com os dados do suspeito de contaminação se o usuário permitir, pois há a possibilidade de se cadastrar em outra tela para que a administração da cidade entre em contato.
Desde o lançamento até o início de junho a plataforma já teve mais de 8.500 triagens. A base de dados fica disponível neste link em que é possível verificar os casos suspeitos nas regiões por dispersão de calor.
“Essa distribuição para as prefeituras é importante para que elas monitorem e identifiquem casos que mereçam atenção”, diz Fernanda. “Passamos um relatório para todas as prefeituras sobre as triagens feitas também, dá para ver uma certa movimentação de dispersão da doença em determinadas regiões da cidade”.
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Os números da COVIData não são contabilizados nos registros oficiais de suspeitos dos municípios, pois depende dos agentes de saúde de cada local entrar em contato com a população para realizar os procedimentos e identificar os casos. O sistema de triagem da COVIData é ponte para esse processo.
Das sete cidades da região do Grande ABC, Diadema (1.739 casos), Santo André (3.942), São Bernardo do Campo (2.791) e São Caetano do Sul (1.381) figuram entre as 10 do Estado com maior número de casos da Covid-19
A ideia é que depois da fase de triagem, a ferramenta seja utilizada para o monitoramento. “Queremos fazer com que o projeto alcance as periferias e pessoas com menos condições financeiras.”, comenta a coordenadora, que mora em Santo André.
FALTA DE TRANSPARÊNCIA
Apesar do trabalho de triagem da plataforma, algumas cidades apresentam desafios em apresentar os dados. Rayane Vieira, 24, é moradora de Diadema e faz mestrado de políticas públicas na UFABC.
Ela e Lucas Falcão, 25, mestre em economia, começaram por conta própria a fazer gráficos interativos sobre como a doença vem avançando ao longo do tempo em Diadema e em outras cidades da região. O material fica disponível no Instagram de Rayane.
“A prefeitura divulga os casos em um boletim, mas queríamos ver ao longo do tempo como isso é feito”, diz Vieira. “Procuramos os números brutos, de todos os dias, só que é super difícil de achar no site, tivemos que favoritar o link pois não conseguíamos chegar no caminho do site”.
Quando conseguiram as informações, no site da prefeitura de Diadema, eles se depararam com um novo problema: o formato em pdf, que dificulta o trabalho de quem mexe com dados. “Tivemos que baixar e colocar na mão. Pedimos os números em arquivo excel no portal da Transparência, mas nada de resposta”, afirma a mestranda em políticas públicas.
Diadema contabiliza 1.739 casos confirmados de coronavírus e 159 óbitos, segundo dados de 10 de junho. É o terceiro município do ABC com mais casos, ficando atrás de Santo André e São Bernardo do Campo.
Os estudantes Rayane e Lucas tentaram contato com a Prefeitura de Diadema para ajudar na sistematização dos dados, porém, não tiveram retorno.
“Precisamos pensar em um jeito simples para mostrar os dados. Quando eu estava na graduação, discutimos muito essa questão da universidade ter uma proximidade com as prefeituras do ABC”, conta Rayane.
POUCOS TESTES
A integração das informações é um desafio para a região. Recentemente, o Consórcio Intermunicipal do Grande ABC lançou o site CIGABC – Coronavírus. De acordo com o mapeamento do dia 10 de junho, a região possui mais de 10 mil casos e 775 mortes confirmadas.
Segundo o Consórcio Intermunicipal, as realidades de cada município impactam nas ações desenvolvidas para combate ao vírus.
De acordo com as assessorias, Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul somam mais de 51 mil testes na população – cerca de 17 mil em cada município.
Já a cidade de Mauá testou cerca de 2.000 pessoas – a assessoria não confirmou o número de testes, mas informou que deve-se considerar os casos confirmados, descartados e aguardando. O município registrou 514 pessoas infectadas até 10 de junho.
Na região, Rio Grande da Serra não possui nenhum leito de UTI e tem 98 pessoas com coronavírus. Pacientes em casos graves são transferidos para outras cidades. Ribeirão Pires confirmou 245 casos, 46 internações e 24 óbitos.
Jornalista, especializada em direitos humanos. É gateira, tem um relacionamento sério com a comida e ama conhecer novos lugares. Correspondente de Mauá desde 2015.
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