Aos 25 anos, ele é o criador do Moradigna. Ideia nasceu a partir da vivência dele no Jardim Pantanal, uma das áreas mais afetadas por alagamentos na periferia de SP
Por: Patrícia Vilas Boas | Cleberson Santos
Notícia
Publicado em 08.12.2020 | 7:52 | Alterado em 22.11.2021 | 16:11
As enchentes na região do extremo leste de São Paulo marcaram a infância de Matheus Cardoso. Nascido e criado no Jardim Pantanal, o atual empresário enxergou nas dificuldades um propósito: oferecer ferramentas que ajudem pessoas e solucionem problemas.
Foi entre os 21 a 22 anos que o até então estudante de engenharia decidiu fundar o Moradigna, uma empresa focada em habitação que viabiliza o processo de reforma residencial para pessoas de baixa renda. “Eu vivi e conhecia aquele problema há muito tempo”, conta.
Ele estima que já cerca de 600 casas já foram reformadas desde a fundação da empresa, em 2018, no que chama de negócio de impacto social.
O projeto começou do zero com a ideia de oferecer reformas para residências com um preço menor e possibilidade de parcelamento. O trabalho envolve orçamento, crédito e realização da obra. De porta em porta que o empresário conseguiu conquistar uma clientela.
Enquanto ‘tocava’ o Moradigna, Matheus também lidava com a faculdade em tempo integral e com o estágio, que era a principal fonte de renda. Bolsista da Universidade Mackenzie, vivia uma rotina dura.
Tinham dias na semana que começavam antes do sol nascer e só terminavam no dia seguinte. “Era muito puxado”, conta. Começava às 3h quando saía de São Miguel Paulista para ir até a Vila Olímpia, na zona sul, onde fazia estágio. Depois, ia para a universidade Mackenzie, em Higienópolis, com aulas até 23h, para logo em seguida voltar a casa.
Foi com a oportunidade de colaborar remotamente para a empresa Fábrica de Criatividade — onde atualmente ele é sócio-consultor –, sediada no Capão Redondo, que o jovem conseguiu focar no progresso do Moradigna e transformar o projeto social no que é hoje.
“Começar como auxiliar e me tornar sócio, o primeiro sócio-consultor, o sócio-consultor mais jovem da empresa, pra mim é uma conquista”, diz.
Matheus entrou em 2019 na lista da Forbes Under 30 e foi palestrante da conferência global TEDx Talks no Brasil, para falar sobre desigualdade social. Mais recentemente, o projeto foi premiado no Menos30 Fest, festival de inovação e empreendedorismo, em uma batalha contra várias outras start-ups pelo Brasil.
Por outro lado, ele evita o que chama de discurso da meritocracia. “A gente sabe que, no osso contexto periférico, dessas pessoas que têm menos oportunidades, isso não é válido”, afirma.
“Tive privilégios que fizeram com que eu chegasse onde eu cheguei. Nunca me preocupei em casa se ia ter arroz e feijão na mesa, eu sabia que minha mãe e meu pai me proveriam”, conta.
“Se as pessoas tivessem as mesmas oportunidades e os mesmos privilégios, com certeza elas chegariam tanto quanto eu cheguei, ou mais”, diz.
*Esta reportagem faz parte da série Crias da Quebrada, com a história de dez jovens das periferias de São Paulo
Jornalista em formação. Curiosa, gosta de sol, praia e um bom livro nas horas vagas. Correspondente da Vila Curuçá desde 2019.
Correspondente do Capão Redondo desde 2019. Do jornalismo esportivo, apesar de não saber chutar uma bola. Ama playlists aleatórias e tenta ser nerd, apesar das visitas aos streamings e livros estarem cada vez mais raras.
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.
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