As enchentes na região do extremo leste de São Paulo marcaram a infância de Matheus Cardoso. Nascido e criado no Jardim Pantanal, o atual empresário enxergou nas dificuldades um propósito: oferecer ferramentas que ajudem pessoas e solucionem problemas.
Foi entre os 21 a 22 anos que o até então estudante de engenharia decidiu fundar o Moradigna, uma empresa focada em habitação que viabiliza o processo de reforma residencial para pessoas de baixa renda. “Eu vivi e conhecia aquele problema há muito tempo”, conta.
Ele estima que já cerca de 600 casas já foram reformadas desde a fundação da empresa, em 2018, no que chama de negócio de impacto social.
O projeto começou do zero com a ideia de oferecer reformas para residências com um preço menor e possibilidade de parcelamento. O trabalho envolve orçamento, crédito e realização da obra. De porta em porta que o empresário conseguiu conquistar uma clientela.
Enquanto ‘tocava’ o Moradigna, Matheus também lidava com a faculdade em tempo integral e com o estágio, que era a principal fonte de renda. Bolsista da Universidade Mackenzie, vivia uma rotina dura.
Tinham dias na semana que começavam antes do sol nascer e só terminavam no dia seguinte. “Era muito puxado”, conta. Começava às 3h quando saía de São Miguel Paulista para ir até a Vila Olímpia, na zona sul, onde fazia estágio. Depois, ia para a universidade Mackenzie, em Higienópolis, com aulas até 23h, para logo em seguida voltar a casa.
Foi com a oportunidade de colaborar remotamente para a empresa Fábrica de Criatividade — onde atualmente ele é sócio-consultor –, sediada no Capão Redondo, que o jovem conseguiu focar no progresso do Moradigna e transformar o projeto social no que é hoje.
“Começar como auxiliar e me tornar sócio, o primeiro sócio-consultor, o sócio-consultor mais jovem da empresa, pra mim é uma conquista”, diz.
Matheus entrou em 2019 na lista da Forbes Under 30 e foi palestrante da conferência global TEDx Talks no Brasil, para falar sobre desigualdade social. Mais recentemente, o projeto foi premiado no Menos30 Fest, festival de inovação e empreendedorismo, em uma batalha contra várias outras start-ups pelo Brasil.
Por outro lado, ele evita o que chama de discurso da meritocracia. “A gente sabe que, no osso contexto periférico, dessas pessoas que têm menos oportunidades, isso não é válido”, afirma.
“Tive privilégios que fizeram com que eu chegasse onde eu cheguei. Nunca me preocupei em casa se ia ter arroz e feijão na mesa, eu sabia que minha mãe e meu pai me proveriam”, conta.
“Se as pessoas tivessem as mesmas oportunidades e os mesmos privilégios, com certeza elas chegariam tanto quanto eu cheguei, ou mais”, diz.
*Esta reportagem faz parte da série Crias da Quebrada, com a história de dez jovens das periferias de São Paulo