Por: Isabela Alves
Notícia
Publicado em 28.03.2024 | 19:02 | Alterado em 29.03.2024 | 9:04
Adélia Prates, 77, é ativista do Grajaú, distrito localizado no extremo sul de São Paulo. Nascida em Valparaíso, ela chegou a São Paulo aos 19 anos, época em que atuava como trabalhadora doméstica.
Em 1972, era cozinheira em Higienópolis, no centro da cidade. A família que a contratou não a registrou formalmente por ser analfabeta. Sem conhecimento do momento histórico que vivia, ela teve o primeiro contato com a repressão da ditadura enquanto estava no serviço.
“Trabalhava na rua Alagoas para uma família estrangeira. Um dia, estava sozinha com as crianças, bateram muito forte e quebraram a porta”, lembra.
Cinco policiais fardados portando metralhadoras fizeram a inspeção no apartamento e reviraram tudo: tiraram todas as gavetas e os aparelhos da tomada, e procuraram por documentos. “Nós somos da Polícia Militar, fica quietinha e não fala nada”, disse um deles enquanto Adélia segurava as duas crianças.
Após o episódio, a família se refugiou em outro país. Sem emprego, Adélia se viu obrigada a se casar para ter melhores condições de vida. Se mudou para Santana e procurou uma escola para estudar. Adélia relembra que a ditadura continuava forte, com os carros e polícias fazendo a repressão nas ruas.
Ainda no início da década de 1970, o marido dela comprou um terreno no Grajaú e a família começou ali uma nova vida. Começaram a frequentar a Igreja de Nossa Senhora Aparecida, onde conheceram o padre Luís que trabalhava em prol dos mais pobres e disponibilizou o espaço da paróquia para promover encontros em busca de melhorias no distrito.
“Nós tínhamos que ser muito cautelosos nas nossas reuniões, não podia acender luz nenhuma. Falávamos sobre a luta pelos nossos direitos à saúde, moradia e quando que a ditadura iria acabar”, conta.
A polícia descobriu que existia um encontro de mulheres e passavam com o farol abaixado nas ruas. O grupo ficava em silêncio. Na hora de ir embora, ia saindo uma pessoa por vez e vendo a movimentação na rua para que todos ficassem em segurança.
O espaço também começou a promover acolhimento para as famílias que viviam nas casas de alvenaria e que foram destruídas pela polícia no período da noite.
Posteriormente, as mesmas mulheres se uniram para fundar a Associação de Mulheres do Grajaú – que até os dias de hoje promove cursos, facilita o acesso à saúde ginecológica e presta apoio jurídico para mulheres vítimas de violência.
Graduada em jornalismo pela Universidade Anhembi Morumbi (UAM) e pós graduanda em Mídia, Informação e Cultura pelo Celacc/USP. Homenageada no 1° Prêmio Neusa Maria de Jornalismo. Correspondente do Grajaú desde 2021.
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.
Se você quer saber como republicar nosso conteúdo, seja ele texto, foto, arte, vídeo, áudio, no seu meio, escreva pra gente.
Envie uma mensagem para [email protected]