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Rafael Shouz atua no rap e na política para levar a 'favela mais longe'

Formado em gestão pública, ele criou a Batalha da Inglesa, em Cidade Ademar, e disputou as eleições deste ano para a Câmara de São Paulo

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Por: Patrícia Vilas Boas | Cleberson Santos

Notícia

Publicado em 08.12.2020 | 7:31 | Alterado em 07.12.2020 | 20:01

Tempo de leitura: 3 min(s)

“O Rafa de hoje busca impacto social para conseguir mudar o sistema para melhor”. É assim que Rafael de Almeida Silva, o Rafael Shouz, se define. 

Ele é morador da Vila Inglesa, na região da Cidade Ademar, zona sul de São Paulo, e tem 25 anos. Esse desejo por impacto social permeia todas as atividades do dia a dia dele: na batalha de rap que organiza, nos vídeos que produz e na atuação política.

Rafael é formado em Gestão Pública pela USP (Universidade de São Paulo) e é responsável pela Batalha da Inglesa, de rap, no bairro em que vive. Também trabalha com audiovisual, produção de clipes de rap e vídeos de formação política em seu perfil no Instagram, que hoje conta com mais de 7.800 seguidores.

Apesar dessa bagagem, a relação de Rafael com a escola nunca foi das melhores. Não sentia interesse por aquele espaço e pela forma como o conteúdo era apresentado. Essa relação começou a mudar por volta dos 19 anos, quando, depois de três anos trabalhando e juntando dinheiro, fez um intercâmbio de oito meses no Canadá.

“Foi um divisor de águas. Foi lá que descobri o que é a USP, não sabia, nunca tinha chegado essa informação de que era de graça. Além de ver que lá eles tinham políticas públicas ótimas”, relembra Rafael. 

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Rafael tem 25 anos e faz vídeos sobre formação política no Instagram

Ele diz acreditar que se não fosse por essa experiência no intercâmbio não teria feito nenhum dos vários projetos que toca atualmente.

“Provavelmente continuaria sendo um menino que gostava de andar de skate, ia procurar outra profissão, não ia querer mexer com política e ia continuar na mesma. Mudei muito em pouco tempo, com certeza”.

De volta ao Brasil e ciente de que queria entrar na USP, Rafael participou de um cursinho popular, hoje uma das suas principais bandeiras, para estudar para o vestibular. Segundo ele, os estudos no Núcleo de Consciência Negra “dividiu mais as águas que já estavam divididas”.

“Os professores se preocupavam em falar sobre opressão policial, a importância social do capital, das mudanças sociais. Se não fosse pelo cursinho popular, provavelmente não teria entrado na USP. Tinha acabado de chegar de viagem e não estava trabalhando”.

A soma da experiência do intercâmbio com o cursinho resultaram na sua escolha profissional, o curso de gestão pública. Ele enxerga ser apenas por meio da política a possibilidade de gerar o impacto real que espera ver na vida das pessoas:

“Para mim, que quero fazer a mudança social, que quero dar mais oportunidades para as pessoas da minha vila, para as pessoas periféricas, se eu não entrasse na política eu acho que não conseguiria fazer tanta mudança assim”.

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Rafael vive em Cidade Ademar, na zona sul da capital

No começo de 2020, o foco de Rafael estava na Brazil Conference, evento sobre política brasileira que aconteceria na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Ele faria parte da equipe de jovens estudantes que produziria vídeos sobre o evento. Porém, veio a pandemia e o evento foi adiado.

Durante o período da quarentena, Rafa promoveu edições online da Batalha da Inglesa e  lançou o perfil Vote Perifa, para divulgar candidaturas de pessoas das periferias. Também lançou a própria candidatura a vereador por São Paulo.

“Foi uma experiência muito agregadora. Vi que de fato tem muita gente querendo ver pessoas novas na política, mas também vi que tem muita gente que não quer saber, que tem ranço. Aprendi o que dá certo e o que não dá numa campanha”, afirma Shouz, que alcançou 948 votos no pleito municipal.

Mesmo com o tanto de coisas que já conseguiu fazer e do banho de água fria que tomou na primeira tentativa eleitoral, Rafael seguirá atuando na política e continua sonhando alto a respeito do futuro: a meta é uma candidatura à presidência ou o Ministério da Cultura. 

“Quero conseguir ser reconhecido como Aristóteles, sabe? Passam-se 2400 anos e a gente ainda fala, ainda tem resquícios sobre. Esse é um sonho bem grande”.

*Esta reportagem faz parte da série Crias da Quebrada, com a história de dez jovens das periferias de São Paulo

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Patrícia Vilas Boas

Jornalista em formação. Curiosa, gosta de sol, praia e um bom livro nas horas vagas. Correspondente da Vila Curuçá desde 2019.

Cleberson Santos

Correspondente do Capão Redondo desde 2019. Do jornalismo esportivo, apesar de não saber chutar uma bola. Ama playlists aleatórias e tenta ser nerd, apesar das visitas aos streamings e livros estarem cada vez mais raras.

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