Utilização de plataformas e fundos emergenciais tentam amenizar impacto da crise com a pandemia da Covid-19
Acervo pessoal
Por: Lucas Rodrigues
Notícia
Publicado em 29.07.2020 | 11:13 | Alterado em 29.07.2020 | 11:35
Rodolfo Silveira Bueno Cantarin, 35, é proprietário da hamburgueria ‘Raro Burger & Friends’. O estabelecimento atende na Chácara Santo Antônio, na zona sul de São Paulo. Com ponto fixo e dependente dos eventos e vendas presenciais, a hamburgueria viu o lucro despencar quando fechou as portas em razão da quarentena. O financiamento coletivo foi a única opção.
“Não tinha certeza do retorno que teria. Foi um tiro no escuro”, conta
Apesar do receio, o retorno foi positivo. Com o engajamento dos amigos e clientes, a campanha arrecadou mais de R$ 7.000. A estratégia foi oferecer vouchers. No futuro, quem os adquiriu poderá comprar determinadas porções. Assim, Cantarin conseguiu levantar uma verba durante o período de pouco movimento na hamburgueria.
A opção utilizada por Cantarin foi uma das tentativas de moradores das periferias que têm pequenos negócios de tentar driblar o momento difícil causado pela pandemia do novo coronavírus.
No período, empreendedores das periferias buscaram auxílio em iniciativas de apoio social, como fundos de solidariedade e financiamento coletivo (ferramenta utilizada para levantar doações para iniciativas e projetos sociais). Entretanto, a arrecadação ainda é vista com ceticismo.
Cantarin afirma que foi difícil. A campanha não atraiu novos clientes e a maior parte do dinheiro foi arrecadada nos primeiros 10 dias. “Basicamente todos os apoiadores foram amigos, familiares e clientes” afirma. Ele usou a plataforma de financiamento Kickante para realizar a campanha e as redes sociais para divulgar a ação.
Parte da verba será usada para desenvolver um aplicativo próprio. O objetivo é reduzir a dependência de aplicativos de entrega. Eles fazem a conexão entre a hamburgueria e os clientes, mas ficam com grande parte do lucro.
Com 12 anos de existência, o grupo de teatro ‘Refinaria Teatral’ também buscou ajuda no financiamento coletivo para não perder a sede própria, que é financiada. O coletivo atua há oito anos na Vila Aurora, zona leste da capital.
As apresentações, vendas de cursos e participações em editais, constituem a principal fonte de renda do grupo. Mas, em quarentena desde março, os recursos desapareceram, os meios para obtê-los foram suprimidos e as dívidas acomularam.
“As dívidas com o espaço continuam crescendo. Por causa disso, corremos o risco de perder nossa sede que também é moradia de alguns artistas do grupo”, conta Daniel Alves Brasil, 36, diretor da ‘Refinaria Teatral’.
Para alcançar a meta da campanha, o coletivo elaborou diversas estratégias. Camisetas do grupo e cursos de treinamento para atores estavam entre as recompensas. Outra estratégia foi apresentar o espaço cultural, por meio de vídeos, ao público.
“Produzimos um vídeo curto com relatos de alguns artistas nacionais e internacionais e alguns registros de atividades e divulgamos nas redes sociais do grupo”, conta Brasil.
A campanha, realizada na plataforma Catarse, arrecadou pouco mais de R$ 5.000, 34% da meta, cujo objetivo era levantar R$ 15 mil. “Foi bem trabalhoso e difícil ao ponto de não conseguirmos alcançar 50% da meta”, relata o diretor.
Ele atribui a dificuldade a fatores como a própria pandemia e também a rede de contatos que é composta, principalmente, por artistas de cena que até poderiam doar, mas também foram afetados pela crise da Covid-19.
O dinheiro arrecadado será usado para pagar as contas básicas da casa, mas a situação ainda é difícil. “Tudo vai depender das respostas dos projetos que enviamos, das vendas que estamos negociando e de outros projetos com parceiros”, resume o diretor.
FUNDO EMERGENCIAL
Sem conseguir vender seus produtos, a artesã Maria Aparecida, 49, foi surpreendida pela ligação de Thiago Vinícius de Paula, 31, presidente da agência Solano Trindade, integrante da coalizão Éditodos. Ele ligou para informar que ela havia sido escolhida para receber apoio. “Foi uma luz em meio ao desespero”, conta a artesã.
Aparecida é dona da marca ‘Criativitude – Arte, Artesanato e Atitude’, especializada na produção de joias e acessórios em macramê, prata e cobre. Ela pagou algumas dívidas e investiu parte da verba na compra de tecido.
Com o material, produziu máscaras e protetores faciais de acetato. “Alguns eu vendo, outros doo para quem precisa”, afirma.
Outro negócio beneficiado foi o de Marina Faustino, 37. Ela é idealizadora da marca ‘Marina Faustino Turbantes’ e tinha mudado recentemente para um espaço maior, em que pudesse montar a sua loja. Mas o local não foi inaugurado. A Covid-19 não permitiu. Com eventos e feiras cancelados por causa da quarentena, o lucro desapareceu.
Faustino jamais enfrentou situação semelhante. “Veio na melhor hora”, diz. Com o dinheiro, pagou algumas despesas básicas relacionadas ao negócio.
A coalizão ‘Éditodos’, idealizadora do fundo, surgiu em 2017 e, atualmente, é formada por seis organizações sociais em quatro estados brasileiros. Em São Paulo, AfroBusiness, Agência Solano Trindade e Pretahub fazem parte da iniciativa.
Neste ano, devido a pandemia, a coalizão lançou, em março, o fundo emergencial. Aparecida e Faustino integraram o primeiro ciclo de aportes do fundo emergencial, que beneficiou 64 mulheres negras com um auxílio de R$ 2.000.
Atualmente, o valor do auxílio é R$ 1.500 e busca ajudar 500 empreendedoras. Para alcançar a meta, a coalizão espera obter R$ 1 milhão junto às empresas e órgãos de fomento nacional e internacional. Desse valor, 80% já foi arrecadado.
Para solicitar a verba é necessário preencher alguns requisitos, como o envio de uma proposta e a participação de processos formativos de alguma das organizações que integram a coalizão.
SERVIÇOS
Fundo Emergencial ‘ÉDITODOS’ | Para saber mais ou solicitar o fundo emergencial acesse o site da coalizão. (http://www.fundoeditodos.com.br/)
Refinaria Teatral | A campanha de arrecadação do grupo encerrou, mas para quem deseja fazer alguma doação para a companhia, a Agência Mural disponibiliza os dados bancários da instituição.
Dados bancários | Banco do Brasil | Agência: 3076-7 | Conta poupança: 105945-9 | Nome: Daniel Alves Szcypula Brasil
Jornalista apaixonado por jornalismo de dados e pela LAI. Correspondente do Jardim Rosana desde 2019.
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.
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