Nas periferias, entidades defendem que realização do exame nesse momento pode acentuar a desigualdade entre estudantes que buscam ensino superior
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Por: Lucas Veloso
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Publicado em 14.05.2020 | 17:52 | Alterado em 15.05.2020 | 11:19
Nas periferias, entidades defendem que realização do exame nesse momento pode acentuar a desigualdade entre estudantes que buscam ensino superior
Tempo de leitura: 3 min(s)“A gente tem que lutar pra ter um arroz e feijão no prato, imagina pra comprar um livro que vai cair no Enem”. A frase é de Damares Alves dos Santos, 18, moradora de Monte Belo, bairro de Itaquaquecetuba, cidade na Grande São Paulo.
Com o ensino médio completo, está prestes a fazer a segunda tentativa no Exame Nacional de Ensino Médio. Ela relata preocupação com a data do exame e com a falta de acesso aos estudos. “Não é assim tão fácil, infelizmente. Não é todo mundo que tem acesso à educação, sabe? Isso frustra muito”.
Isolada fisicamente por conta da pandemia, Damares elenca as dificuldades diárias que enfrenta para conseguir manter a rotina de estudos. “Como menina preta, moradora de quebrada, sem condições de pagar cursinho, eu seguia um cronograma, mas com essa situação de pandemia, as coisas pioraram”, comenta.
A realização do exame se tornou uma pauta polêmica devido à pandemia do novo coronavírus, que afetou a rotina de estudantes no país. Nas periferias de São Paulo, estudantes defendem o adiamento da prova, marcada para novembro. Segundo o cronograma do governo, as inscrições estão abertas e o prazo termina em 22 de maio.
No ano passado, o estado de São Paulo foi o que teve mais inscritos, com 816 mil estudantes. O valor representou 16% do total no país.
Estudante da Uneafro, rede de cursinhos populares, Damares diz que o desemprego na família, a pressão de ficar em casa e a incerteza do Enem são fatores que prejudicam o desempenho. “Fica difícil superar tudo isso quando o Ministério da Educação nem está preocupado com a gente, sabe?”.
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O ministro da educação, Abraham Weintraub, escolheu o Twitter para justificar a manutenção. “Sei que o coronavírus atrapalha um pouco, mas atrapalha todo mundo, como é uma competição, tá justo”.
Além disso, desde o dia 4 de maio, o Ministério da Educação aposta em publicidade para avisar que o exame não será adiado. Um dos comerciais veiculados na tevê aberta diz que o Enem 2020 não será adiado e que as inscrições estarão abertas em breve.
No filme, os atores afirmam que não se pode perder uma nova geração de profissionais e convidam os alunos a estudarem ‘de qualquer lugar, de diferentes formas, pelos livros, pela internet, com a ajuda a distância dos professores’.
De Itaquaquecetuba, Damares critica a ideia e diz que a ‘competição’ não está justa para todos. “Ele [o ministro] soltou um comercial de pessoas falando para gente não se desesperar e continuar estudando, mas na imagem, a maioria é gente branca, com material sofisticado”, pontua.
A dificuldade de acesso à internet é uma das preocupações dela. Hoje, ela consegue dados móveis no celular, mas sem renda, não sabe como poderá pagar nas próximas semanas. Para ela, a pressão enfrentada pelos alunos da periferia é um fator negativo rumo à graduação.
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) admitiu pela primeira vez na quarta-feira (13) que pode haver atraso, mas que a prova deve ser feita ainda em 2020.
Para Damares, o Estado não está tomando as melhores providências em prol dos estudantes mais pobres. “Evidencia que a educação é mercadoria no Brasil”, pontua. “Existe a falsa ilusão que é para todo mundo, mas não é bem assim”.
‘CANCELA O ENEM’
Entidades estudantis e redes de cursinhos populares promovem nas redes sociais uma campanha pelo adiamento do Enem. “Num Brasil em que escolas particulares mantêm seus programas de ensino via internet e escolas públicas ficam paralisadas, manter o calendário do Enem é retroceder na luta por um ensino superior plural e democrático”, diz o texto.
Na plataforma “Sem aula, sem Enem”, estudantes conseguem criar campanhas de pressão direta em deputados federais em prol adiamento da prova. Com um mapa do Brasil, o site indica que mais de 4 mil escolas aderiram à iniciativa online.
O Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação), a Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) e a UNE (União Nacional dos Estudantes) também se posicionaram sobre a questão. As organizações lançaram um abaixo assinado online e a hashtag #ADIAENEM.
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