Estudante relata trajetória após demissão na quarentena, as decisões que teve de tomar no fim do estágio e a necessidade de dizer "não"
Por: Ueslen Alencar
Opinião
Publicado em 07.07.2022 | 17:13 | Alterado em 07.07.2022 | 13:35
Assim que a pandemia chegou no país, em março de 2020, eu estava trabalhando em uma empresa do ramo de estacionamentos há mais de seis anos. Fazia um pouco de tudo lá dentro: cuidava de toda a parte administrativa, do RH e do financeiro, treinava as pessoas que vinham trabalhar no caixa, tirava dúvidas referentes a pagamentos e comprava até uniformes.
Como a maior parte das unidades ficava em shoppings, faculdades, lojas e prédios corporativos, muitas foram fechadas por causa da quarentena causada pela Covid-19. Como não possuíamos mais clientes, 50% dos empregados tiveram de ser dispensados.
Eu fui um dos demitidos. Nesse tempo que eu fiquei isolado em casa, refleti muito sobre minha vida e o que eu pretendia fazer daqui para a frente, quais eram minhas metas e objetivos.
Decidi fazer uma faculdade de Gestão de Recursos Humanos, já que era uma área que me identificava e já fazia algumas funções dentro da área.
Meu próximo passo era estagiar. Mesmo sabendo que iria ganhar menos do que ganhava antes, queria muito aprender mais sobre a área. Então eu fui à caça de alguns estágios.
Achei um que me interessou bastante. Apenas uma semana depois da entrevista, comecei a estagiar numa empresa que tinha 3.000 funcionários, no departamento de folha de pagamento. Confesso que estava amando, pois tinha certeza de que ali iria adquirir muito conhecimento, e iria crescer.
Tive que comprar uma moto, porque o local do estágio era bem longe de onde eu morava.
Em menos de três meses eu já estava dando treinamento no auditório da empresa sobre ponto eletrônico, como tratar e fazer lançamentos, tirar espelho de ponto e relatório de divergências…um conteúdo que produzi sozinho.
Cada dia que passava continuava dando o meu melhor, sempre focado e dedicado, buscando eficiência e aprendizado, entregando tudo dentro dos períodos determinados, dando suporte aos outros setores.
No final de março, com meu contrato de estágio para terminar, estava empolgado e ansioso, certo que meu supervisor ia me chamar para falar sobre minha efetivação.
Dois dias antes de meu contrato de estágio terminar, enquanto estava ajudando a recrutadora em algumas atividades, ela me chamou de canto e me fez uma proposta que ficava muito abaixo do que esperava. Naquele dia fui para casa bem triste.
Ainda tentei conversar para entender, nos dias que faltavam, se havia alguma possibilidade de negociação, e nada. Decidi mesmo não aceitar e ir embora.
Em abril, consegui uma proposta de trabalho em uma outra empresa, para ganhar quase o dobro. Na hora de dizer não, refleti muito, mas ficou em mim o aprendizado. Se não me valorizar, se aceitar menos do que mereço, que meu trabalho, meus estudos, meu esforço valem, como é que vou chegar aonde quero chegar?
Recusei uma proposta, e encontrei uma posição onde estou aprendendo muito mais e me desenvolvendo todos os dias. E estou feliz.
Estudante de gestão de Recursos Humanos na Universidade Paulista - UNIP e morador do bairro Jardim Amaralina, na zona oeste de São Paulo
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