Segunda-feira, 22 de setembro de 2025. Uma e trinta e cinco da tarde. Dia nublado e chuvoso em toda Grande São Paulo. O alerta extremo da Defesa Civil do estado foi emitido pelas operadoras de telefonia celular para os milhares de equipamentos que tinham a localização em regiões de alto risco para tempestade, com risco de queda de árvores e destelhamento.
Em casa, já havia desconfiança. Oscilações na energia elétrica desde a noite de domingo e durante a manhã já indicavam: problemas seriam enfrentados. Estava em casa, protegido, mas provavelmente muitos não. Foram cerca de vinte minutos de uma forte chuva aqui no Colinas da Anhanguera, bairro de Santana de Parnaíba, na região metropolitana.
Da sala de casa observava. Vi a sacada do sobrado ser tomada por água com as rajadas. A cobertura e a porta de correr que dá acesso resistiram. O chão completamente alagado. Em frente, um prédio comercial com dois andares. As janelas de vidro refletiam a força com que o vento movimentava as telhas de amianto.
Obra de desassoreamento e limpeza do córrego na rua José Aprígio da Cruz Filho impediu que o ponto transbordasse desta vez @Matheus Nascimento/Agência Mural
Na minha rua, em uma região de declive, já não se via mais nada. Para quem estava fora pior. Nas casas localizadas na região mais alta, próximo do postinho de saúde e do colégio, o estrago foi maior. Destelhamento, janelas quebradas, paredes danificadas, galhos de árvores e folhas espalhadas pelas calçadas e quintais.
Duas e meia. A tempestade cessa de vez. A energia cai uma, duas, e, na terceira vez, o fornecimento é interrompido. Na ausência de wi-fi, o relato de quem estava na rua é de que o sinal de internet móvel de diversas operadoras oscilava. E quem estava trabalhando ou em casa sentiu que a crise estava instalada na região.
Cajamar desapareceu em meio a névoa branca de água e vento. Três e meia. 93% da cidade sem energia. Com mais de uma hora com pouco acesso à internet, recebo apenas mensagens no celular. Vejo que não se tratou de uma chuva pontual, que muitas cidades da região, inclusive a capital, estavam um verdadeiro caos.
Começam a circular nas páginas e grupos de whatsapp as primeiras notícias. No distrito de Polvilho, em Cajamar, o trânsito é caótico na Tenente Marques. Cinco horas. Queda de árvores na região da torre de transmissão de energia que alimenta a subestação da cidade. No início da noite houve a interrupção no fornecimento em 80% do município. Destaque para o apagão na imprensa.
Cenário de manutenção das redes de internet se repetiu em outras ruas, mas não houve registro de equipes de limpeza urbana ou da Enel na região na segunda-feira @Matheus Nascimento/Agência Mural
Grande parte do Centro, Polvilho e Jordanésia foram afetados. Em Santana, na região da Fazendinha, diversos comércios, inclusive grandes supermercados, tiveram fachadas destruídas pela ventania que na região chegou a 98 km/h. No bairro São Pedro, ruas já estavam sem energia desde domingo. Nos Portais, em Cajamar, apartamentos com janelas danificadas e até estacionamento externo de condomínio com cobertura arrancada.
No bairro do Paraíso, antes do anoitecer, ouvi relatos de alguns moradores que retornavam do trabalho para suas casas. Eles acreditavam que encontrariam logo mais a energia restabelecida. Não foi exatamente o que esperavam. Já em casa, a luz das lanternas dos veículos refletia nos cômodos. Um bônus por se morar em frente de uma avenida movimentada.
Um gerador alimenta o principal mercado do Colinas. Diante da situação, o local foi transformado em praça pública. Alguns à procura de tomadas para carregar seus celulares, já outros querendo alimentar o boca-boca das notícias, inclusive com informações repassadas por vereadores e pessoas que buscaram saber a previsão de retorno da energia no bairro durante a crise.
Dez da manhã da terça-feira, 23 de setembro. Contínuo com o 4G instável e agora com apenas 5% de bateria. Onze horas. Fim da linha. Sem bateria e energia só restava manter a esperança no retorno da luz ainda durante o dia. Isso porque há poucos metros de casa havia energia. Abastecida com outra rede independente da estação de distribuição de Perus, os moradores de um condomínio fechado não sentiam reflexo algum das consequências da tempestade. Triste ironia.

