Quadra usada há décadas ficava entre as cidades de Cotia, Itapecerica da Serra e Embu das Artes; prefeitura diz que área era particular
Arquivo Pessoal
Por: Halitane Rocha
Notícia
Publicado em 21.06.2021 | 22:43 | Alterado em 23.11.2021 | 18:59
A quadra esportiva era o único espaço de lazer para os moradores do bairro do Ressaca, na Grande São Paulo. Por décadas, crianças do bairro jogavam bola por ali no espaço criado na estrada do Caputera, em uma área encravada entre as cidades de Cotia, Embu das Artes e Itapecerica da Serra.
Quando preciso, os moradores se juntavam e reformavam o espaço para manter as atividades. Mas, desde maio, essa história ficou para trás.
O local, que antes era aberto para a população, de um dia para o outro apareceu completamente cercado e com uma placa de vende-se no mês de março. Em 19 de maio, a quadra foi destruída.
“O cara que comprou [o terreno] soltou até rojão, comemorando, tirando sarro da cara da gente”, diz Natalino Antonio dos Santos, 55, que sempre morou no bairro.
O comerciante não entende como a destruição aconteceu tão repentinamente, tendo em vista que a quadra era utilizada há ao menos 30 anos. “O prefeito [de Cotia, Rogério Franco (PSD)] precisa dar uma satisfação para nós. A única área de lazer nossa foi-se embora.”
A história do local é incerta. Antes de existir a quadra, Natal jogava bola naquele espaço que antes era cheio de poças d’água. Conta que o terreno era de um tio falecido, Pedro Antonio dos Santos.
Para os moradores, o espaço havia sido cedido da família para a prefeitura, quando houve a construção da quadra e colocação de vestiários.
A prefeitura afirma que houve intenção de assumir o espaço no passado, mas o processo nunca avançou. “A matrícula da área em questão está registrada em nome de particular, portanto, não se trata de área pública”, afirmou em nota.
“No passado, houve uma manifestação de intenção de desapropriação da área para declaração de utilidade pública por parte da prefeitura, mas este processo não avançou e a administração municipal declinou desta intenção”, completa a gestão.
A associação de bairro e o vereador Abidan Henrique (PDT), de Embu das Artes, se uniram para cobrar esclarecimentos da Prefeitura de Cotia sobre o caso e manter a quadra aberta ao público. Foi realizada uma reunião com o secretário municipal de habitação Onofre de Oliveira.
“Disseram que iriam notificar o proprietário para apresentar documentos necessários de licenciamento do local, mas de uma hora pra outra, venderam o terreno, e eles não estão nos mostrando os documentos para comprovar”, contesta o vereador.
“Há 30 anos a prefeitura realizou a construção da quadra, e agora, simplesmente entregam o terreno?”, questiona. Apesar de ser de Cotia, a região está mais próxima dos centros de Embu e Itapecerica.
Com a destruição, moradores reclamaram do fato de que o espaço foi cuidado por anos pela própria comunidade. “Recentemente, organizamos um mutirão com pessoas do local para fazer a manutenção da quadra, já que o local estava em péssimas condições”, relembra Rafaela Koester, 22, membro da associação de bairro.
“Fizemos uma vaquinha e pedimos doações para conseguir roçar a área ao redor e tapar os buracos que estavam no concreto”, completa.
Apesar do investimento feito pelos moradores, Rafaela aguarda pelos documentos comprobatórios do terreno e que agora cobrarão de forma diferente a gestão municipal: “Vamos continuar a campanha, mas com o propósito da criação de uma quadra pelo poder público na área próxima”, diz.
Sobre a falta de áreas de lazer na região, a Prefeitura de Cotia afirma haver uma disponível. “O bairro (vizinho) do Caputera, conta com infraestrutura de lazer e é, no momento, uma opção para os moradores do Ressaca.”
DIFICULDADES DO BAIRRO
Localizada entre três cidades, o bairro de Ressaca também enfrenta dificuldades para conseguir que as demandas sejam atendidas pelas prefeituras da região.
“Atualmente temos um grande problema com falta de vagas em creches da região, sendo que a única creche na região não conta com local adequado para crianças”, diz Rafaela.
Produtora do podcast Próxima Parada e correspondente de Cotia desde 2018. Mãe de gêmeas e 2 gatas. Família preta e do axé… muita treta!
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