Por: Thalita Monte Santo
Publicado em 27.11.2018 | 13:43 | Alterado em 10.12.2018 | 12:20
Músicos guarulhenses ganham fama e consolidam a cidade como um dos berços do trap nacional
Tempo de leitura: 4 min(s)Nos anos 1990, a cena musical de Guarulhos, na Grande São Paulo, ficou conhecida graças à lendária banda Mamonas Assassinas. Duas décadas depois, o trap, estilo que se origina do rap, coloca o nome da cidade entre as playlists afora.
Nomes como Raffa Moreira (Lil Raff), Klyn, Moah, Rare Kidd, Rhyno, French Carti e Emerson Rosa têm se destacado pelo país. Só Raffa chegou a ter 13 milhões de acessos para a música “Bro“, enquanto Klyn e Mc Igu bateram os 845 mil com “França“.
O estilo é uma vertente do rap e nasceu em meados dos anos 2000, no sul dos Estados Unidos, em Atlanta. Ganhou popularidade em 2007 com artistas como Gucci Mane e OJ da Juiceman, ambos dos Estados Unidos.
“O trap se originou da ideia de misturar um pouco mais a música eletrônica”, explica Rodrigo Locaut, 25, produtor e trapper. Ele afirma que a cena trap de Guarulhos começou tímida. “Mas agora eu sinto que está caminhando de uma forma rápida, e cada vez tem mais pessoas cantando na cidade. Tem muito artista que carece de reconhecimento”, completa.
O gênero é considerado agressivo por retratar temas como violência, drogas, gangues e sexo. Mas também tem trazido pautas que abordam questões sobre racismo, política e desigualdade.
Uma das diferenças do estilo é o uso do IDM (Intelligent Dance Music), termo da música eletrônica que surgiu nos anos 1990, para a mistura de diversos sons rápidos, como o dance music e o techno.
Além disso, há o uso de sintetizadores multidimensionais, que trazem a sensação do som estar ecoando por todos os lados. Por fim, instrumentos de corda, bumbo, sopro e teclado.
Todos os efeitos, somados em um beat (batidas por minuto), trazem um estilo mais dançante. “Gosto pela batida, algumas músicas não tem uma letra agregadora, porém, as batidas sempre são boas”, afirma João Vittor dos Santos, 21, morador do bairro dos Pimentas e um dos fundadores da batalha de rimas do bairro.
Essa pegada mais animada, por outro lado, tornou o trap alvo de críticos na internet, que afirmam que o estilo é “gourmetizado”.
Boa parte dos trappers guarulhenses já estavam na música. Handrey Martins Fernandes, 27, mais conhecido como Klyn, começou a tocar violino na igreja. Conheceu o rap por meio dos tios – um deles, inclusive, era b-boy.
Quando se deu conta, Klyn já estava tocando em festas. “Não era parada planejada. Todo mundo rimava e tinha uma história pra contar. E aí a gente foi pegando as influências, estudando musicalidade. A gente viu que o que estávamos fazendo era original trap, tipo Atlanta mesmo”, diz.
Moah Buffalo, 28, amigo de longa data de Klyn, já teve algumas bandas de rock na cidade, e se identificou com o tipo de música por se tratar de um som pesado. “O Klyn começou a me mostrar artistas americanos como o Asap Rocky, entre outras coisas, e foi a porta de entrada para eu conhecer esse estilo de som”, conta.
Para Moah, o trap tem uma força também nas letras, por conta de uma geração influenciada pela liberdade na internet. “É o discurso mais potencializado, porque a gente hoje fala com mais liberdade sobre temas polêmicos”.
Igor Souza, o Rare Kidd, é um dos trappers mais novos da cidade. Com 21 anos, além de cantar, também é produtor. Começou a fazer beats assistindo tutoriais na internet e hoje cursa produção eletrônica na faculdade. “Lancei alguns trabalhos em outubro e novembro de 2016 e comecei a aperfeiçoar meu trabalho. E hoje é isso que eu faço. Rimo e produzo”, conta.
A música não tem uma barreira e na arte é possível fazer o que quiser, segundo Rare Kidd. Em suas músicas, ele explica que tenta passar sua realidade, além dos sentimentos que tem.
“Tem muita gente que se identifica por passar pelas mesmas coisas. Eu tento representar as pessoas falando coisas que elas às vezes sentem mas não sabem como expressar, ou mesmo me divertindo. Pra mim música é sentimento”.
A fotógrafa Thalita Silva, 30, moradora do Jardim São Domingos, é fã da vertente. Ela explica que se identifica com o estilo por causa dos beats e das letras ostentação. “Comecei a ouvir mais os artistas da cidade porque conheço alguns já faz um tempo”, explica.
Um dos trappers que ela mais escuta é Raffa Moreira, que, segundo ela, é o mais famoso do Brasil. Ele acabou tornando-se sinônimo do estilo, principalmente por causa da internet. Filho de pai músico e mãe manicure, também começou a tocar na igreja, mas veio de uma família de músicos: seu avô e seus tios tocavam.
“Daí veio a veia musical”, conta. “Com 5, 6 anos eu conheci a rádio Costa Norte com meu irmão mais velho. Era uma rádio pirata aqui de Guarulhos que veiculava rap nacional. E eu escutei de tudo na minha infância, RPW, Racionais, Consciência Humana e por aí vai. Aí foi onde eu peguei o amor pelo rap”, explica.
Para Raffa Moreira, trap é contar histórias com as frequências graves mais em evidência. Ele ressalta que antes a maior parte das letras expressavam coisas negativas, mas isso vem mudando.
“Antes era aquela coisa bem negativona. Falando de droga, de crime e tal. O dirty south [que é um estilo de se cantar rap e hip-hop no sul dos Estados Unidos] é mais ou menos isso, o trap trouxe outras vertentes junto”.
Thalita Monte Santo é correspondente de Guarulhos
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Vídeo: Paula Rodrigues, Karol Coelho e Julia Reis são correspondentes da Vila Albertina, Campo Limpo e Taboão da Serra.
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É jornalista e UX Writer. Já fez parte da equipe de redes sociais, do #RolêNaQuebrada e do No Fluxo. Correspondente da cidade de Guarulhos desde 2015.
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