APOIE A AGÊNCIA MURAL

Colabore com o nosso jornalismo independente feito pelas e para as periferias.

OU

MANDE UM PIX qrcode

Escaneie o qr code ou use a Chave pix:

[email protected]

Agência de Jornalismo das periferias
Sobre-Viver

Nova lei para laqueadura atrai mulheres das periferias, mas ainda é um desafio

Em Cotia, jovem sem filhos deseja fazer a cirurgia e uma grávida poderá realizar a esterilização durante o parto

Image

Arquivo Pessoal

Por: Halitane Rocha

Notícia

Publicado em 13.03.2023 | 12:59 | Alterado em 13.03.2023 | 12:59

Tempo de leitura: 3 min(s)

“Nunca tive interesse em ter filhos”, afirma Steffane Fernandes da Silva Costa, 23, moradora do bairro Jardim Arco-Íris, em Cotia, na Grande São Paulo. Agora que mulheres a partir de 21 anos e sem filhos poderão realizar a laqueadura, a atendente irá recorrer ao direito de não viver a maternidade.

“Eu uso o DIU (dispositivo intrauterino), mas estou sempre preocupada, achando que talvez ele tenha falhado e eu esteja grávida”, diz Steffane.

Desde o dia 2 de março, passou a valer a Lei nº 14.443 que reduz de 25 para 21 anos a idade mínima para realização de laqueadura e vasectomia. Além disso, casais não precisam mais do aval do cônjuge, e pessoas de qualquer idade com dois filhos vivos também poderão realizar a esterilização.

O procedimento agora também pode ser feito durante o parto, antes era necessário aguardar 45 dias.

“Estou torcendo para encontrar um médico que respeite minha decisão e dê andamento à minha solicitação”

Steffane Costa, 23

A preocupação da jovem em relação ao atendimento é pela experiência negativa que teve quando tentou pela solicitar o DIU pelo SUS (Sistema Único de Saúde) pela primeira vez. Ela foi ao posto de saúde aos 18 anos, mas a médica não concordou.

“Ela me empurrou a pílula do dia seguinte, dizendo que era melhor. Depois de eu quase discutir com ela, insistindo, ela me disse que faria a solicitação”, relata.

Porém, após aguardar alguns meses, a jovem descobriu que, na verdade, a médica não havia feito a solicitação. “Nunca mais me consultei com ela”, se queixa a atendente.

DIU (dispositivo intrauterino) foi um dos métodos escolhidos pela Steffane para evitar gravidez @Laísa Queiroz / Divulgação Ministério da Saúde

Após esse ocorrido, Steffane precisou aguardar seis meses para agendar uma nova consulta com outro ginecologista. Este fez a solicitação e hoje ela usa o DIU de cobre fornecido pelo SUS. Mas a insegurança para pedir a laqueadura ainda permanece, apesar da lei. “Espero que o médico permita e não me enrole. Me preparando mentalmente.”

Talita do Nascimento Aguiar, 29, é mãe do Bernardo, 10, e está grávida de 5 meses da Amara. Por meio do convênio do trabalho, ela foi orientada a esperar a alteração na Lei do Planejamento Familiar para fazer a solicitação da cirurgia e realizar durante o parto.

“Decidi esperar a alteração da lei e já fiz o agendamento para consulta presencial e me informaram que meu companheiro não precisa estar presente”, conta a desenvolvedora, moradora do Jardim Rosimeire.

Talita Aguiar já havia tentado realizar o procedimento antes da segunda gestação @Arquivo Pessoal

Talita já havia tentado solicitar a laqueadura pelo SUS, antes de iniciar a pandemia em 2020, porém não atendia a nenhum dos requisitos. Sem convênio na época, ela chegou a procurar por uma rede particular, mas lhe foi cobrado R$ 12 mil e ela não tinha o dinheiro.

“Também nem me senti confortável com o atendimento. Quando o médico me ofereceu a cirurgia, ele informou que bastava eu levar ‘qualquer homem da rua’ no cartório, para assinar a permissão”, lembra o descaso devido à exigência antiga do aval de um cônjuge.

Para a desenvolvedora, a nova lei é significativa, “para que a gente possa cada vez mais decidir e agir por nós em liberdade”. Porém, ela ainda acha restritiva. “Continuam limitando as nossas opções de escolhas”, afirma.

Caso a lei não seja cumprida, uma pena de reclusão de dois a oito anos pode ser determinada pela Justiça. A ouvidoria do Ministério da Saúde tem uma canal para receber denúncias em casos em que o médico negue o encaminhamento para algum dos procedimentos do planejamento familiar. O número é o 136.

É preciso ter em mãos o número da carteira do SUS, nome do posto, nome, especialidade e CRM do médico (que pode ser consultado nos conselhos regionais de medicina); data e hora da consulta.

receba o melhor da mural no seu e-mail

Halitane Rocha

Produtora do podcast Próxima Parada e correspondente de Cotia desde 2018. Mãe de gêmeas e 2 gatas. Família preta e do axé… muita treta!

Republique

A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.

Se você quer saber como republicar nosso conteúdo, seja ele texto, foto, arte, vídeo, áudio, no seu meio, escreva pra gente.

Envie uma mensagem para [email protected]

Reportar erro

Quer informar a nossa redação sobre algum erro nesta matéria? Preencha o formulário abaixo.

PUBLICIDADE