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Agência de Jornalismo das periferias

Arquivo Pessoal

Por: Egberto Santana | Felipe Barbosa | Paulo Talarico

Notícia

Publicado em 08.08.2024 | 16:05 | Alterado em 08.08.2024 | 17:21

Tempo de leitura: 4 min(s)

Em contraponto a falta de representantes negros nas Câmaras dos Vereadores e no comando das Prefeituras, lideranças têm articulado candidaturas para tentar furar essa barreira. No entanto, apontam dificuldades para conseguir uma vaga.

Em Poá, município de 103.765 habitantes, no Alto Tietê, há 2 vereadores pretos e 3 pardos, segundo a autodeclaração feita por eles ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o que correspondente a 29% em um município onde mais da metade se declara como negra.

“Esse baixo número expressa a falta de representatividade da população negra nos espaços de poder, o que implica de forma direta na falta de políticas públicas voltadas para esse público”, comenta Natália de Matos Garófalo, 48, auxiliar técnica de educação, que pretende mudar esse cenário com um mandato coletivo nas eleições de 2024.

Ela se juntou a três amigos do Sintesp (Sindicato dos Trabalhadores da Educação Pública de Poá), sendo, com ela, duas mulheres negras e dois homens brancos, e formou um coletivo: o “Juntos por Poá”, para concorrer nessas eleições.

Sozinhos, enfrentavam dificuldades de realizar campanhas, e, com as mesmas pautas, conversaram e se juntaram para formar a candidatura.

“Cada um do coletivo terá a incumbência de falar com parentes e vizinhos, nos locais que trabalham e fazer um levantamento das necessidades locais de cada bairro”, comenta Natália a respeito da busca pelos votos.

Natalia, à direita na foto, está articulando um mandato coletivo pelo PSOL @Arquivo Pessoal

A primeira candidatura de Natália foi individual, em 2020, sem sucesso. “Não sabia bem o que fazer e como fazer, tive 193 votos”, relembra ela, que começou a jornada política dentro do sindicato, ao participar de uma greve na cidade, em 2018, por correção salarial e melhores condições de trabalho.

A dificuldade de financiamento também é outro motivo para a criação do coletivo. “No último pleito os repasses [do fundo partidário] chegaram tardiamente. Temos que se virar com a vaquinha online e contar com doações de amigos e familiares”.

Natália também percebeu a falta de representatividade negra na câmara de vereadores. Ao pesquisarmos pela palavra “negro”, é possível encontrar, nos útlimos quatro anos, apenas um resultado: a lei 17/2021, que institui a “Semana do Negro Sim”, de autoria do vereador Edinho do Kemel, que é na mesma semana do dia 20 de Novembro, quando já é celebrado o Dia da Consciência Negra.

‘No município não temos nenhum tipo de política pública voltada para a população negra ou qualquer tipo de ação voltada para a capacitação e inserção no mercado de trabalho’

Natália Matos Garófalo, candidata a vereadora do coletivo

Vereadora e vice-prefeita

Moradora de Taboão da Serra há mais de 30 anos, Rubi França, 42, tem dois filhos e estuda letras, e vai disputar as eleições para a Câmara Municipal deste ano. Trancista, ela é fundadora do projeto Ação 25, em homenagem ao dia 25 de março de 1884, a primeira abolição do Brasil, ela foi convidada em 2018 a liderar o Movimento Negro Unificado em Taboão da Serra, por conta da atuação que ela tinha em Itapecerica da Serra.

“Comecei a desenvolver muitos projetos de questões raciais aqui no município”, conta. No entanto, o racismo tem sido uma das barreiras que ela tem enfrentado. Ela relata ter criado propostas de projeto de lei para tratar da saúde da população negra na cidade, o que não foi bem aceito por alguns servidores.

“Lembro que eu fui apresentar [a proposta], uma das pessoas era diretora e ela pegou e falou olha você ‘tem que tomar cuidado com isso porque vocês Preto querem tudo’. Eu sai da sala e eu comecei a chorar”, relata a ativista. “A gente tem um mês dos cachorros e aí a população negra não tem um mês específico que trata sobre isso?”

Dinha disputará a vice-prefeitura em Taboão da Serra @Arquivo Pessoal

Também em Taboão da Serra, Claudia Pereira de Souza, conhecida como Dinha Souza (PSOL), tentará a vaga de vice-prefeita nas eleições deste ano, e aponta que a vivência como mulher negra é um dos pontos que a motivou a entrar na corrida eleitoral. “Minha origem, vida pessoal e minha experiência profissional está entremeada nas necessidades da população”, afirma.

A mãe dela, Elza, 87, trabalhou como empregada doméstica para sustentar os dois filhos. Em 1990, realizou o sonho de se formar em enfermagem. Essa vida corrida, influenciou a infância de Dinha, como de muitas mulheres que vivem nas periferias. Aos 7 anos, começou a cuidar dos irmãos para ajudar a mãe que trabalhava fora.

“Aos 13 fui cuidadora dos filhos das amigas da mãe no bairro, e seguindo o ciclo imposto pela desigualdade social que atravessa a vida das mulheres e meninas negras também fui trabalhadora doméstica”, relembra.

Militante do movimento negro e por moradia, ela é também assistente social, e trabalha no atendimento de mulheres em situação de violência doméstica familiar e de gênero.

“O direito à cidade sustentável, com transporte público de qualidade totalmente gratuito, moradia para a população de baixa renda, investimento na saúde, cultura e educação são políticos essenciais para dar dignidade a população negra e periférica.

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Egberto Santana

Jornalista, também é crítico de cinema e redator. Sempre ouvindo ou assistindo alguma coisa, do novo ao velho, do longa-metragem ao reels do Instagram ou Tik Tok. Correspondente de Poá desde 2021.

Felipe Barbosa

Jornalista e social media, motivado por boas histórias e ideias. Jovem de espírito sonhador, com um pé na área cultural. Correspondente de Embu das Artes desde 2023

Paulo Talarico

Diretor de Treinamento e Dados e cofundador, faz parte da Agência Mural desde 2011. É também formado em História pela USP, tem pós-graduação em jornalismo esportivo e curso técnico em locução para rádio e TV.

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