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Sobre-Viver

Nove finais felizes de um casamento comunitário

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Por Redação | 29.11.2017

Publicado em 29.11.2017 | 15:02 | Alterado em 31.01.2023 | 15:56

Tempo de leitura: 9 min(s)

Acompanhamos um casório que teve Gretchen como madrinha e muita emoção no CTN

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A noiva Katia Cilene com seu vestido pronto dias antes da festa — Foto: Matheus de Souza/Agência Mural

Sorrisos, lágrimas, emoções à flor da pele, tudo isso envolto em uma aura de amor e felicidade. Esse era o clima das 77 uniões de um casamento comunitário que teve Gretchen, a rainha do rebolado, como madrinha oficial, no gigantesco galpão do CTN (Centro de Tradições Nordestinas), no bairro do Limão, zona norte de São Paulo, na tarde do último sábado (25/11).

Teve noiva grávida passando mal às vésperas de dar à luz, casais homoafetivos quebrando preconceitos, noivas amigas que casaram juntas, gente dando uma nova chance ao amor, enfim, muitos finais felizes. Contamos abaixo nove destaques da festa, dando licença para iniciar com a gestante da vez:

1 — Camila Cristina & Claudio (Jaraguá, zona oeste)

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A noiva Camila Cristina sendo socorrida ao passar mal na festa e depois com o marido já casada — Fotos: Matheus de Souza/Agência Mural

Se teve um momento emocionante durante a 7ª edição do casamento comunitário no CTN, com certeza foi quando a operadora de telemarketing Camila Cristina Luiz Soares, 31, grávida de nove meses, saiu no meio da cerimônia carregada pelo Corpo de Bombeiros. Passou mal com o calor do galpão e foi socorrida às pressas.

Alvoroço entre os familiares e presentes. Os pais disseram que ela estava nos dias de dar à luz e brincaram com a possibilidade da filha estar fugindo do altar. A dúvida era se Maria Vitória, a bebê, estava querendo nascer ali, antes dos pais casarem.

Minutos depois, Camila voltou para o salão e cravou a aliança no dedo do marido Claudio Soares Júnior, 33, controlador de acesso. “Foi a emoção de estar casando pela primeira vez. Falei ‘segura um pouco filha que a mamãe vai casar, depois você vem. Mas ia ser duas felicidades ao mesmo tempo”, comentou depois de casada.

O casal se conheceu há quatro anos, em uma escola de samba, no carnaval. Ela é da Mancha Verde; ele da Dragões da Real. Apesar da rivalidade nas torcidas, ela conta que o enredo do casal começou a partir de um amor à primeira vista. “Quem disse que o carnaval não dá samba? Dá samba, paixão e casamento”, garante.

2 — Lúcia Fatima & Valdir (Guaianases, zona leste)

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Os noivos Valdir e Lúcia Fátima que se conheceram em hospital e apostam uma segunda vez no amor — Foto: Mathes de Souza/Agência Mural

– Por que um vestido vermelho?
“Ah, adorei vermelho. Ele falou que eu poderia escolher a cor que eu quisesse. Como nunca casei, eu não ia casar de branco, né? Quando bati o olho no vermelho, falei que era esse que eu ia escolher”, explica Lúcia Fátima da Silva, 47, auxiliar de limpeza, sobre a cor do seu vestido de noiva.

O vermelho realçava a alegria misturada ao nervoso de emoção da noiva do auxiliar de serviços gerais Valdir Pereira da Silva, 57. Os dois se conheceram no trabalho em um hospital. O namoro começou em dezembro do ano passado. Ele vinha de um casamento de quase 34 anos; ela teve um relacionamento de 20 anos e estava sozinha há seis. Ambos já tinham filhos das outras relações. Ela tem um casal e ele cinco. O pedido de casamento foi feito no CTN e, ao saber do evento coletivo lá, não tiveram dúvidas.

“Fomos uns dos primeiros inscritos. Falo o seguinte, quem quer casar não deve desistir dos seus sonhos. Independente da idade e de qualquer coisa”, incentiva Lúcia.

3 — Alan & Josivan (Tucuruvi, zona norte)

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O casal Alan e Josivan Ramos Cleto que oficializaram a união de mais de quatro anós após primeira troca de olhares — Foto: Mathes de Souza/Agência Mural

Superando diversos obstáculos e com um dos looks mais bonitos da festa, o casal Alan Schweigert Pinheiro Ramos Cleto, 34, líder financeiro administrativo, e o vendedor Josivan Morais Ramos Cleto, 34, celebraram uma vitória.

“Não é só uma conquista. É uma quebra de barreiras, de conflitos, de várias coisas, como pensamentos de família, de gente dizendo que não ia dar certo. E mostrar também que o amor não tem sexo. Não precisamos carregar uma bandeira, uma estampa, mas demonstrar respeito. E o meu respeito a partir de hoje é obrigatório”, diz Alan.

Um amor que começou com uma troca de olhares na saída da estação Brás de metrô. “Foi passando semanas, trocamos telefones como amigos, das trocas de mensagens e conversas rolou um sentimento maior e começamos a namorar. Desse namoro até aqui são quatro anos e meio, resumindo”, contou Josivan, que frequenta o CTN e descobriu o casamento coletivo.

“Vimos que era um casamento aberto. Ficamos praticamente um ano e meio nos informando sobre isso. A gente acabou concordando e oficializando isso, que é o sonho de ter a documentação”, festeja Alan.

4 — Júlia & Claudio (Jardim Almanara, zona norte)

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Claudio e Julia se conheceram em uma sala de terapia e superaram uma depressão — Foto: Matheus de Souza/Agência Mural

Um tratamento contra a depressão uniu o técnico de enfermagem Claudio Bueno da Silva, e a auxiliar de saúde Júlia Moura Silva, também com 58 anos. O encontro foi em um sala de terapia. Foi amor à primeira vista, afirmam convictos os dois sobre aquele 2 de agosto marcante. Ela estava exausta de um plantão noturno, mas algo dizia em seu coração para ir até lá. Julia foi e o romance teve início.

“Eu já tinha separado do meu ex-marido há 19 anos. Estava bem, mas em certa época da vida da gente, queremos alguém para conversar, pra ouvir. Naquele dia não estávamos procurando ninguém, fomos para participar da terapia, mas nos encontramos”, diz Julia.

Os dois superaram a depressão e estão juntos há mais de onze anos. Muito emocionado, Silva só lamenta o fato de não ter casado antes. “Eu devia ter feito isso há dois anos atrás quando minha mãe ainda estava viva. Ela faleceu no ano passado”, diz.

Instantaneamente é tranquilizado pela companheira: “Mas era agora para acontecer. Deus preparou a nossa união para agora, tudo é no momento de Deus”, fala com doçura. O carinho mútuo salta aos olhos.

5 e 6 — Tatiana & Agustinho / Lucia & Adriano (Butantã, zona oeste)

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Os noivos Tatiana e Agustinho(à esquerda) e Adriano e Lucia — Foto: Matheus de Souza/Agência Mural

Uma festa dupla dentro de um casório de 77 uniões. Dois casais de amigos do Butantã, da zona oeste da cidade, subiram juntos ao altar. Noivas e noivos se preparam no camarim do CTN; elas se maquiaram por lá mesmo.

A assistente administrativa Tatiana Rodrigues da Silva, 34 anos, e o vigia Agustinho Felix Rodrigues, 44, moram juntos há 16 anos, dos 20 de relacionamento. Eles têm um casal de gêmeos de 14 anos.

Casar já era algo que estava nos planos de Tatiana. “Todo ano falávamos em casar e nunca dava certo, sempre enrolando. Este ano eu já havia decidido que ia casar, mas não sabia o mês. Aí surgiu essa oportunidade”, diz a noiva sobre o casamento comunitário. Uma das barreiras eram os custos financeiros, facilitados pela organização do evento que não cobrou as taxas.

O projeto social é realizado anualmente pela Centro de Tradições Nordestinas (CTN) em parceria com o Centro de Integração da Cidadania (CIC), órgão da Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania de São Paulo. Esta foi a 7ª edição do evento.

Tatiana diz que soube da oportunidade pela amiga, a controladora de acesso Lucia Melo, 31, que também aproveitou para oficializar a união com o pedreiro Adriano José Goes Sobral, 34.

Lucia inovou no look e para fugir do padrão escolheu um vestido amarelo, que deixava à amostra a tatuagem com o nome da filha Laura, de 5 anos. “Sou um noiva diferente. A diferente né? (risos). Queria rosa, mas não deu certo. Optei por esse amarelo, o povo fala que amarelo traz dinheiro, mas não tem significado nenhum. É porque gostei do modelo mesmo”, diz sobre o vestido.

Lucia conta que conhece seu marido desde a infância no Butantã. “Ele sempre me paquerava, até que um dia ele me pediu em namoro e eu acabei aceitando. Estamos juntos há 17 anos”, diz.

Os gastos com o casório também eram um impeditivo ao casal. “Eles isentam a gente do pagamento no cartório e isso ajudou bastante. Dá para fazer outras coisas com o dinheiro. Eu achei muito legal”, diz Lucia.

As amigas Tatiana e Lucia fizeram as compras juntas, mas as festas seriam separadas. Lucia fez uma comemoração no próprio CTN com a família. Tatiana organizou um churrasco na garagem de casa à noite e Lucia estava convidada. “Ela vai ter que ir, a noite vai ser nossa”, comemorava.

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Katia e José Adailton casando após seis anos de relacionamento / Na mesa do bolo com o filho João Miguel — Fotos: Arquivo Pessoal

7 — Katia Cilene & José Adailton (Jardim Eliza Maria, zona norte)

“Estou maravilhosa e casada!”. A sentença enfatizada pelo vozeirão da vendedora Katia Cilene Aparecida dos Santos, 39, apontando para a aliança, arrancou gargalhadas de quem estava a sua volta.

A resposta foi para pergunta de como se sentia minutos após ter oficializado sua união com o armador de construção civil José Adailton Silva Santos, 40.

Os dois se conheceram em um forró, há seis anos. Foi amor à primeira vista e ela já foi morar com ele no mesmo dia. Depois de um ano, tiveram um filho, João Miguel, de 4 anos. Katia já tinha duas filhas e Santos tinha três meninas. Há alguns meses, recebeu a mensagem de um amigo falando sobre o casamento comunitário. O marido perguntou enciumado o que era e ela comentou desinteressada o assunto. Na hora, ele começou a insistir na ideia.

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Vestido de Katia brilhou no salão — Foto: Arquivo Pessoal

“Nega casa comigo. Eu quero casar. Eu quero tudo que tem direito, quero ver você de noiva”, conta Katia sobre o pedido de Santos. Ela atendeu, mas só nos últimos dias para o casório conseguiu concluir uma das prioridades de muitas outras noivas: o vestido.

“Achei o vestido há 20 dias, mas fui experimentar e não fechava. Uma senhora de 74 anos olhou para mim e disse: esse vestido é seu, eu vou costurar para você”, relatou. Dois dias antes do casamento, Katia disse que foi buscar o vestido e a costureira ainda estava trabalhando na costura das pedras. “Fui pegar o vestido e fechou! Por isso estou aqui arrasando na maior felicidade”, contou sorridente.

8 — Cássia Joana & Daiane (Vila Gustavo, zona norte)

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Daiane e Cássia Joana em uma das mesas oficiais para tomada de fotos da festa — Foto: Matheus de Souza/Agência Mural

Nessa história de amor um site de relacionamentos foi o cúpido do encontro entre a chefe de cozinha Cássia Joana de Araújo Silva, 35, e sua noiva, a segurança Daiane dos Santos Silva, 33. “Eu puxei assunto e só depois de três dias ela veio me conhecer. A partir daí, estamos juntas até hoje. Há quatro anos”, conta Cássia.

Frequentadoras do espaço, gostam muito de assistir as apresentações do radiaslita Fábio Teruel e não hesitaram em se inscrever quando souberam da oportunidade do casamento comunitário. Daiane diz que após a inscrição, em agosto deste ano, ficou ansiosa para saber se havia dado certo. “Pedia para ela olhar sempre. Tem bastante gente, é muita procura. Se tiverem 200 casais, tem sorteio. E eu já havia visto um casamento aqui, há uns dois anos, achei bacana”, conta Daiane. As duas comemoravam com um bem casado servido para todos os noivos.

Cássia gostou da artista Gretchen como madrinha. “É uma pessoa famosa que já passou por muitas experiências e hoje ela está aí mostrando que compensa, está sendo muito feliz. E também que não pode desistir do que você quer, tem que ir atrás dos seus sonhos, casar e ser feliz”, diz.

9 — Anna Ellen & Jefferson (Vila Mazzei, zona norte)

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Anna Ellen e Jefferson com as filhas (à esquerda) e com a cantora Gretchen, madrinha da vez — Fotos: Matheus de Souza

Por último e não menos importante, temos a história da vendedora Anna Ellen Souza Mello, 32, e Jefferson Silva Mello, 37, um dos derradeiros casais a se inscrever no projeto. “Soube do casamento pela minha cabeleireira, ela casou aqui há dois anos e comentou. Só que as inscrições acabaram numa sexta, eu cheguei na segunda-feira seguinte e me disseram que só tinham quatro vagas”, diz Anna. A emoção estava escancarada no rosto da noiva ao falar com lágrimas escorrendo pelo rosto. “Foi uma correria, mas deu tudo certo. Estavam inscrevendo desde fevereiro, mas a gente não sabia”.

Os noivos contam que tiveram menos de um mês para se organizarem até o casório. “Foi uma correria, arrumando as coisas para fazer um almoço, algo legal para reunir familiares e alguns amigos mais íntimos”, diz Mello.

Eles se conheceram por meio de amigos em comum e têm duas filhas, de 5 e 12 anos. “Embora estamos juntos há 16 anos, eu acho importante a gente oficializar a nossa união. Muda ter algo oficial”, ressalta Mello.

Bônus especial: Gretchen — a madrinha

Para animar a festa coletiva, a cantora Gretchen, madrinha do evento, compareceu animada, fez um discurso e cantou. Não teve hits conhecidos, mas uma música romântica inédita. Com playback de fundo, passeou pelo público e distribuiu cumprimentos.

“Nunca fui madrinha, é a primeira vez. E de muitas pessoas que é para mostrar que o amor é possível”, disse.

Ao lado do marido, o empresário português Carlos Marques, com quem está há 4 anos, tirou fotos com os primeiros casais a assinarem a papelada no altar. Falou ainda sobre a atual relação: “Eu nunca tinha conseguido encontrar realmente a felicidade. A partir do momento que eu esqueci da Gretchen e passei ter uma vida normal, conheci um homem que me conheceu como Maria e hoje eu posso dizer que realmente foi a primeira vez que eu casei”.

O Casamento Comunitário do CTN já teve como Madrinha Oficial em edições anteriores personalidades como Pepê e Neném, Simony e Silvety Montila.

Para manter um relacionamento, a rainha do rebolado deu a dica de como agir: “Primeiro lugar: respeito. O que move o casamento é o respeito, não é o amor. Se você tiver respeito, admiração, paciência e tolerância, o casamento dura a vida inteira”, disse.

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“Eu sou uma cantora do povão, todo mundo me chamava de brega e eu não tava nem aí”, diz Gretchen, que animou o casório — Foto: Matheus de Souza/Agência Mural

Veja a reportagem em vídeo em Amor à primeira vista leva noivos ao altar de casamento comunitário

Texto: Cleber Arruda, correspondente da Brasilândia
Fotografia: Matheus de Souza, correspondente de São Mateus
Produção: Paula Rodrigues, correspondente da Vila Albertina/Tremembé

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