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Número de gestantes diagnosticadas com sífilis aumenta 25,3% em São Paulo

"A maioria das pessoas já aparece achando que está com a doença", afirma a técnica de enfermagem Brígida de Sousa, ao explicar sobre o que leva pessoas a realizarem o teste de sífilis. Ela é responsável pelo atendimento no CTA - Centro de Testagem e Aconselhamento do Parque Ipê, região do Campo Limpo, zona sul de São Paulo, que faz parte de uma rede que oferece serviços especializados em DST/Aids da Secretaria Municipal de Saúde da cidade.

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Por: Redação

Publicado em 19.12.2016 | 13:15 | Alterado em 19.12.2016 | 13:15

Tempo de leitura: 4 min(s)

“A maioria das pessoas já aparece achando que está com a doença”, afirma a técnica de enfermagem Brígida de Sousa, ao explicar sobre o que leva pessoas a realizarem o teste de sífilis. Ela é responsável pelo atendimento no CTA – Centro de Testagem e Aconselhamento do Parque Ipê, região do Campo Limpo, zona sul de São Paulo, que faz parte de uma rede que oferece serviços especializados em DST/Aids da Secretaria Municipal de Saúde da cidade.

No ano de 2015, a taxa de detecção de gestantes com sífilis aumentou 25,3% em São Paulo, segundo o Indicadores e Dados Básicos da Sífilis nos Municípios Brasileiros, da Secretaria de Vigilância em Saúde. Enquanto no Brasil, de 2014 a 2015, a doença teve aumento de 20,9% e de 19% nos casos congênitos, em que bebês nascem infectados. O ministro da Saúde, Ricardo Barros, admitiu que o Brasil vive uma epidemia de sífilis.

No entanto, Brígida explica que realizar o teste para diagnosticar a doença, transmitida sexualmente, não é difícil e o exame mais o tratamento são gratuitos. No CTA qualquer pessoa, residente ou não no município, pode realizar o teste simples de sífilis, que é uma triagem que indica a reação ou não da doença e que dá o resultado em 15 minutos. “A Sífilis não é diagnosticada apenas com este resultado, é preciso saber a história, para não correr o risco de dispensar uma pessoa que esteja com o início da infecção sem encaminhá-la para o tratamento”, conta Brígida.

Caso a pessoa já tenha contraído a doença anteriormente, ela pode ter uma cicatriz sorológica, que é acusada neste teste. Por isso, é realizado logo em seguida uma coleta para o VDRL, um exame profundo para identificação da doença, e que o resultado sai em cerca de 15 dias. Ainda assim, não são apenas 15 minutos que dura o atendimento no CTA, mas pode chegar a durar cerca de duas horas.

A pessoa faz um cadastro na recepção e a partir deste cadastro é convidada a conversar sobre o que a levou ao CTA. “Ela entra na sala, a portas fechadas, e eu pergunto para ele qual o motivo que o trouxe até aqui e a maioria que nos procura já está com sintoma de alguma DST”, explica Brígida sobre a conversa de acolhimento e aconselhamento.

Normalmente, os sintomas que levam alguém ao CTA é um desconforto na área genital, ou alguma ferida que não necessariamente dói e que pode desaparecer sem medicação ou manchas na pele. No entanto, nem todas as pessoas apresentam sintomas. “Alguns fazem o teste e se surpreendem com o resultado, pois os sintomas da sífilis podem não se manifestar”, diz Brígida, que conta que às vezes, após os sintomas desaparecerem. desistem de procurar tratamento.

Certa vez, Brígida conta que atendeu uma pessoa que estava com uma conjuntivite diagnosticada pelo oftalmologista e sem fundamento, então ela veio fazer uma coleta para sífilis e constou uma alteração muito alta. “A sífilis acabou afetando os olhos dele e ele perdeu 20% da visão. Não teve nenhum sintoma na área genital ou manchas pelo corpo, os sintomas já agrediram diretamente os olhos”, conta.

Ao não tratar a sífilis, a bactéria permanece no sangue, aumentando a cada dia e agredindo os órgãos internos. Por isto, é importante procurar um teste quando exposto durante uma relação. Os meses que há aumento de atendimento é o pós-carnaval, além de dezembro e janeiro, quando as pessoas saem de férias. Em um mês com pouca movimentação, o CTA Parque Ipê conta com cerca de 60 matrículas, em média, contando com aqueles que retornam para colher os exames outras vezes, e nos meses de exposição o atendimento chega a 100 matrículas.

“Trabalhamos sempre com a prevenção, para que não haja exposição e usem preservativo, que é o único meio de evitar [a sífilis]”, diz Brígida. “Quando descobre que há tratamento, a pessoa fica mais tranquila, mas explicamos que ela se expôs não apenas a uma doença. Se ela se expõe novamente ao risco, ela tem a chance de contrair o HIV, o que pra ela já é um peso maior, pois já vem a ideia de morte”.

Após detectados, os casos reagentes são encaminhamos para o SAE (Serviço Ambulatorial Especializado), que também é da rede de serviços especializados em DST/Aids da Secretaria Municipal de Saúde, e para qualquer uma das unidades espalhadas na cidade, pois muitas vezes o paciente não quer se expor na região que mora ou trabalha.

Educação sexual

A universitária Fernanda Moraes, 19, diz que sempre teve facilidade em obter informações sobre DST, porque na escola teve educação sexual, e os professores sempre alertavam e ensinavam como usar a camisinha masculina e feminina. Ela se sente confortável para buscar informações e conversar sobre sexualidade. “Em casa, minha mãe, mesmo que de uma forma um pouco mais longe, sempre fala que se eu for ter alguma relação é para eu me proteger e com meus amigos eu também converso de uma forma bem aberta”, conta.

No entanto, na pesquisa da IRBEM (Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município), divulgada em janeiro deste ano, as notas de satisfação relacionadas à sexualidade diminuíram entre os anos de 2009 e 2015. Para o acesso à informação sobre temas relacionados, a nota média caiu de 5,5, para 4,7 neste período; e para a educação dada nas escolas sobre sexualidade de 5,2 para 4,4.

Fernanda, ao contrário dos dados, sabe onde fazer os exames e não tem receio em procurar atendimento. “Se eu vejo que tem algo errado comigo eu me sinto numa boa para ir conversar com o médico porque ele é especialista e ele vai saber o que fazer”, afirma. “Eu sabia da existência sobre os centros de testagem, alguns amigos meus já foram e sempre falam”, conta.

As DSTs, curiosamente não são o maior incentivo para que Fernanda use a camisinha durante as relações que mantém. “Na minha cabeça primeiro passa uma gravidez indesejada e depois DST, porque uma DST, muitas vezes a gente consegue tratar, já uma gravidez indesejada não tem como”, relata.

Independente das prioridades, Fernanda explica que não há outro caminho e quando, na hora da relação, o parceiro tenta dar desculpas para não usar o preservativo ela dá apenas duas opções: “Ou você coloca a camisinha ou simplesmente não vai acontecer nada”. E este é o único meio para evitar a sífilis.

Foto: Para os testes de sífilis é colhido sangue de um pequeno furo no dedo do paciente/ Flickr – Agência Brasilia

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