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Educadora social de alimentos incentiva nutrição consciente nas periferias

Por: Aline Almeida

Luciana Aparecida dos Santos, 38, mora há três décadas no Grajaú, periferia mais populosa da cidade de São Paulo, localizada na zona sul. Foi nessa região que se tornou uma educadora social de alimentos, e tem levado a importância da conscientização nutricional e impacto ambiental para os moradores por meio de sua marca: LureciclAlimentos.

Mas nem sempre foi assim. Luciana conta que após ser abandonada pelo marido, e ter o desafio de suprir as necessidades de cinco pessoas com apenas R$ 321, além de ter uma filha com baixo peso, encontrou uma alternativa. “A saída foi plantar. As cascas que não comíamos, plantava. Usei a criatividade para passar aquela fase”, relembra.

Ela relata que após 11 anos longe do mercado de trabalho, encontrou um novo rumo ao passar oito meses na cooperativa de mulheres solidárias da Ilha do Bororé, um dos bairros do Grajaú.

Moradora do Grajaú, Luciana incentiva a reutilização de alimentos @Reprodução / Redes Sociais

No local, teve o primeiro contato com a reutilização total dos alimentos. A partir dali passou a vender bolos e doces, e ficou conhecida como “bolos da Lu”, e “Lu doce Lu”.

Uma outra experiência crucial no seu percurso foi a Coopertec, uma cooperativa de catadores de materiais recicláveis da região, onde tomou consciência da poluição causada por embalagens descartáveis como plástico e isopor.

“Decidi que não iria mais utilizar embalagens descartáveis para vender minhas produções de alimentos”, enfatiza.

Após passar pela cooperativa, aproveitou os conhecimentos que adquiriu para além de doces e bolos e começou a trabalhar com o aproveitamento total dos alimentos, transformando a marca de bolos em “LureciclAlimentos”.

A educadora social de alimentos iniciou os estudos sobre o tema para ter propriedade ao dividir seus conhecimentos. “A maior formação que tive foi no curso “Se Vira”, que me impulsionou a estudar o segmento e deu formações essenciais para levar segurança alimentar para as quebradas”, conta.

Mas o que realmente significa a utilização completa do alimento? Para Luciana, isso abrange até as partes não convencionais, como cascas, talos, folhas, sementes e até flores. Essa abordagem não só promove uma riqueza nutricional, mas também minimiza o acúmulo de resíduos.

Brigadeiro feito de cascas de banana @Shirlei Tessarini

Seu cardápio diversificado engloba geleias, tortas, sucos, doces, bolos, caldos, molhos, sopas, pães e outros alimentos, todos enriquecidos com vitaminas, minerais, proteínas e fibras. Essa prática foi fundamental para Luciana na criação saudável de sua filha.

Ela afirma que descartar alimentos é o mesmo que jogar fora dinheiro e recursos naturais preciosos. A educadora tem como lema “uma refeição a mais por um resíduo a menos”, que reflete a determinação em transformar positivamente a alimentação e o ambiente.

Além do conhecimento técnico em nutrição e dietética, Luciana acredita em construir a conscientização de acordo com as necessidades e hábitos de consumo de cada família.

“Quando uma família recebe a informação que é possível congelar frutas, utilizando uma técnica com açúcar, as perdas diminuem muito”

Luciana dos Santos, educadora social de alimentos

Ela integra de maneira voluntária o coletivo Casa Ecoativa, Centro eco-cultural localizado às margens da Represa Billings, na Ilha do Bororé. “Estou no espaço há sete anos e já desenrolei várias atividades de alimentação e uso integral de alimentos no território”, conta.

Atualmente, Luciana é educadora social de alimentos no CDHEP (Centro de Desenvolvimento Humano Educação Popular), além de realizar formações no CCA (Centro para Crianças e Adolescentes) em bairros como Ilha do Bororé, Parelheiros, Marsilac, Jardim São Luís, Capão Redondo e Jardim Lídia. “No momento presto serviços como autônoma”.

Luciana é educadora social e faz formações sobre nutrição consciente nas periferias @Shirlei Tessarini

Mesmo enfrentando desafios financeiros, ela permanece comprometida com sua missão de mudar vidas por meio da alimentação consciente.

“Amo o que faço, sinto-me plena ao compartilhar, intervir e servir. Meu maior desafio agora é encontrar um apoiador financeiro que acredite no poder transformador do meu trabalho, não importa onde seja plantado”, afirma.

É possível acompanhar o trabalho de Luciana no Instagram.

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