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Agência de Jornalismo das periferias

Por: Mateus Monteiro

Notícia

Publicado em 22.01.2024 | 15:23 | Alterado em 22.01.2024 | 15:29

Tempo de leitura: 3 min(s)

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O primeiro contato que Ed Mauro Teixeira de Almeida, 44, teve com o rap foi na adolescência, ao ouvir o disco ‘Holocausto Urbano‘ dos Racionais Mc’s, disco emprestado por um amigo. Contudo, foi durante a visita do grupo à escola onde estudava, em 1995, que a conexão dele com o gênero se fortaleceu e se transformaria na causa de vida dele. 

Ed é Cocão Avoz, cria do Jardim Miriam, na zona sul de São Paulo, e que há 25 anos é uma das vozes importantes do rap paulistano, no qual busca transmitir sinceridade e simplicidade por meio da música. Hoje, ele também busca seguir o exemplo inspirador e tem levado a voz para diversas escolas da capital.

Em 1998, ele se mudou para o Jardim São Luís, também na zona sul, local onde ainda mora e onde viu muitas mudanças. “Vejo um avanço nos projetos culturais desde que cheguei ao bairro”, avalia o artista. “No início, havia poucas opções. Conforme as pessoas foram percebendo a necessidade dessas iniciativas na quebrada, houve melhorias significativas”, ressalta.

Ele cita os saraus, a Fábrica de Cultura da região, e casas de cultura, como o Bloco do Beco e a Casa dos Meninos, um projeto com atividades voltadas para jovens da periferia.

Cocão começou a carreira no fim dos anos 1990 @Mateus Monteiro/Agência Mural

Foi volta dessa época que decidiu seguir a carreira de MC durante o show do grupo ‘Irmãos de Sangue’, em 1999. Ele lembra que teve uma conversa decisiva com o amigo Leandrão, em uma Cohab da região, onde surgiu o grupo “Versão Popular”. O nome refletia a ideia de “versar” sobre a população, oferecendo aos integrantes uma forma de expressão única.

“Nós queríamos fazer parte do no hall do rap, de entrar nesse universo, de se inserir com essa massa de manos e minas que fazem a música acontecer”, salienta Cocão.

Os dois ainda permanecem no grupo, que também inclui Dj Zeca e Kelly Neriah. “A mensagem que o grupo pretende passar é a de correr atrás dos nossos sonhos, ter orgulho das nossas origens e não desistir”, afirma a cantora Kelly Neriah, 40.

No entanto, devido às demandas pessoais de cada um, o grupo entrou em um período de pausa, com apresentações esporádicas.

Em 2016, o artista iniciou a carreira solo e a acrescentou “Avoz” no nome artístico, por conta de uma música do Versão Popular que não chegou a ser lançada. Desde então, continuou trabalhando músicas que buscam dialogar com o cotidiano das periferias, como “Diarista”, “De Volta Pra Casa” e “No Último Vagão”.

Além disso, ele já dividiu o palco com grandes nomes do rap nacional, como Racionais MC’s, Emicida, NDEE Naldinho, RZO, GOG, Rael, Consciência Humana e Sabotage.

‘O rap me deu caminhos de sobreviver e visão para várias coisas. É um meio de expressão para nós, que somos negros, de periferia e filhos de nordestinos. Proporcionou a oportunidade de ir buscar o que é nosso’

Cocão Avoz

Nas salas de aula

O artista, ao longo da jornada, estabeleceu parcerias frequentes com escolas, utilizando o hip-hop como ferramenta de comunicação acessível. Inclusive, é um trabalho que não pretende abandonar. “O hip-hop como linguagem na escola é muito importante”, diz o artista.

A música “De Volta para Casa”, por exemplo, tem o clipe gravado em uma unidade escolar, no qual Cocão aparece como professor e com a participação do poeta Sérgio Vaz.

Cocão tem se dedicado a levar a poesia para escolas das periferias @Mateus Monteiro/Agência Mural

Em 2023, foram feitas cerca de 50 apresentações, sendo a maioria em escolas. Em um único mês, em setembro, ele realizou shows em nove escolas com o evento “poesia do rap”.

Em muitas vezes, os convites são feitos por professores e coordenadores das instituições de ensino. Na Escola Estadual Ruy Mesquita, na Vila Brasilândia, zona norte de São Paulo, o rapper fez uma apresentação para mais de 130 jovens em novembro. O objetivo da palestra foi falar sobre o projeto de vida, remetendo a importância de ir atrás dos sonhos.

“Os alunos adoraram a presença dele, se identificaram muito com o Cocão, principalmente por causa das falas e poesias. O rap retrata o cotidiano da periferia, que é a realidade deles”, diz a vice-diretora Marina Cerra, 42.

Na Cooperifa

Desde 2003, o cantor integra os trabalhos da Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia), onde participa dos saraus recitando poesias durante as apresentações no bar do Zé Batidão.

Em 2019, lançou o livro ‘Pra não dizer que não falei das ruas’, uma criação inspirada por suas experiências na Cooperifa, letras de hip-hop e pelo desejo de ampliar a expressão artística, com prefácio do poeta Sérgio Vaz e posfácio do DJ KL Jay.

Foi nesse projeto cultural que ele deu início ao processo de declamar poesias, por admirar a potência que a oralidade traz desse movimento. “O rap é ritmo e poesia. Na Cooperifa eu tiro o ritmo e deixo a poesia”, afirma Cocão.

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Mateus Monteiro

Jornalista. Porta-voz da periferia, lugar que tem afinidade desde o seu nascimento. Correspondente do Jardim São Luís desde 2022.

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