Falta de iluminação, sem banheiros, e muita sujeira. Essas são algumas das reclamações dos moradores que precisam pegar ônibus dentro do Terminal Rodoviário de Ribeirão Pires, na Grande São Paulo. O local passa por obras desde o ano passado, mas houve paralisações e há dúvidas sobre o prazo final dos trabalhos.
No ano passado, o ex-prefeito Clovis Volpi (PL) publicou que a obra duraria aproximadamente 12 meses. Mas, segundo o contrato, o trabalho deve se estender até o final do próximo ano. Hoje o filho de Clovis, Guto Volpi (PL) é o prefeito, após vencer uma eleição suplementar por conta do afastamento do pai.
O Terminal Rodoviário foi inaugurado em 2009 e, desde então, há queixas sobre a estrutura do espaço, como infiltrações no telhado de madeira e as vigas expostas.
A professora da rede estadual Valderez Maria Coimbra, 63, diz que a reforma reduziu o espaço de circulação dos pedestres e os tapumes na entrada também complicaram o trajeto de quem depende do transporte público. Além disso, há falta de banheiros para os passageiros.
“A própria arquitetura do [terminal] não é muito funcional porque é alongada, então a distância para percorrer até chegar na parada do ônibus, para quem tem mobilidade reduzida, é complicada. O tipo de piso também é inacessível aos cadeirantes”, diz a educadora que faz parte do Codema (Conselho Municipal de Meio Ambiente).
Ela mora no município há 54 anos e utiliza o transporte público para lecionar na escola estadual que fica no bairro São Caetaninho. Também cita que os pontos ficam lotados nos horários de pico.
Localizada no ABC, Ribeirão Pires é uma cidade de 115 mil habitantes e considerada Estância Turística, por conta das áreas de preservação ambiental como a Represa Billings. A reforma do terminal foi planejada como forma de apoiar o turismo local.
Em maio, Valderez participou da reunião ordinária do Codema, junto com alguns representantes da prefeitura, quando foi tratado sobre a paralisação da obra parada, a segurança dos passageiros e o prazo da entrega.
Na ocasião, alegaram que o projeto é uma parceria da cidade com o governo do estado, por intermédio da Dadetur (Departamento de Apoio ao Desenvolvimento dos Municípios Turísticos). Integrantes da gestão afirmaram ter ocorrido nos repasses para seguir com a reforma. Durante a conversa, a informação é de que as obras voltariam ‘a todo o vapor’.
Procurada, a Secretaria Estadual de Turismo negou atrasos e afirma que o Dadetur já fez o repasse de R$ 4,4 milhões em recursos do estado e que cabe ao município a contrapartida de R$ 625 mil.
A entidade afirma ainda que o convênio pactuado pelo estado com a cidade de Ribeirão Pires para reforma do Terminal Rodoviário Turístico, “possui prazo de vigência até 1 de outubro de 2024, sendo de responsabilidade do município concluí-lo até a data mencionada.”
Para o auditor fiscal e ativista Alexandre da Silva, 48, falta transparência do poder público com os moradores da região. “O cronograma está atrasado e o administrador parece não se importar com isso.”
Além disso, Silva aponta a ausência de um projeto adequado de iluminação técnica, ventilação e falta de fiscais no local que acompanhem a reforma. A Agência Mural esteve no terminal e constatou que havia dois funcionários trabalhando.
“A gente não vê fiscalização com relação à integridade física do usuário. As faixas de pedestres estão mal sinalizadas. Ninguém orienta o passageiro aqui dentro. Atrapalha as pessoas que circulam, elas acabam se arriscando”, diz Silva.
Morador da Vila Suíça há 3 anos, o ativista diz que os ônibus demoram 40 minutos ou mais e a população desconhece a integração de linhas disponíveis – pelo terminal transitam ônibus municipais e linhas intermunicipais. Em vez de ficar esperando, ele anda cerca de 30 minutos ou utiliza transporte por aplicativo.
A filha dele, Letícia Balbina Soares, 18, estudante de nutrição no Butantã, na zona oeste de São Paulo, precisa sair antes da aula acabar para conseguir pegar o ônibus em Ribeirão Pires. “Ela precisa pegar o último às 23h10 se perder tem que ir de Uber”.
Letícia trabalha como jovem aprendiz e entra na empresa às 9h, no Jardim Ribeirão Pires. Precisa sair de casa 1h30 antes e pegar dois ônibus para chegar no horário.
“Pego o primeiro ônibus às 7h50, chego rápido no centro e tenho que esperar até 8h20 para pegar o segundo. É cansativo, poderia ter mais opções”, diz a jovem.
Outro problema citado por moradores é a iluminação. O técnico em metrologia Vagner Alencar, 36, conta que a prefeitura implantou um sistema de energia fotovoltaica (solar) no telhado do terminal, porém à noite a luz fica fraca. “As pessoas se sentem inseguras e preferem esperar o ônibus fora do terminal. A administração deixou largado nesse sentido”.
Em relação à integração dos ônibus, Alencar afirma que o sistema não funciona de forma eficiente. O espaço para aguardar o transporte público fica no final da plataforma perto dos materiais da obra.
“A integração aqui é uma vergonha e humilhante para os passageiros. Deveriam divulgar com placas ou faixas”.
A Agência Mural entrou em contato com a Prefeitura de Ribeirão Pires que não respondeu até a publicação desta reportagem.