O corre de quem enche o prato de pessoas em situação de insegurança alimentar nas cidades e bairros das periferias de SP
Por: Kaliny Santos | Matheus Oliveira | Renata Leite
Notícia
Publicado em 31.08.2022 | 16:02 | Alterado em 31.08.2022 | 18:37
A comida não chegou no prato de todos que vivem nas periferias de São Paulo. Para suprir a demanda da fome nas quebradas, diversas ONG’s (Organização Não Governamental), coletivos formados por moradores, lideranças comunitárias, grupos religiosos, entre outros, criaram redes de solidariedade essenciais na pandemia de Covid-19.
No entanto, as doações vêm caindo e a necessidade de conseguir comida seguiu com a alta dos preços. A fome chegou a 33 milhões no Brasil e 76% da população que vive em favelas afirma que ao menos um dia faltou dinheiro para comprar comida, segundo a última pesquisa do Data Favela.
Por conta disso, a Agência Mural traz uma lista com iniciativas de quem está no corre para encher o prato de pessoas em vulnerabilidade em bairros das periferias de São Paulo e nas cidades da região metropolitana. A lista serve para você que quer ajudar e também para quem está em busca de apoio. Se você conhecer mais algum projeto das periferias de São Paulo, nos dê um salve.
ZONA NORTE
Há oito anos, a ONG Multiplicando Amor distribui cestas básicas pelas comunidades Agreste e Tubos, na região do Jaraguá, zona norte de São Paulo. Em 2022, eles chegaram a distribuir 150 cestas em abril, no atual momento caiu para 5 cestas básicas. Essas doações são geralmente para famílias que têm crianças.
De julho de 2021 até o final do ano, foram entregues mensalmente 300 marmitas nas duas favelas. As doações vêm por meio de divulgação do Instagram, WhatsApp, amigos e venda de rifas.
“Hoje está difícil para todo mundo, então as pessoas que ajudavam estão ajudando menos, porque está tudo com o preço nas alturas. Vou pedindo, mas a gente nunca sabe o que vai entrar no mês seguinte”
Andrea de Fátima Velcev, fundadora e presidente da ONG.
“Todos os dias bate gente na minha casa procurando cestas básicas ou alimento, o que eu tenho eu dou. Esses dias vieram buscar uma cama de solteiro na minha casa”, comenta Andrea.
Onde: Jaraguá, zona norte de São Paulo
Para doar: PIX: 11966360666
Contato: @juntosmultiplicandoamor
Um momento de Amor atua na Comunidade da Coruja, no bairro da Vila Guilherme, também na zona norte. Eles fazem a entrega de 12 cestas por mês, além de entregar roupas, cobertores, absorventes e protetores diários para todas as pessoas que menstruam. Para manter o trabalho, eles buscam doações e estão montando uma biblioteca para crianças e adolescentes.
Onde: Vila Guilherme, zona norte de São Paulo
Para doar: https://apoia.se/umanasruas
Redes sociais: https://www.instagram.com/umanasruas/
Desde maio de 2021, uma vez por semana, Patricia Cunha de Lima, 35, cozinha em casa junto a outros quatro voluntários 200 marmitas e cobertores que distribui todas às segundas-feiras entre os bairros do Morro Grande, Brasilândia, Vila Zat e trechos da Av Mutinga, na zona norte de São Paulo.
“Faço as marmitas na minha casa, mas tem semanas que a gente não consegue fazer por falta de doação mas, a nossa intenção é poder ajudar mais pessoas”, diz a criadora do Somos Todos Filhos do Pai.
Além dos voluntários, o projeto conta com a ajuda de apoiadores dos comércios locais e pessoas físicas. A maioria dos alimentos chegam por doações de amigos, promoção de rifas e divulgação.
Onde: Pirituba, Brasilândia e Morro Grande, na zona norte de SP
Instagram: https://www.instagram.com/somostodosfilhosdopai/
Para doar: PIX: [email protected]
ZONA SUL
O projeto Anjos da Sul começou com a escolinha de futebol para crianças de 7 a 17 anos, no Jardim Riviera, região da Estrada do Riviera, na zona sul. Foi criada em 1994 pelo empresário Carlos André Furtado, 46, conhecido como André Bokinha.
Antes de vir para São Paulo, ele era atendido pelos trabalhos sociais lá no morro da Mangueira, no Rio de Janeiro. “O estalo maior que fez nascer o projeto foi ter vivido uma infância muito difícil, muito pobre, filho de mãe solteira e ver essa situação se repetindo no bairro.”
A Anjos nasceu em 2002, com foco em enfrentamento, combate à fome e desigualdade social. Na região, o projeto consegue ajudar de 70 a 80 pessoas ou famílias, porém a soma é de mais de 1.000 cadastrados para recebimento de cestas básicas e marmitas.
Há 9 anos, para ter uma verba fixa para manter o projeto de pé, Bokinha vendeu o carro modelo Fiorino e algumas bicicletas que tinha. Com o dinheiro abriu uma pizzaria. Hoje, 30% do lucro do comércio é destinado para ONG, enquanto a maioria das doações, seja em dinheiro ou de alimentos, vem de amigos e pequenos comerciantes. “Temos 3 apoiadores fixos e mais uns 10 a 20 que apoia de vez em quando.”
Onde: Jardim Riviera, no distrito do Jardim São Luís, zona sul de SP
Endereço: Rua João Antônio Braz, 51, no bairro do Jardim Riviera, região do Jardim Ângela, zona sul.
Instagram: instagram.com/anjosdasul.oficial/
WhatsApp: 11-95963-1597
Para doar: PIX: [email protected]
O projeto Caravana Da Fraternidade existe há 11 anos e é formado por cinco voluntários. O grupo entrega cestas básicas todos os meses em alguns bairros da zona sul, são eles: Parelheiros, Grajaú, Guarapiranga, Marsilac, Jabaquara e Cupecê. Sendo um total de 89 cestas distribuídas entre os bairros.
Onde: Parelheiros, Grajaú, Guarapiranga, Marsilac, Jabaquara e Cupecê, na zona sul de SP
Instagram: https://www.instagram.com/caravanadafraternidade/
Para doar cestas: http://www.realcestas.com.br/entidade/caravana-da-fraternidade/
Conta: PIX: 167.824.738-36
A ONG DaRua surgiu no início da pandemia, quando junto com a recomendação de ficar em casa, surgiu a preocupação com aqueles que não tinham essa opção: as pessoas em situação de rua. Hoje, o projeto se tornou a Associação de Assistência e Desenvolvimento Humano DaRua.
Eles entregam kits de higiene, água, cobertores, roupas, calçados, hambúrgueres e muito amor.
A rota de atuação é dividida entre zona norte (nos bairros Vila São João e Santana) e na zona sul (Sacomã, Vila Mariana, Brooklin, Moema e Vila Mercês), entre outras regiões da cidade.
A ONG também já chegou a fazer doações de 10 carroças para a coleta de recicláveis, 186 barracas, 39 sacos de dormir, 30 isolantes térmicos, mais de 85 toneladas de alimentos, 20 kits escolares e mais de 2.200 brinquedos. Para fazer doações ao projeto clique aqui.
Onde: zonas sul e norte de SP
Para doar: https://www.somosdarua.org/product-page/cesta-b%C3%A1sica-ou-cart%C3%A3o-alimenta%C3%A7%C3%A3o
ZONA OESTE
A Associação de Moradores do Jardim D’Abril II fica na zona oeste, próxima do limite entre São Paulo e a cidade de Osasco, na região metropolitana.
Segundo a presidente da Associação de Moradores do Jardim D’Abril II, Claudete Cordeiro dos Santos, 49, desde março deste ano o volume de doações vem caindo. Para Claudete a diminuição está relacionada com o aumento nos preços dos alimentos e a diminuição do poder de compra das famílias.
Para manter a alimentação da comunidade, a entidade distribui semanalmente marmitas para as famílias locais e para pessoas em situação de rua na região da estação de trem de Osasco e próximo a um antigo supermercado no centro de Cotia.
Para doações: Ir ao Centro Comunitário
Endereço: Praça Tomas Coelho de Almeida, n°1248 ou n°1315, Jardim d’Abril, São Paulo
A cuidadora de idosos Vera dos Santos, 51, ajuda as pessoas desde nova. Quando criança vivia na favela do Jaguaré, onde recolhia alimentos, lavava-os e distribuía para as famílias pobres da região. Aos 22 veio para a favela do Sapé, no Rio Pequeno, na qual montou uma rede de voluntários para doar cestas básicas e marmitex para os moradores.
Desde fevereiro de 2019, Vera conta com 12 voluntários para atender cerca de 1.500 famílias cadastradas. Durante a pandemia de Covid-19, ela distribuiu cestas básicas para os moradores da Sapé e atendia demandas de fraldas e remédios. Os mantimentos são fruto de doações.
A cuidadora de idosos afirma que faz tudo a pé e que a ajuda que presta depende apenas do seu trabalho. “A única coisa que eu uso são os meus braços, minhas mãos e minha boca e mesmo assim não estou dando conta. Desde março [de 2022] as doações caíram. Então damos preferência para os idosos que moram sozinhos e os doentes”, explica Vera.
Além da doação de mantimentos, Vera se prepara para a festa do dia das crianças onde espera poder distribuir doces e brinquedos.
Onde: Rio Pequeno, zona oeste de São Paulo
Para ajudar: (11) 98499-3591
ZONA LESTE
O projeto São Mateus em Movimento iniciou como um coletivo de artistas e articuladores culturais na Favela da Vila Flávia, em São Mateus, onde se encontra a maior parte das famílias abastecidas e é o local da sede da ONG.
Há 15 anos, o grupo oferece oficinas artísticas e esportivas para crianças e jovens durante a semana e, aos finais de semana, fomenta apresentações relacionadas à cultura hip hop e a distribuição de cestas básicas às famílias locais.
Para manter as doações, o grupo tem feito eventos beneficentes e venda de obras de artes de artistas locais.
Onde: São Mateus, na zona leste de SP
Para doar: PIX com o CNPJ 14.315.341/0001-60
Instagram: https://www.instagram.com/saomateusemmovimento/
Contato: [email protected]
Criado em outubro de 2021, o projeto Realize organiza eventos infantis, atendimento à população em situação de rua e doações de cestas básicas nas regiões de São Miguel de Paulista e Itaim Paulista, na zona leste da capital.
Nas festas para as crianças, o grupo distribui lanches, doces e brinquedos para os pequenos. Já nas ações para a população em situação de rua, o projeto doa marmitas e cobertores na região central da cidade de São Paulo.
A organização chegou a distribuir cestas básicas para famílias do Jardim Lapenna, em São Miguel, atingidas por enchentes no começo deste ano. Nas últimas semanas o Realize não tem conseguido doar cestas básicas por falta de alimentos. O projeto trabalha apenas com doações para concretizar suas ações.
Endereço: Rua Rio Quebra Anzóis, n° 901.
Para doar: Pix: [email protected]
Atuante na região do Jardim Helena, na zona leste, a Trupe do Bem doa comida, cobertores, água e kits de higiene em pontos de concentração de pessoas que vivem nas ruas como a Praça do Forró, Hospital Tide Setubal e na Avenida Marechal Tito. As saídas para as doações são feitas uma vez por semana com a distribuição de cerca de 100 marmitas.
Um dos coordenadores da Trupe do Bem, Roger Soares, 31, destaca a importância do trabalho e pontua como a organização se mantém nos últimos meses. “Está difícil para quem vive de doação, mesmo assim a gente continua. Por vezes colocamos do nosso próprio bolso para não faltar mantimentos nas nossas ações. É ótimo ajudar, mas o legal seria que as pessoas não precisassem de doações para sobreviver.”
Onde: Jardim Helena, na zona leste de SP
Instagram: https://www.instagram.com/trupedobemsp/
Para doar: PIX: [email protected]
A Associação Fênix trabalha há cinco anos em Cidade Tiradentes, na zona leste da capital. Desde 2019, a organização distribui cestas básicas e alimentação para as famílias pobres da região. De acordo com a coordenadora, Marcela Ferreira, 41, a entidade tem cerca de 900 famílias cadastradas na região da avenida Inácio Monteiro.
A organização distribui café da manhã e almoço três vezes por semana. Os alimentos são preparados na própria cozinha da Marcela. A entidade também doa remédios, leite, fraldas e roupas e também organiza celebrações em datas festivas como o Natal solidário e cuida dos animais de rua do bairro.
Onde: Cidade Tiradentes, zona leste de SP
Endereço: Rua Barão Antônio de Benfica, com a Travessa Marcelina n°35
Para doar: Pix: 14777423000127
GRANDE SÃO PAULO
O Mandela Free é um movimento social atuante na favela São Rafael, em Guarulhos. Desde 2018, a organização realiza festas comunitárias em dias comemorativos, apresentações artísticas, exibição de filmes, batalhas de rimas e dispõem de um cursinho comunitário.
Em agosto de 2020, a articulação local se voltou para reerguer 18 casas destruídas por um incêndio na favela. Por conta do fogo, cerca de 20 pessoas ficaram sem ter onde morar. O Mandela Free tem campanhas de arrecadação de dinheiro para a construção de moradias de alvenaria. Até o momento 14 casas foram erguidas com cerca R$ 58 mil obtidos via doações.
Em paralelo, o grupo realiza a doação esporádica de cestas básicas. As entregas são feitas de acordo com a disponibilidade dos mantimentos. O Mandela Free já distribuiu 412 cestas básicas para as 500 pessoas cadastradas.
Onde: Guarulhos, na Grande SP
Instagram: https://www.instagram.com/mandela_free/
Para doar: Pix: [email protected]
Criado pelo funcionário público Horácio Luiz, 38, o Instituto Atitude Positiva começou a fazer doações de alimentos na pandemia para os moradores em situação de rua, no município de Osasco, próximo às favelas Casinha e Fazendinha .
O atendimento é feito para 125 famílias semanalmente, com a entrega de kits de alimentos, com verduras, legumes e frutas. “Estamos com dificuldade de arrecadação. No ano passado (2021) passamos mais de 3.000 cestas básicas, mas este ano devido à carência de recursos não conseguimos metade, então tivemos que mudar o meio de trabalho e fazer algumas parcerias.”
A doação de alimentos e de kit higiene é feita toda quarta-feira e, em pelo menos um domingo no mês a instituição faz um evento de escuta ativa chamada “Plenária Fala Rua”, uma atividade feita junto com a população em situação de rua para escutar as queixas e suas necessidades, a instituição oferece no dia café da manhã e almoço.
“Antes conseguiamos oferecer alguns tipos de proteínas, mas hoje mudou totalmente. No evento anterior (mês de junho) entregamos feijoada, neste mês optamos por carne branca devido o custo”, diz Horácio.
Onde: Osasco, na Grande SP
Para doar: https://www.vakinha.com.br/vaquinha/o-que-voce-faz-com-r-1-00-hoje-nos-alimentamos-pessoas-com-sua-atitude-positiva
Conta: PIX/CNPJ: 43936057000100
O Instituto Gás ajuda a população em situação de rua, animais vulneráveis e comunidades em áreas de risco em São Paulo e na região metropolitana. Começaram com pequenas entregas pelas ruas de São Paulo e hoje atua em São Paulo, Osasco, Jandira, Carapicuíba, Itapevi, Barueri e no Rio de Janeiro.
Onde: São Paulo, Osasco, Jandira, Carapicuíba, Itapevi, Barueri e no Rio de Janeiro.
Para doar: institutogas.org.br/#/doacao
Jornalista e pós-graduanda em Direitos Humanos pela Unifesp, atua como analista de comunicação no Instituto Jatobás. Correspondente de Osasco, na Grande São Paulo, desde 2022.
Jornalista, educomunicador e correspondente de São Mateus desde 2017. Amante de histórias e de gente. Olhar sempre voltado para o horizonte, afinal, o sol nasce à leste.
Jornalista. Apaixonada por contar boas histórias, movida pela curiosidade e inquieta por natureza. Correspondente do Capão Redondo desde 2022.
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.
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