Dados são da Rede Nossa SP e Ibope; entrevistadas ouvidas pelo 32xSP falam sobre combate ao racismo e investimento em qualificação para reverter o cenário
Por: Redação
Publicado em 19.11.2020 | 21:48 | Alterado em 19.11.2020 | 21:48
Divulgada nesta quarta-feira (19) pela Rede Nossa São Paulo em parceria com o Ibope, a pesquisa “Viver em São Paulo: Relações Raciais” mostra que sete em cada 10 paulistanos (72%) acreditam que as pessoas negras têm menos oportunidades no mercado de trabalho do que as pessoas brancas.
O levantamento entrevistou 800 moradores da cidade de São Paulo com mais de 16 anos entre os dias 5 e 21 de setembro de 2020. Deste número, apenas 2% acreditam que negros têm mais oportunidades no mercado e 21% responderam que brancos e negros têm as mesmas chances de emprego.
“Hoje temos certas oportunidades em relação ao acesso às escolas e universidades, que antigamente era algo muito distante de nossa realidade, mas ainda não é uma diminuição suficiente para igualar com os brancos”, comenta a auxiliar administrativo Daniela Horácio, 33, moradora do Butantã, na zona oeste.
Para Daniela, mesmo com mais acesso, negros e negras ainda lidam com o racismo estrutural na sociedade, que é muito escancarado. “Com isso, muitos de nós acabam evitando certos empregos, já prevendo o preconceito que irão enfrentar”, diz.
“Você percebe pelos olhares, pelas palavras, quando você vai fazer uma entrevista e a pessoa te olha meio: ‘você veio para essa vaga de emprego?’, sem ao menos olhar as suas qualificações. Muitos vão pela sua cor, pela sua origem. É desanimador”
Daniela Horácio, auxiliar administrativo
Entre os paulistanos pretos e pardos consultados pela pesquisa Viver em São Paulo, a percepção em relação às oportunidades desiguais no mercado de trabalho é maior: 78% deles consideram que as pessoas negras não têm as mesmas oportunidades que as brancas.
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Quem também já vivenciou situações de racismo e falta de oportunidades nas vagas de trabalho é a enfermeira Danielly Alves, 25, moradora do Itaim Paulista, na zona leste da cidade. “Nos lugares onde eu trabalhei, eu sempre fui a única preta e a única com o cabelo cacheado ou crespo.”
A enfermeira, que hoje é formada e trabalha na área, cita um episódio de uma entrevista de estágio. “No dia, a entrevistadora não quis me entrevistar. Ela passou outras pessoas brancas, que chegaram depois de mim, na minha frente”, conta Danielly.
“Ela disse que ‘nem a moça da faxina é preta, por que a enfermeira tem que ser?’, disse que meu cabelo chamava muita atenção”
Danielly Alves, enfermeira
COMBATE AO RACISMO E MAIS QUALIFICAÇÃO
Para Daniela Horácio, reverter esse cenário depende do investimento em políticas públicas e mais oportunidades de qualificações para negros e negras. “Acho que ainda deve se ter a cota, porque ela é uma chance da pessoa ingressar no mercado de trabalho e na faculdade”, diz.
A oportunidade é compartilhada por Danielly Alves. “Tem que dar capacitação para as pessoas que têm menos oportunidades. Não é porque a cor da minha pele é diferente da cor do outro que isso me faz menos inteligente ou menos capaz”, comenta. “E, com certeza, tem que ter menos racismo”, complementa.
OPORTUNIDADES DE TRABALHO
Segundo o Mapa da Desigualdade 2020, estudo que também é publicado pela Rede Nossa São Paulo, os distritos da capital paulista com menos taxas de emprego formal são aqueles onde há maior população negra.
O distrito de Iguatemi, na zona leste, onde 50,9% da população é negra, registra apenas 0,3 posto de emprego formal para cada 10 moradores (o índice mais baixo em toda a cidade).
O contrário ocorre com as regiões com mais oportunidades de trabalho: o Brás, no centro, e a Barra Funda, na zona oeste, são detentores dos melhores índices de oportunidades de trabalho. Por lá, existem 113 e 52 postos, respectivamente, para cada 10 moradores.
No Brás, 33,5% da população é preta ou parda; na Barra Funda, 15,7%.
OUTROS DADOS DA PESQUISA DE RELAÇÕES RACIAIS
• Para oito em cada 10 paulistanos (82%), declarações com conteúdo racista ou preconceituoso feitas por políticos estimulam o racismo ou preconceito na cidade de São Paulo.
• Oito em cada 10 paulistanos (80%) concordam que aumentar a representatividade das pessoas negras na política e nos cargos de poder contribui para diminuir as desigualdades estruturais.
• Para 53% dos moradores de São Paulo, os protestos ocorridos em várias cidades do mundo pedindo o fim da violência policial contra a população negra provocaram maior conscientização sobre o racismo, inclusive no Brasil.
• Apenas quatro em cada 10 entrevistados pela pesquisa (43%) concordam que já temos ferramentas suficientes para combater o racismo.
Com colaboração de Vagner de Alencar.
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