No eixo de Desenvolvimento Social, o documento apresenta como nona meta “assegurar acolhimento para, no mínimo, 90% da população em situação de rua”
Por: Redação
Publicado em 31.07.2017 | 14:26 | Alterado em 31.07.2017 | 14:26
Em meio a denúncias de maus-tratos a pessoas em situação de rua e ações arbitrárias dos funcionários da prefeitura, João Doria (PSDB) lançou projetos com foco na acolhida desta população, divulgados na versão final do Plano de Metas (2017-2020) de seu governo. No eixo de Desenvolvimento Social, o documento apresenta como nona meta “assegurar acolhimento para, no mínimo, 90% da população em situação de rua”.
O projeto Espaços Vida prevê a implantação de 4 novos espaços com acessibilidade e capacitação profissional, avaliação e melhoria na infraestrutura dos centros de acolhida já existentes e criação de 9 unidades de CTA (Centros Temporários de Acolhimento). “A meta da prefeitura não difere das iniciativas de outras gestões. Com Erundina, tinha o complexo Boracéia, com Kassab, o complexo Prates, e com Haddad, a Cajuru”, lembra Guilherme Giuliano Nicolau, mestre em Ciência Política pela Universidade de São Paulo.
Para o padre Julio Lancellotti, coordenador da Pastoral de Rua da Arquidiocese de São Paulo, os projetos governamentais deveriam ser estabelecidos a partir das demandas da população e não da administração. “Sem dúvidas, o que a população que está nas ruas espera não são mais centros de acolhida, mas, ter moradia, ter espaço de autonomia e de autogestão, locação social. É preciso ter respostas diferenciadas segundo as necessidades das pessoas”, afirma.
De 2011 a 2015, o número de moradores de rua da região central da cidade aumentou e o de acolhimentos caiu, segundo o Observatório Cidadão. Conforme reportagem publicada no ano passado pelo 32xSP, a recusa aos abrigos públicos se dá devido à falta de autonomia e liberdade, problemas de estrutura, higiene, segurança e pré-requisitos para o acolhimento que impossibilitam o ingresso de parte desta população.
De acordo com Ricardo Borges Martins, coordenador da Minha Sampa – rede que fiscaliza as ações do poder público e promove mobilizações dos cidadãos frente a elas –, o número de pessoas em situação de rua excede o de vagas em abrigos previstas pelo projeto. “Agora, tão importante quanto as leis e metas, é garantir que elas sejam cumpridas. Esse é o teste real para a gestão Doria”, comenta.
Outro projeto apresentado nesta meta, o Trabalho Novo, visa proporcionar vagas de emprego e capacitação para 35.000 pessoas em situação de rua, entre outras medidas para inclusão deste público no mercado de trabalho.
Apesar da proposta de inovação em assistência, o início do governo Doria foi marcado por reclamações de violações de direitos dos moradores de rua e violência durante ações de zeladoria e limpeza urbana. Em janeiro, foi alterado o decreto do ex-prefeito Fernando Haddad (PT) que proibia a GCM (Guarda Civil Metropolitana) de recolher colchões e cobertores, os chamados “rapas”. Após as denúncias, foi publicada uma portaria, no final de maio, vetando a retirada dos pertences por agentes públicos.
No entanto, o problema persiste, segundo queixas recebidas pela Pastoral de Rua neste mês. “Todos os dias são feitas ações no centro da cidade e a equipe de zeladoria e limpeza urbana continua agindo como sempre agiu. Apesar de ter saído essa nova portaria, ela não tem sido obedecida”, denuncia Lancellotti.
Segundo Nicolau, o problema da população de rua é estrutural e não será solucionado apenas com medidas assistenciais. “O sistema de assistência social é semelhante ao sistema carcerário. A disciplina aos corpos e comportamentos, a gestão de populações, a restrição de acesso e programação de uma vida em foco ininterrupto por agentes de Estado privam o indivíduo de qualquer autonomia. As pessoas em situação de rua, como refugiados urbanos, são perseguidos ininterruptamente pelas forças do Estado, em deslocamento forçado ou transitando entre o sistema prisional e o sistema de albergues”, analisa.
Foto: Janssem Cardoso/ Flickr
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.
Se você quer saber como republicar nosso conteúdo, seja ele texto, foto, arte, vídeo, áudio, no seu meio, escreva pra gente.
Envie uma mensagem para [email protected]