Por: Luana Nunes
Notícia
Publicado em 15.08.2018 | 18:29 | Alterado em 22.11.2021 | 16:13
O bairro é Barragem, no distrito de Parelheiros, zona sul de São Paulo. São 5h30 da manhã e a diarista Estela Márcia, 48, sai de casa para mais um dia de trabalho. Antes de iniciar as três horas no transporte público, a viagem começa com 30 minutos de caminhada de casa até o ponto final do primeiro ônibus.
O percurso até o emprego, na Avenida Paulista, é feito por meio da linha 6L05/10 Terminal Parelheiros – Barragem. A parada final é na Estrada da Barragem e de lá o único jeito para chegar às moradias é seguir a pé em vias sem asfalto.
Para quem trabalha e estuda, as 24 horas do dia parecem insuficientes. Mãe de três filhos, Estela cursa serviço social na faculdade Uninove, em Santo Amaro, por ser a opção mais próxima de casa a 30 km do bairro. A rotina de chegar tarde e sair cedo no dia seguinte fez com que ela optasse por estudar à distância.
Ela se mudou para a região há 16 anos e diz que, em todo esse tempo, foram poucas as melhorias no transporte público. Diante das dificuldades, dois filhos optaram por morar em outro lugar. O mais velho, Victor Augusto, 26, foi o primeiro a sair de casa, mudou-se para região de Santo Amaro. Samara Isabelle, 22, seguiu os passos do irmão e foi morar na região do Grajaú para concluir a faculdade de pedagogia e trabalhar.
“Criamos filhos para o mundo, mas normalmente queremos eles sempre dentro de casa, eu não dormia enquanto minha filha não chegava, então essa mudança me ajudou a ter mais tranquilidade em saber que ela estava bem e chegando em casa mais cedo”, diz.
A futura assistente social relata que se acostumou com a distância. Porém, por vezes, teve medo de sair na rua de madrugada para esperar a condução e já tomou sustos.
“Eram 4h30 e estava indo para uma consulta, sozinha. No caminho que faço a pé para pegar o primeiro ônibus tinham homens parados, no escuro, esperando por alguém, e eu não tinha como voltar”, conta. “Consegui passar por eles, mas foi um grande susto, achei que iam fazer algo comigo”, conclui.
DIFICULDADES
Um dos maiores desafios enfrentados por quem vive no extremo sul é a distância entre casa e trabalho. Os 131 mil habitantes de Parelheiros (dados do Censo 2010) contam com apenas seis linhas de ônibus que saem do terminal. Apenas três levam praticamente toda a população para o centro da cidade: 695Y/10 – Metrô Vila Mariana, 6000/10 – Terminal Santo Amaro e 6091/10 – Terminal Santo Amaro.
Segundo pesquisa do Ibope, realizada pela Rede Nossa São Paulo em setembro do ano passado, os bairros do extremo sul e extremo leste da capital têm o maior índice de tempo de viagem, chegando até a três horas.
Além de Barragem, outros bairros que ficam ao redor dela também exigem uma longa caminhada em vias sem asfalto para fazer o trajeto, por exemplo, Santo Antônio, Vera Cruz, Jardim Paulista, Cidade Luz, Evangelista de Souza e Krukutu.
A Estrada da Barragem é a única que vai até o bairro de mesmo nome e fica praticamente no final do distrito de Parelheiros, próximo à Serra do Mar. No passado, o local serviu de caminho para o litoral de trem – atualmente há apenas transporte de carga pelos trilhos.
Moradores da região afirmam que já houve pedidos para a expansão da linha de ônibus pelo bairro, porém, nada foi feito. Mariana Santos, 22, mora com a família na região desde que nasceu e tem um filho de 2 anos. “Às vezes tenho que sair às 5h30, dependendo de onde é, para não perder o horário”, conta sobre quando precisa levar o filho a uma consulta médica.
A prefeitura regional de Parelheiros informou que não tem autorização para pavimentar ruas de grande parte da região por se tratar de uma APA (Área de Proteção Ambiental), o que impossibilita a expansão das linhas de ônibus para todos os bairros.
Luana Nunes é correspondente de Barragem
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Moradora de um lugar tão tão distante, que carinhosamente chama de Paris. Colaborou na HQ “Minas da Várzea”. É apaixonada por música, futebol, fotografia, shows e viagens. Atualmente é repórter de tecnologia no Gizmodo Brasil. Correspondente de Parelheiros desde 2018.
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