Mais da metade afirma que se tivessem casos de Covid-19 por perto evitariam mais sair de casa, de acordo com levantamento do Ibope
Léu Britto/Agência Mural
Por: Lucas Veloso
Notícia
Publicado em 10.06.2020 | 15:41 | Alterado em 10.06.2020 | 15:41
“O que você faria se recebesse informações oficiais de que o bairro ou a rua tem altas taxas de contaminação e mortes por Covid-19?”. Essa foi uma das perguntas feitas na pesquisa Viver em São Paulo – Especial Pandemia. 57% das pessoas responderam que ‘passariam a sair menos de casa para ficar o mais isolado(a) possível’.
Divulgada nesta terça-feira (9) pela Rede Nossa São Paulo em parceria com o Ibope Inteligência, o levantamento mostra a percepção dos paulistanos sobre os impactos do coronavírus nos bairros e as medidas adotadas na cidade para conter o avanço da doença.
Moradora de Cidade Tiradentes, na zona leste da cidade, a jornalista Rubia Mara Oliveira, 30, diz que as informações são importantes, mas que os dados chegam diferentes na periferia.
“A gente vive uma série de violência e a pandemia é mais uma das dores”, comenta. “Qual a porcentagem das periferias? A gente não sabe e muita gente desacredita”.
Rubia relata que no bairro não teve isolamento físico entre as pessoas. Nas suas palavras, ‘mercados viraram shoppings centers’, além disso, igrejas e bailes funk não foram interrompidos nas últimas semanas. “Não teve isolamento nas periferias e não foi diminuído o movimento”, acrescenta.
Apesar de dispensadas do trabalho, ela afirma que os vizinhos não ficaram isolados. A jornalista diz ainda que, sem testes e atendimento adequado nas periferias, a ausência de informação causa ainda mais danos na região.
Essa sensação começou ainda antes do processo de reabertura econômica, anunciado nas últimas semanas pelo governo do estado.
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No estudo, a Rede Nossa São Paulo contou com o suporte do Ibope Inteligência, responsável pelas entrevistas online. O levantamento ouviu 800 pessoas com idades a partir de 16 anos durante a quarentena na capital paulista, entre os dias de 21 de maio a 01 de junho de 2020, das classes A, B e C. A pesquisa tem margem de erro de três pontos percentuais.
O levantamento indicou entre outros fatores uma piora na avaliação da prefeitura, governos estadual e federal, no combate à Covid-19, e também que a maioria considera importante tentar reduzir a desigualdade social.
De acordo com o pesquisador em Planejamento e Gestão do Território, Aluízio Marino, 33, uma das falhas na cidade é a falta de informações específicas sobre a Covid-19 nos bairros. “Não dá para atuarmos no geral. Por exemplo, as ações da prefeitura, como o feriadão e o mega rodízio agiu como se os trabalhadores tivessem todos nas mesmas condições”.
Aluízio diz acreditar que as políticas de informação deveriam partir das casas e endereços onde os casos e óbitos da pandemia são registrados. “A informação é um elemento muito importante e fundamental para combater a pandemia”, alerta.
Para Aluízio, sem dados confiáveis e atualizados diariamente para acesso das pessoas, o poder público dá abertura para narrativas que negam a gravidade da doença e espaço para notícias falsas. “Com informação, teríamos como informar melhor as pessoas nos bairros e agir onde há mais casos com estratégias”.
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.
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