APOIE A AGÊNCIA MURAL

Colabore com o nosso jornalismo independente feito pelas e para as periferias.

OU

MANDE UM PIX qrcode

Escaneie o qr code ou use a Chave pix:

[email protected]

Agência de Jornalismo das periferias
Democratize-se!

Pedestres alertam para riscos em passarela de acesso ao Aeroporto de Guarulhos

Ponte do Rio Baquirivu-Guaçu que liga avenida Jamil João Zarif ao aeroporto apresenta condições precárias e gera insegurança ao atravessar

Ponte do Rio Baquirivu-Guaçu

Amanda Oliveira/Agência Mural

Por: Amanda Oliveira | Evelyn Fagundes

Notícia

Publicado em 25.04.2025 | 12:12 | Alterado em 25.04.2025 | 13:56

Tempo de leitura: 4 min(s)

Com uma estrutura que balança e faz barulho, a passarela que possibilita a travessia de pedestres para o Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, na Grande São Paulo, tem sido alvo constante de reclamações. A pequena ponte, localizada acima do rio Baquirivu-Guaçu, no bairro do Jardim Santa Vicência, assusta principalmente em dias de chuva, quando o nível da água se aproxima da plataforma.

Muitos dos que utilizam a passarela diariamente trabalham no aeroporto e relatam insegurança e temem pelo risco de acidentes por conta da má conservação do local. É o caso de Igor Santos, 19, funcionário do aeroporto de Guarulhos, que enxerga a situação como descaso do poder público e pede melhorias.

“A estrutura da ponte é muito precária. Ela não tem proteção lateral decente, escorrega fácil nos dias de chuva, e parece que ninguém se importa com isso. A água sobe, escorre lixo junto, vira um caos. Fica aquele contraste feio entre o luxo do aeroporto e o abandono do que deveria ser um acesso digno”, comenta o jovem, que utiliza a passarela há dois meses.

Muitos motoqueiros que trabalham com entregas fazem uso da passarela destinada aos pedestres @Amanda Oliveira/Agência Mural

Antônio Carlos, funcionário do aeroporto há dez anos, também utiliza a passarela diariamente e relata os transtornos enfrentados nos dias chuvosos. “Quando chove enche tudo e fica cheio de lixo. Mas somos reféns desse trajeto porque se não for por aqui tem que andar uns três quilômetros para chegar no próximo ponto de ônibus da avenia”, afirmou.

‘Quando chove, a situação fica perigosa mesmo. A gente brinca no trabalho que precisa de galochas ou até botes para atravessar a ponte. A travessia vira quase uma aventura’

Igor Santos

A vendedora Denise Ribeiro, 34, compartilha da mesma preocupação. “Quando chove, esquece. É perigoso as correntezas do rio, que ficam muito fortes, acabar levando a ponte porque a água é muito forte”, disse.

Antes da existência dessa passarela de ferro existia uma ponte, que caiu em 2024 e foi substituída pela plataforma atual. No fim de maio daquele ano, depois de uma forte chuva, a estrutura cedeu e precisou ser interditada. No mês seguinte, a Prefeitura de Guarulhos entregou essa passarela que era, na época, uma solução provisória, mas que permanece até hoje como o único acesso direto para muitos trabalhadores.

“Não gosto muito de atravessar ela (a ponte) parece que nunca está estável, sempre fazendo muito barulho e mexendo bastante. Infelizmente ela é a maneira mais rápida de eu conseguir pegar o ônibus e chegar a tempo para faculdade”, comenta a estudante Sarah Ribeiro, 19, que faz o trajeto diariamente há um ano.

Pedestres esperam outros terminarem de concluir o trajeto para entrarem na passarela @Amanda Oliveira/Agência Mural

A antiga passarela permitia o tráfego de veículos como carros e motos, mas, com o passar dos anos, essa circulação foi proibida. A nova estrutura, mais estreita, foi projetada apenas para pedestres.

Embora a nova estrutura seja destinada exclusivamente a pedestres, motociclistas continuam a utilizá-la como atalho, ignorando os “dispositivos anti-moto” — barras de ferro instaladas em zigue-zague para dificultar o acesso. Mesmo assim, muitos conseguem desviar desses obstáculos.

“É uma ponte que está precária, está numa situação que só Deus sabe. Qualquer momento aquela ponte pode cair com alguém em cima. Tem os motoboys que, querendo ou não, não tem como a gente julgar eles porque eles também estão indo para trabalhar, mas já é um peso a mais para a ponte que não tem uma resistência firme”, observa Denise.

Nos dias de chuva, o rio sobe e fica da altura da ponte, prova disso está à direita: lixo e entulhos que emergiram com o nível do rio e ficaram em uma viga de ferro
Estrutura apresenta buraco
O rio Baquirivu-Guaçu tem sido utilizado como ponto de descarte irregular de lixo e resíduos provenientes de enchentes
Ciclistas e motoqueiros usam passarela como atalho para trajeto de até três quilômetros

Nos dias de chuva, o rio sobe e fica da altura da ponte, prova disso está à direita: lixo e entulhos que emergiram com o nível do rio e ficaram em uma viga de ferro @Evelyn Fagundes/Agência Mural

Estrutura apresenta buraco @Evelyn Fagundes/Agência Mural

O rio Baquirivu-Guaçu tem sido utilizado como ponto de descarte irregular de lixo e resíduos provenientes de enchentes @Evelyn Fagundes/Agência Mural

Ciclistas e motoqueiros usam passarela como atalho para trajeto de até três quilômetros @Evelyn Fagundes/Agência Mural

Uma funcionária doaeroporto há 17 anos, que preferiu se identificar apenas como Rosângela, também apontou preocupação com a circulação dos motoqueiros. “Desde 2007 que eu tô aqui e essa passarela nunca melhorou. Em dias de chuva isso aqui alaga tudo e eu acho que só deveria passar pedestres pelo peso”, disse Rosângela.

Os próprios dispositivos instalados para dificultar o acesso de motos acabam afetando os pedestres. Por estarem dispostos em zigue-zague, o fluxo só permite a passagem de uma pessoa por vez, o que gera filas e atrasos, principalmente nos horários de pico.

Programa Viva Baquirivu: a promessa de mudança

O plano de macrodrenagem do Rio Baquirivu-Guaçu, conhecido como Programa Viva Baquirivu, é um projeto da Prefeitura de Guarulhos iniciado na gestão anterior. A proposta visa preservar áreas verdes, reduzir as cheias do rio e melhorar a mobilidade urbana — afetada tanto na ponte quanto nas avenidas marginais.

No início deste ano, por exemplo, as clássicas chuvas de verão fizeram o rio transbordar algumas vezes. Jornais locais registraram o ocorrido e moradores relataram que o trânsito na Avenida Jamil João Zarif ficou completamente parado, impedindo a passagem de ônibus e caminhões.

As obras para canalizar o rio Baquirivu-Guaçu começaram em 2022 e contam com financiamento externo CAF(Banco de Desenvolvimento da América Latina) de US$ 96 milhões (aproximadamente 480 milhões de reais), além de mais US$ 24 milhões (aproximadamente 120 milhões de reais) de recursos próprios do orçamento do município, segundo o prazo, a obra pode demorar cerca de 30 meses.

Os principais objetivos do programa incluem a redução de cheias por meio da ampliação da calha do rio e construção de reservatórios, a recuperação de áreas de várzea, a implantação do maior parque linear da cidade e melhorias na mobilidade urbana.

Apesar do investimento robusto e das promessas de transformação urbana, moradores ainda aguardam os resultados práticos do Programa Viva Baquirivu. Enquanto isso, seguem convivendo com os impactos das enchentes e a expectativa de que, com o avanço das obras, o cenário mude de forma definitiva nos próximos anos.

Procurada pela reportagem para falar sobre as possíveis obras de reparação na ponte ou previsão de viabilizar um caminho melhor para os pedestres, a Prefeitura de Guarulhos não retornou até a publicação desta reportagem.

receba o melhor da mural no seu e-mail

Amanda Oliveira

Jornalista, pós-graduada em comunicação e marketing e autora do livro reportagem: Liberdade Roubada- O drama de pessoas que foram presas injustamente. Causas sociais, direito de igualdade/equidade a motivaram a fazer jornalismo.

Evelyn Fagundes

Jornalista formada pela PUC-SP, instituição onde desenvolveu sua pesquisa premiada sobre o Racionais MC's. Mãe de pet e planta, é uma canceriana apaixonada por música. Correspondente de Guarulhos, na Grande São Paulo, desde 2022.

Republique

A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.

Se você quer saber como republicar nosso conteúdo, seja ele texto, foto, arte, vídeo, áudio, no seu meio, escreva pra gente.

Envie uma mensagem para [email protected]

Reportar erro

Quer informar a nossa redação sobre algum erro nesta matéria? Preencha o formulário abaixo.

PUBLICIDADE