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Percepção de que SP é tolerante aos LGBTs é maior na zona leste

Apesar de ser recordista em números absolutos de assassinatos LGBTs, SP tem apenas 23% de índice de intolerância, de acordo com estudo

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Por: Redação

Publicado em 23.05.2018 | 13:42 | Alterado em 23.05.2018 | 13:42

Tempo de leitura: 4 min(s)
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Pesquisa aponta que apenas 23% dos paulistanos considera a cidade de SP intolerante (Paula Rodrigues/32xSP)

Conhecida mundialmente por ter a maior Parada do Orgulho LGBT do mundo e abraçar a diversidade sexual e de gênero, São Paulo é o estado que mais mata LGBTs no Brasil.

Apesar disso, apenas 23% dos moradores acreditam que haja intolerância motivada pela orientação sexual ou identidade de gênero, segundo pesquisa “Viver em São Paulo: Diversidade”, realizada pela Rede Nossa São Paulo em parceria com o Ibope Inteligência.

De acordo com com dados do Grupo Gay Bahia (GGB), organização não-governamental que realiza relatórios anuais de LGBTfobia, preconceito motivado pela orientação sexual, a cada 19 horas um LGBT é morto no país. Em 2016, o número de mortos chegou a 343, sendo que 49 aconteceram em SP.

No ano seguinte, em 2017, o número pulou 59 mortes em SP e 445 no Brasil. Em 2018 já são 21 assassinatos em São Paulo, em uma realidade de 153 crimes no país. Entretanto, na percepção de moradores das regiões leste e centro, segundo a pesquisa “Viver em São Paulo: Diversidade”, SP tem altos índices de tolerância: 56% e 53%, respectivamente.

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Para o designer gráfico Bruno Herbert, 21, morador de Parelheiros, extremo sul da cidade de São Paulo, a tolerância com LGBTs está longe de ser uma realidade. Na região sul, cerca de 22% da população tem percepção de que SP ainda é intolerante.

“Estamos diante do país mais genocida contra pessoas LGBTs, o dado nem de longe representa a realidade atual, pois o que é vivenciado pela comunidade no dia a dia é na verdade uma série de violências que se manifestam de forma oculta ou extremamente declaradas que vão da porta do banheiro que traz mensagens de ódio aos comentários e olhares dirigidos nas ruas, isto quando não ocorrem ataques, que as estatísticas estão cansadas de mostrar”, afirma.

“Acredito que São Paulo não esteja mais tolerante, às vezes chegamos a acreditar de fato que as percepções estão mais desenvolvidas por conta de referenciais dentro da nossa bolha social, mas precisamos lembrar que as exceções não constituem o estado inteiro e, enquanto houver resistência diante dos debates LGBT+, medo de ser machucado por ser quem se é, pessoas continuarem marginalizadas e sem perspectivas de emprego formal, a intolerância continuará sendo alta”, completa Herbert ao contar que nunca sofreu agressões, mas já escutou comentários como ‘vira homem’ e ‘cuidado com a lâmpada’, em referência a agressão sofrida por LGBTs na região da Avenida Paulista em 2010.

Em caso de agressão ou ameaça é possível recorrer a alguns caminhos, como conta à reportagem a advogada criminalista Gisele Alessandra Schimidt, que também é militante dos direitos humanos da população LGBT.

“Há Ongs, Ministério Público, Defensorias Públicas, Comissões da OAB. A pessoa deve procurar essas entidades que buscarão, dentro de alguma legislação, mesmo que mínima, alguma tutela, ainda é importante essa procura para a criação de índices e fomentação de banco de dados”, explica.

Gisele acredita que, para diminuir o índice de violência, é preciso fazer uma mudança profunda em que o respeito deve prevalecer.

“O primeiro passo para esses índices de violência diminuírem é através de uma profunda mudança social onde o respeito deve prevalecer. Por fim tem a questão da criminalização da LGBTFOBIA, mas, como advogada criminalista e abolicionista, acredito que o direito penal deve ser a última opção, porém, na questão LGBTI, creio ser necessário a criação de um tipo penal, haja visto que essa parcela da população é extremamente vulnerável e sem nenhuma tutela”, ressalta Schimidt.

A estudante Carolina Maria, 28, moradora de Osasco, escapou por pouco de uma agressão. “Aqui em Osasco tem uma praça que tem encontro LGBT toda sexta-feira. Em um desses encontros, vi uma galera correndo, mas não sabia se era brincadeira ou se algo estava acontecendo, até que um colega tropeçou e caiu, foi quando um skinhead chutou a cara dele. Eu não podia nem ficar para ajudá-lo, porque se eu não corresse eu também apanharia. Eles não queriam nem saber se você é mulher ou não. Depois desse dia eu não tive mais coragem de voltar nessa praça, porque não temos segurança”, relata.

ZONA NORTE: MAIS INTOLERANTE

A região com maior índice de percepção de intolerância, 27%, é a norte, região em que o assessor de imprensa Luiz Felipe Marques, 24, viveu até mudar para Guarulhos.

Ele acredita que a tolerância seja parcial, nunca total. “A gente sofre o tempo todo. Já esbarraram e já jogaram um copo de refrigerante em mim, mas o pior de tudo são os olhares. Uma vez fui jantar com o meu namorado em um restaurante perto de casa e as pessoas ficavam olhando e riam”, explica.

“Era como se fôssemos uma atração cômica. Pode ser que sejamos menos perseguidos e que nos aceitem um pouco mais, mas ainda nos perseguem, ainda não nos respeitam”, completa.

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A analista de sinistro Helena de Brito, 30, moradora do Tucuruvi, zona norte, acredita que o preconceito em São Paulo é velado, ou seja, as pessoas não declaram, mas cometem LGBTfobia.

“Eu vim de uma família assim, super aberta no discurso, mas transfóbica na prática. O dado não reflete a realidade, e falo como pessoa trans, mulher trans. Você sente o olhar de nojo e reprovação das pessoas. E isso se repete dia após dia. As pessoas não gostam de se declarar intolerantes, mas o são. Você vê como SP é intolerante nos discursos de ódio que você lê na porta de banheiros, nos olhares, quando um governo de direita sobe ao poder tantas vezes como aqui. SP é uma cidade intolerante tanto quanto as outras, mas muito aqui fica debaixo dos panos muitas vezes”, conta.

Helena relembra as inúmeras intolerâncias que já sofreu. “Já fui expulsa de lotação sendo chamada de ‘raça nojenta’, já me chamaram de traveco a luz do dia, já invalidaram minha identidade me chamando de homem. Nunca sofri violência física, mas sei que entre minhas manas eu sou exceção quanto a isso. As violências vão desde não respeitar o nome social até o descaso em serviços de saúde”, ressalta Brito.

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