As periferias não estão na boca dos candidatos à presidência, mas entraram mais na linguagem dos candidatos a governador de São Paulo. Ao menos é o que indicam os planos de governo apresentados pelos candidatos à Justiça Eleitoral para a campanha deste ano.
Levantamento da Agência Mural indica uma queda no uso do termo “periferias” e “periférico” nas promessas apresentadas pelos presidenciáveis, o que muda a tendência vista em 2018.
Há quatro anos, houve um aumento que passou de 7 menções para 53. Este ano, foram apenas 11 e a metade dos candidatos não fez nenhuma citação a essas palavras.
Na contramão, os candidatos a governador vêm registrando uma alta desde 2014 e chegaram a 22 citações.
O QUE SÃO OS PLANOS: Os planos de governo apresentados são como “cartas de intenção” sobre o que será feito em um eventual mandato e trazem alguma análise sobre o cenário nacional e estadual.
A presença ou não dos termos periferias e periférico não significa que não há propostas que afetam os territórios, mas servem como uma percepção de como os candidatos têm observado esse tema.
Presidência
Os textos apresentados pelos 12 presidenciáveis mostram uma certa distância do tema periférico. A redução em quase 80% das menções foi impulsionada pelo excesso do termo em 2018 no plano de Guilherme Boulos (PSOL) – sozinho, a proposta dele continha 36 menções.
Mas os demais candidatos deste ano também não fizeram por onde sobre o assunto. O candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), as senadoras Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União), Eymael (DC), Felipe D’Avila (Novo) e Roberto Jefferson (PTB) não fazem citação ao termo, enquanto Pablo Marçal (Pros) mencionou uma vez para dizer que veio da periferia de Goiânia (GO).
O ex-presidente Lula (PT) menciona uma vez o termo periferia, numa queda em comparação com o plano apresentado em 2018, quando trouxe as periferias sete vezes. Na época, o petista foi substituído por Fernando Haddad (PT) que mencionou oito vezes o assunto.
Desta vez, o plano apresentado por Lula usa a palavra para defender amplo acesso à cultura “fortalecendo a memória e a diversidade cultural, valorizando a arte, a cultura popular e periférica, garantindo a plena liberdade artística”.
O tom foi semelhante ao de Ciro Gomes (PDT), que promete estimular “as manifestações culturais que propiciam a inclusão social e a cultura periférica de rua, como as danças, grafites e slams”.
Coube a candidatos que correm por fora nas pesquisas de intenção de voto a maior presença periférica nas propostas. “Será criado um programa de contratação de médicos e pessoal de saúde para as regiões menos assistidas do país e para as regiões periféricas aos grandes centros urbanos”, diz o programa de Sofia Manzano (PCB), que fala quatro vezes sobre as periferias brasileiras.
Ela e a candidata Vera (PSTU) também enfatizaram o termo para falar sobre o combate ao racismo e a morte de jovens negros. “As polícias têm-se constituído em máquinas de matar a juventude e a população pobre da periferia, especialmente o povo negro”, afirma Sofia.
O programa dela propõe a extinção da Polícia Militar e a reestruturação da segurança pública, sob o controle direto da população trabalhadora.
Vera também menciona a violência contra a juventude negra na periferia e propõe “emprego para todos os jovens, como parte do plano de obras públicas; auxílio emergencial para todos os jovens desempregados de um salário mínimo”.
Por fim, Léo Péricles (UP) usou o plano para falar de educação e que quer “ampliar a rede de escolas públicas de ensino fundamental, médio, técnico e superior, em especial nas periferias das grandes cidades e no interior do País”.
A reportagem também procurou o termo “favela”, que apareceu apenas três vezes e também teve mais ênfase na disputa estadual.
Governadores
No caso da disputa dos candidatos a governador, apenas três candidatos não fazem menção direta às palavras “periferia/periférico”: o governador Rodrigo Garcia (PSDB), Edson Dorta (PCO) e Antônio Jorge (DC).
Em relação aos que falam do termo, a cultura e a letalidade policial são as marcas das menções dos candidatos.
O ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), foi quem mais usou a expressão – oito vezes. Ele aborda a gravidade da pandemia sobre “a população preta das periferias.
Também cita os impactos nas escolas no período e ao falar sobre cultura. “Defendemos que os investimentos em cultura cheguem a todo território paulista, contribuindo para o desenvolvimento local, e também ao fomento da cultura popular, das identidades regionais e das periferias”, diz o texto.
Haddad também usa o termo ao abordar a letalidade policial e a proposta de incluir a disciplina racismo estrutural nas academias de polícia. Conclui ao colocar como meta a democratização da informação digital, que “é um elemento essencial para a incorporação da juventude, sobretudo a pobre e periférica, ao exercício da política e da cidadania”.
O ex-ministro de infraestrutura Tarcísio de Freitas (Republicanos) menciona duas vezes as periferias, primeiro ligando a questão à segurança pública. “Vamos enfrentar de forma integrada as questões de desordem social, devolvendo a paz e a tranquilidade noturna aos cidadãos das periferias.”
Também citou a diferença de expectativa de vida entre a periferia e o centro de São Paulo, que chega a 23 anos. O candidato também trouxe cinco vezes as favelas no plano, ao citar que São Paulo tem o maior número de comunidades e sobre o desejo de empreendedorismo de moradores.
Promete ainda avançar na urbanização. “Vamos promover a regularização da oferta existente, com titulação, urbanização das favelas, regularização fundiária, inclusive com retrofit de imóveis abandonados”.
Com seis citações periféricas, Carol Vigliar (UP) foi a segunda que mais usou a palavra. Ela propõe “ampliar a rede de escolas públicas de ensino fundamental, médio, técnico e superior, em especial nas periferias das grandes cidades e no interior de São Paulo”.
Também fala que fará uma revisão na concessão da energia elétrica e uma tarifa social “combatendo as contas abusivas cobradas da população e, em especial, dos moradores das periferias”.
Cita ainda mercados populares nessas regiões e fortalecer bancos de alimentos para evitar que famílias fiquem em insegurança alimentar. Por fim abordou a violência e a cultura, além da “padronização das escolas do centro e das periferias”.
Gabriel Colombo (PCB) diz que fará “programas emergenciais de empregos”, que seriam frentes de trabalho urbanas e rurais para obras de saneamento, habitação, reforma de escolas, hospitais, zeladoria das regiões empobrecidas e periféricas do estado e ampliação da malha metroferroviária.
Por fim, Elvis Cezar (PDT) prevê a “ampliação dos editais de fomento à cultura, com ênfase a periferia”.