O dado é da pesquisa da Rede Nossa São Paulo em parceria com o Ibope lançada no início de maio sobre a pandemia
Por: Redação
Notícia
Publicado em 05.05.2020 | 20:21 | Alterado em 16.12.2020 | 17:22
De acordo com pesquisa da Rede Nossa São Paulo em parceria com o Ibope, divulgada no dia 5 de maio, a maioria dos paulistanos acredita que os moradores das periferias vão sofrer mais por causa da pandemia da Covid-19.
Além de falar sobre essa pesquisa, este episódio do “Em Quarentena” traz relatos de moradores da periferia para entender a dimensão desses dados.
A Luanna mora no Capão Redondo, na zona sul de São Paulo. Ela falou por que acredita que os moradores do Capão vão sofrer muito mais por conta do coronavírus.
“A gente não tem o suporte que outros bairros nobres têm. Estamos localizados perto de dois hospitais que já estão em colapsos, que são os hospitais Campo Limpo e M’Boi Mirim. Isso não vai passar para a gente tão cedo”. (ouça a partir de 00:01)
O estudo mostra a percepção da classe a, b e c sobre o impacto da Covid-19. Carolina Guimarães, coordenadora da Rede Nossa São Paulo, explicou porque 8 em cada 10 entrevistados concordam que os moradores periféricos vão sofrer mais com a doença.
“As pessoas vão ganhando consciência que essas vulnerabilidades nas periferias as colocam numa situação de muito mais desvantagem do que pessoas que conseguem ficar em casa fazendo o isolamento social, seguros com uma renda fixa”. (a partir de 01:06)
Ricardo Barbosa da Silva é professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Ele mora na Penha, na zona leste da cidade, e contou como começou a produzir mapas para mostrar as desigualdades nas periferias de São Paulo, sobretudo na zona leste.
“Eu percebi que tinha muita gente na rua e comecei por conta própria a buscar informações e dados que de alguma forma pudessem ajudar a conscientizar a população da importância, para quem pudesse, de ficar em casa”. (ouça em 01:32)
O professor explicou por que os bairros mais pobres serão os mais afetados pela pandemia. “Essa desigualdade, de alguma forma, se revela na periferia com extrema insuficiência do ponto de vista de infraestrutura e serviços públicos como na saúde, por exemplo. Há um problema muito sério de má distribuição de hospitais e de leitos hospitalares, é muito deficiente nas áreas periféricas”. (em 02:03)
Barbosa apontou ainda outro problema, que está relacionado às condições dos hospitais localizados nas regiões periféricas. “A gente também precisa levar em consideração que há uma diferença das condições, são condições mais precárias. E muitas vezes os trabalhadores da saúde não contam com equipamentos necessários, inclusive para se proteger e cuidar bem da população”. (em 02:32)
Ele reforçou essa questão dos atendimentos. “Quando você vai para as periferias, você percebe que por mais que não sejam as áreas onde as pessoas mais se contaminam, são as áreas onde as pessoas mais morrem”. (em 02:59)
Luana, do Capão Redondo, também relatou outro problema enfrentado nas periferias, que é a falta de testes. Dois vizinhos dela estão em quarentena há cerca de 4 semanas por causa da Covid-19 e não conseguiram refazer o teste.
“Ainda tem isso. Ainda tem que conseguir fazer o exame de novo e como ele está em falta, as pessoas continuam sem saber se estão curadas ou não”. (em 03:36)
A moradora do Capão lamentou que mesmo com os casos subindo na região, muitos não estão respeitando o isolamento.
“Alguns vizinhos deram festas nessa quarentena e nos feriados estão fazendo churrascos. Estão agindo como se a vida estivesse totalmente normal, como se nada tivesse acontecendo”. (em 03:54)
Ela também disse o que pensa sobre a situação. “O alastramento da Covid-19 pode até melhorar pelos bairros mais nobres de São Paulo. Mas vai demorar muito para sair da periferia. (em 04:10)
A pesquisa da Rede Nossa São Paulo também destaca a importância do SUS (Sistema Único de Saúde). De acordo com o estudo, 62% dos entrevistados disseram que passaram a valorizar mais o SUS depois da pandemia. E 7 em cada 10 acreditam que se não fosse por ele, as consequências seriam ainda piores.
Carolina Guimarães também falou sobre esses dados. “As pessoas reconhecem a importância da universalidade desse serviço e que saúde junto com outras pastas como educação e segurança são as mais importantes e que não devem ser privatizadas”. (em 04:47)
Para saber mais sobre o sistema único de saúde e porque ele é tão importante, é só ouvir o episódio 16 do “Em Quarentena”, que foi dedicado ao assunto com o coletivo “Nós, Mulheres das Periferias”.
E pra ler a pesquisa completa sobre a pandemia na cidade é só acessar nossasaopaulo.org.br
Ouça este bate papo completo no Em Quarentena #28: 8 em cada 10 paulistanos acreditam que as periferias vão sofrer mais com a Covid-19.
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