Estudantes e professores falaram sobre as desigualdades que podem prejudicar os pré-vestibulandos que não tem como estudar em casa
Por: Redação
Notícia
Publicado em 03.04.2020 | 19:13 | Alterado em 16.12.2020 | 19:20
Em 31 de março, o Ministério da Educação anunciou que não adiaria o Enem 2020 por conta do coronavírus. A prova terá versões impressa e digital.
A decisão impacta alunos com dificuldade ou falta de acesso à internet. Além de alguns estudantes, professores e entidades de educação são contrários à medida. O “Em Quarentena” ouviu estudantes de diferentes periferias para entender quais são as principais preocupações e os impactos em suas vidas do não adiamento do Enem.
George tem 18 anos e mora na periferia de João Pessoa, na Paraíba. Ele cursa o último ano do ensino médio no instituto federal e não está conseguindo acompanhar as aulas online e sequer conseguiu acessar o edital do Enem.
O jovem falou sobre sua situação. “Estou angustiado de verdade porque eu não tenho computador, nem acesso à internet todos os dias. Só tenho acesso à internet plenamente no Instituto Federal, onde estudo”. (ouça a partir de 00:57)
Amanda tem 15 anos e mora em Guaianazes, na zona leste de São Paulo. Ela quer ser médica e para isso precisa de uma nota alta no Enem pra conseguir uma bolsa no Prouni (Programa Universidade Para Todos).
“Eu acho que vai prejudicar muita gente. Pessoas, por exemplo, que contam só com o ensino médio, que estão no terceiro ano e pretendiam fazer o Enem esse ano, vai ser uma coisa mais complicada”. (a partir de 01:29)
Além dos alunos, o podcast da Agência Mural ouviu professores que também estão questionando a decisão do Ministério da Educação de manter as datas das provas do Enem mesmo com todo o transtorno do coronavírus.
Gabriel Carneiro é educador na escola preparatória da UFABC (Universidade Federal do ABC), um cursinho gratuito para alunos de baixa renda, focado no Enem. Ele comentou sobre a decisão.
“Parece que a prova tem um pouco desse mito de que todo mundo está em condição igual. Mas não é. A gente sabe que isso é uma grande mentira. Com certeza, manter essa data da prova é mais uma vez fingir normalidade no meio do caos”. (ouça em 02:09)
O professor reforçou a questão das desigualdades. “Quem vai sofrer com isso são os alunos de escola pública. É claro que isso prejudica muito eles. Quando a gente retornar às aulas comuns tem que refazer o calendário. E manter [o Enem] nas datas que estão propondo é quase que atropelar todas essas desigualdades”. (em 02:34)
Stefany Kovalski é pré-vestibulanda e diretora de comunicação da UBES, União dos Estudantes Secundaristas. Ela é uma das responsáveis pela campanha #AdiaEnem que ganhou apoio nas redes sociais, inclusive por parte de outras entidades de educação.
A estudante explicou os motivos da campanha. “Tem estudante que está sem acesso à internet e tem estudante que não tem o que comer. Então querer que os estudantes façam essa prova sem o mínimo de embasamento, sem ter aula direito, acaba afastando a gente ainda mais da universidade”. (em 03:17)
A pré-vestibulanda apontou também que a saída não é voltar às aulas. “A gente quer que sejam discutidas e pensadas as medidas que farão com que os estudantes tenham o mínimo de preparação para participarem dessa prova”. (em 03:37)
Outra estudante que falou de suas preocupações para o “Em Quarentena” foi Brenda que também estuda pra tentar uma bolsa no ProUni.
“As escolas não têm computador para todo mundo, pelo menos as públicas. E os que estão disponíveis, não funcionam direito. Sem contar que o pessoal já consegue burlar o Enem quando é presencialmente […] eu acho que online fica um pouco mais fácil”. (em 03:51)
Para encerrar, educadores compartilharam dicas para que os alunos tentem se preparar em casa para essas provas.
O primeiro que falou foi o professor Danilo Zajac. “Muitos canais de ensino a distância têm aberto suas aulas neste momento de pandemia. Um dos canais que recomendo bastante é o ‘Estude’, uma plataforma de ensino à distância, justamente bem focada nos vestibulares e no Enem”. (em 04:47)
Na sequência, o professor Gabriel sugeriu. “Junte um grupo de amigos e montem um plano de estudo diário. Vai aos poucos fazendo isso. Não precisa começar tudo de uma vez. É muito importante vocês terem esse contato diário, tudo para não perderem esse contato com a educação”. (em 05:08)
Ouça este bate papo completo no Em Quarentena #09: Enem online preocupa estudantes sem acesso à internet nas periferias.
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