A maioria dos trabalhadores que fazem entregas por aplicativos são jovens periféricos e negros
Por: Redação
Notícia
Publicado em 27.07.2020 | 23:18 | Alterado em 22.11.2021 | 16:00
1° de julho foi marcado pela greve nacional dos trabalhadores que fazem entregas por aplicativos. Com o isolamento social como medida para conter a disseminação do novo coronavírus, as vendas de comida por aplicativos aumentaram consideravelmente.
Os serviços de entrega entraram para o grupo de serviços essenciais por meio de um decreto do presidente Jair Bolsonaro.
Apesar disso, a categoria dos entregadores não viu melhorias em sua rotina de trabalho. O “Em Quarentena” conversou com alguns desses trabalhadores para entender as reivindicações que desencadeou a greve nacional.
Quem falou para o podcast da Agência Mural sobre a relação de trabalho foi Michel. Ele tem 18 anos, mora na Cidade Tiradentes, na zona leste de São Paulo, e trabalha há seis anos como entregador de aplicativos. “Esse trabalho nosso não é valorizado pelo ifood que a gente trabalha. É taxa pequena. Você pode ser assaltado, morrer e ser atropelado na rua que eles não se responsabilizam por nada. Não há vínculo de ajuda. Se você sofrer um acidente, a única coisa que eles irão enviar para você é uma [mensagem] de ‘melhoras’ e acabou. Você tem que arcar com tudo”. (ouça a partir de 01:33)
Morador de Osasco, Fábio é motoboy há 14 anos. Ele comentou sobre a paralisação “Estamos entrando em greve porque cada dia que passa eles estão diminuindo o valor da taxa, antes era mais alta, e no momento não está compensando. Têm dias que é menos de 1 real por km que estão pagando”. (a partir de 03:36)
Ele também listou as principais reivindicações. “Melhorar as taxas e os bloqueios. Porque, às vezes, ocorre por erro do aplicativo, que não dá um suporte decente e com o erro deles, te bloqueiam. Em resumo, eles erram e você é punido”. (em 04:16)
Durante cinco dias, o repórter Lucas Veloso participou de um grupo de entregadores no whatsapp. Ele falou sobre as principais reivindicações que circulam no grupo.
“Entre as mensagens mais comuns estão pedidos de ajuda com o aplicativo, onde tem mais demandas, se eles foram bloqueados ou não. Eles têm dificuldades em contatar a plataforma”. (em 05:48)
O correspondente apontou que a maior reclamação entre os entregadores é sobre o valor da remuneração pelo trabalho. “Eles ficam seis ou sete horas esperando por uma entrega. E muitas vezes a entrega não vale o preço que eles gastaram”. (em 06:30)
De acordo com a pesquisa da Associação Brasileira do Setor de Bicicletas, o perfil social dos entregadores é: na maioria moradores de periferias, homens jovens, negros, com ensino médio completo e sem emprego registrado.
O repórter da Agência Mural reforçou: “Acredito que no começo dos aplicativos e da popularização tinha muita essa ideia de empreendedorismo. […] Mas agora que a informalidade está crescendo e, muitas vezes, essa é a única saída para esses caras, eles não se veem como empreendedores. Mas como trabalhadores que de fato cumprem aquela jornada por questão de salário mesmo, de ter uma renda”. (em 08:04)
Ouça este bate papo completo no Em Quarentena #64: Entenda os motivos da paralisação nacional dos entregadores de aplicativos.
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