Jogadores e organizadores de torneios de futebol de várzea relatam como estão lidando com o isolamento social e a suspensão de jogos
Por: Redação
Notícia
Publicado em 12.05.2020 | 22:55 | Alterado em 22.11.2021 | 15:43
Não é novidade que o futebol de várzea movimenta a rotina das periferias. Mas com o isolamento social os jogos foram suspensos.
O “Em Quarentena” conversou com jogadores e organizadores de torneios de futebol de várzea para entender como estão passando pelo período de pandemia. Assim como outros jogadores e profissionais do futebol, a rotina deles mudou completamente por conta do novo coronavírus.
O repórter da Agência Mural Rubens Rodrigues, que adora acompanhar essas competições, explicou o que é este futebol de quebrada.
“É aquele futebol raiz, seja ele no terrão ou no sintético, a paixão é a mesma. A rivalidade como em todo esporte existe, quem joga quer ganhar, mas na várzea depois do jogo a resenha é a mesma em qualquer quebrada. É o churrasco, a cerveja gelada e curtir aquele bom pagode”. (ouça a partir de 00:54)
David Santos, mais conhecido pelos campos da várzea como Popoto, vive no Jardim Filhos da Terra, na zona norte de São Paulo. Além de ser motorista de aplicativos, há sete anos ele também organiza torneios de várzea. Ele falou sobre o atual momento.
“A situação do campeonato no momento é que não começou. Iria começar. E previsão de retorno, nenhum. Vai ser difícil”. (a partir de 01:47)
Ele comentou também sobre a saudade que sente dos campos. “Não jogar faz muita falta, mas se Deus quiser vai voltar. Nós estávamos disputando um campeonato lá na zona leste. Estava no mata-mata e parou também”. (ouça em 02:01)
André Santos, que também é repórter na Agência Mural, conversou com alguns jogadores da quebrada. Ele falou como os amantes do futebol de várzea estão passando por essa pandemia.
“Com todo mundo que a gente fala o tom é de tristeza, de falta e de saudades. Os atletas amadores têm o final de semana todo programado a partir do jogo. Então se ele vai jogar às 13h, ele fica com a família até às 11h30. Todo o final de semana do cara é articulado de acordo com os jogos que ele participa”. (em 02:22)
Ana Karolina, mais conhecida como Mineira, tem 22 anos e é jogadora de futebol. Em 2019, ela foi artilheira no PS9, time de futebol feminino de várzea da Casa Verde, que venceu a Taça das Favelas, maior disputa entre favelas do mundo.
Por conta da Covid-19, ela teve que sair de Osasco, onde estava morando, e retornar para sua cidade natal, Catuti, no interior de Minas Gerais. Mineira falou como está lidando com a mudança.
“Estou treinando em casa. Improvisei uns obstáculos com garrafas pets, mas é um pouco complicado porque fica uma coisa muito monótona. Tento variar os exercícios todos os dias, só que não tem jeito, o que falta mesmo é a liberdade que tinha no campo”. (em 03:23)
Ela tem se esforçado para se manter ativa, mas disse que não está sendo fácil. “Tenho fé que tudo vai ficar bem, ainda esse ano. Quando a coisa começou a andar, tudo parou. É muito difícil. Eu que já tive problemas com depressão e fico nesse isolamento, às vezes, me sinto desmotivada”. (em 03:48)
Emerson Barbosa, que joga no Ouro Preto FC, time do bairro do Iporanga, na zona sul de São Paulo, falou sobre a renda extra que tinha com jogos e campeonatos.
“Às vezes, você vai jogar no time, o cara paga pra você 150 reais ou dá a gasolina. […] Na verdade, na várzea o valor é simbólico. A gente joga porque gosta mesmo. Não é nem por causa do dinheiro. Mas o dinheiro ajuda. Dá para comprar uma fralda ou alguma coisa”. (em 04:21)
Barbosa também é cobrador de ônibus e disputa a Copa Piôner, uma das competições de várzea mais importantes de São Paulo. Agora longe dos campos, ele contou como está fazendo para não perder o condicionamento físico.
“A gente tá agora só com dieta. Dar uma segurada na dieta e quando tem tempo treina no quintal, em casa. É assim que vai indo. Faz umas brincadeiras para postar no Instagram e passar o tempo”. (em 05:22)
André compartilhou que os organizadores de jogos e campeonatos de várzea seguem reforçando a orientação de evitar qualquer tipo de aglomeração.
“Conversando com os dirigentes sobre alguns campeonatos aqui da zona norte e também com o César Pioner, que é responsável pela Copa Pioner, [percebi que] eles estão muito firmes na opinião de que se não houver condições de manter a integridade dos atletas e do público nos jogos, eles não vão voltar”. (em 05:22)
Ouça este bate papo completo no Em Quarentena #32: O futebol de várzea na pandemia.
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