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Poetisas do Nordeste de Amaralina engajam temas como injustiças sociais e orgulho negro

Entre redes sociais e sonhos de publicações, autoras buscam espaços para declamar sobre rotina na periferia, violência e empoderamento

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Bruna Rocha/Agência Mural

Por: Bruna Rocha

Notícia

Publicado em 03.09.2021 | 11:27 | Alterado em 03.09.2021 | 11:27

Tempo de leitura: 3 min(s)
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A poetisa Luísa Cardoso, que declama poesias desde a infância @Bruna Rocha/Agência Mural

Entre saraus, lives e publicações nas redes sociais, jovens poetisas do Nordeste de Amaralina, em Salvador, buscam espaços para debaterem temas como autocuidado, empoderamento e o cotidiano nas periferias, por meio das suas obras. 

“Encontrei no Instagram um espaço para expor meu trabalho e ele se tornou o meu ambiente, o meu lugar de fala. Lá falo sobre feminismo, palmitagem e empoderamento porque essa é a minha vivência enquanto jovem negra periférica”, diz Luísa Cardoso, 16, poetisa e estudante do curso Refrigeração e Climatização Industrial no IFBA (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia). 

Luísa conta que o interesse por poesia começou na infância, quando começou a escrever e recitar. “Com meus oito, nove anos, eu escrevia mensagens para família, e aos 11, 12, já me apresentava para toda família. Era algo que gostava muito de fazer”. 

Com o início da pandemia, Luísa resolveu fazer vídeos declamando para suas redes sociais. “Gosto de dizer que a arte já nasce com a gente e aflora esse nosso lado artista. Produzo arte porque sei que através dela sou uma pessoa mais livre”, conta. 

Em alguns de seus poemas, Luísa aborda temas como feminicídio e a violência policial nas favelas, como em “Ser mulher é isso” e “O plano”, respectivamente, publicados em seu Instagram (@luisa.cardoso_). 

Com cerca de 1600 seguidores na rede social e vídeos que somam mais de 15 mil visualizações, Luísa também participou de lives e eventos no Youtube. “Participei de palestras abordando o setembro amarelo, a importância do autocuidado e sobretudo a rede de apoio familiar junto ao acompanhamento psicoterapêutico.” diz Luísa. 

Outra referência para os jovens no bairro é Jeana Oliveira, 19, também conhecida pelo seu nome artístico Mona Kizola, como foi batizada após iniciar sua trajetória no Candomblé. Multifacetada, a jovem é atriz, capoeirista, jogadora de futebol no clube Lusaca, microempreendedora, estagiária na Cipó Comunicação Interativa e, como poetisa, quer ir além das apresentações em saraus e escrever seu próprio livro de poesias. 

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Jeana Oliveira (Mona Kizola) planeja publicar seu primeiro livro com 31 poesias @Bruna Rocha/Agência Mural

Já escolhido, o nome da obra será Kuá Ndanji, palavras de origem bantu, que juntas significam “Pela Raiz”. “Kua Ndanji trará a minha vivência como preta, periférica, mulher e candomblecista. Tudo o que se relaciona a uma sociedade periférica e seus apagamentos”, diz Mona. 

O livro deverá conter 31 poesias; 21 delas já foram selecionadas. A autora estuda agora como fará para encontrar patrocínio e editora para lançar sua publicação. Uma das poesias que fará parte do escrito é “Conscientização”, que fala sobre frustrações e desesperanças.

“Vejo na poesia a possibilidade de desabafar, e milito nas obras. É a minha forma de ter voz e a partir dela ser escutada. Assim, posso falar por um jovem preto ou jovem preta que se sente silenciado pelo sistema”, diz Mona. 

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Enquanto produz, a poetisa participa de eventos. Recentemente se apresentou na live Julho Das Pretas pelo Instituto Odara, no Sarau do Coletivo Resistência Preta e recitou na ocupação Carlos Marighella. “Tenho que colocar minha cara a tapa e falar sobre essas injustiças porque muitos dos meus morreram em busca desse direito, preciso buscar a plenitude para os meus”, complementa.  

Dentre suas principais inspirações estão Kota Gandaleci, Kalulu Ndanji e Negra Winnie, participante de um grupo que reúne advogadas, escritores, poetas e cantores do cenário baiano. “São pessoas que me incentivam muito e acreditam em mim. Aprendo muito com eles e é um prazer poder conviver com esses seres magníficos.” pontuou. 

“Por isso que amo a poesia, eu me vejo nela, porque posso falar quem realmente sou, minhas dores, amores, sobre o que vivo. É tão maravilhoso, isso me fará chegar a muitos lugares e quero trazer os meus comigo”, conclui Mona.

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Bruna Rocha

Estudante de jornalismo, correspondente da Barra/Pituba em Salvador, BA, desde 2021. Gosta de ler, resenhar, e sempre estar informada, pois acredita que através da comunicação de qualidade e ética pode quebrar barreiras.

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