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Por falta de diálogo, moradores fazem abaixo-assinado contra reforma de praça em Perus

Abaixo-assinado com 1.500 assinaturas questiona obra e falta de diálogo; no local, moradores têm realizados atividades na Casa de Cultura Hip Hop

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Divulgação da Casa Hip Hop Perus

Por: Jéssica Moreira

Notícia

Publicado em 21.02.2020 | 17:14 | Alterado em 21.02.2020 | 17:41

Tempo de leitura: 3 min(s)

Na quarta-feira (20), os moradores do Recanto dos Humildes, em Perus (região noroeste de São Paulo), foram surpreendidos com a construção de um playground em frente à Ocupação Casa Hip Hop Perus e, desde então, se mobilizam para pausar a obra por meio de abaixo-assinado que já contabiliza mais de 1.500 assinaturas de moradores locais. 

Os moradores dizem que a obra vai impedir ações realizadas na praça como as oficinas de dança e as atrações culturais, como shows e exibições de filmes. 

Para o professor Almir Moreira, 33, é contraditória a construção de um playground na praça Júlio Maciel, onde a comunidade já realiza atividades para crianças. E afirma que há na região outros espaços degradados que não estão recebendo reformas.

“Nós não somos contra a melhoria da área, mas precisa haver o diálogo porque há outros três playgrounds que carecem de manutenção e o próprio córrego que atravessa a localidade merece um tratamento de paisagismo”, aponta o educador. 

Outro questionamento é que a menos de 500 metros já existe um playground no mesmo estilo. 

Uma das ações realizadas na região é a Ocupação Casa Hip Hop Perus, inaugurada em fevereiro de 2016, quando artistas e demais moradores do Recanto dos Humildes se uniram para transformar um abandonado centro de informática degradado em um ponto de cultura e lazer para as crianças e jovens.

O processo contou com o apoio dos vizinhos, que colaboraram desde a doação de móveis até a mão de obra para a revitalização. Desde então, o espaço funciona de segunda a sexta com oficinas de dança e música, além de shows gratuitos no espaço da praça. 

Em 2017, a Secretaria de Cultura da Prefeitura de São Paulo reconheceu a ocupação como um equipamento de cultura.  

“Tem acontecido uma importante transformação na vida dessas crianças e jovens. Para 2020, estamos articulando ações junto à Secretaria de Cultura da cidade e um playground não seria muito viável”, afirma o arte-educador da Edvan Soares, 34, integrante do grupo de break dance Noroest Gang Crew. 

“O espaço é pequeno [dentro da Casa do Hip Hop], nós utilizamos o espaço externo para eventos e oficinas”, acrescenta o dançarino. 

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A praça, ocupada pelos moradores com atividades, teve reformas começadas sem informações antecipadas das ações @Divulgação da Casa Hip Hop Perus

Nesses quatro anos, a casa já beneficiou diretamente mais de 500 crianças e jovens e, indiretamente, mais de 10.000 pessoas, que frequentam o espaço e usufruem das atividades culturais existentes no espaço. 

Segundo dados do Mapa da Desigualdade da Rede Nossa SP 2019, o bairro de Perus não possui nenhum equipamento público municipal, sendo as iniciativas mantidas pela própria comunidade a única opção de inclusão social por meio da cultura no local. 

Além da Casa Hip Hop Perus, há ainda a Ocupação Artística Canhoba e a Comunidade Cultural Quilombaque, mantidas de maneira independente por moradoras e moradores. 

ANTES E DEPOIS 

Para além dos artistas e demais jovens que utilizam a praça para as atividades de hip hop, a praça, conhecida como “entrada do Recanto”, comporta bares e outras barracas de alimentos, fazendo de lá uma grande praça de alimentação. Moradores contam que antes da chegada da ocupação, a população temia passar no local. Não havia iluminação e as lâmpadas estavam quebradas. 

Depois, o calçadão virou um “point”, onde famílias frequentam e o público se reúne, principalmente em dias de jogos de futebol, para assistir às partidas. 

O OUTRO LADO 

A Agência Mural buscou a Prefeitura de São Paulo, que informou, por meio de nota, que a obra será concluída até o final de março, com previsão de playground e demais equipamentos de ginástica. Os demais questionamentos referentes ao diálogo junto à comunidade não foram respondidos. 

A gestão afirma que o projeto foi “apresentado à administração regional por lideranças locais, com a justificativa de modernização e maior integração do espaço de lazer, atendendo a jovens, idosos e crianças”.

Diz também que, no local, “havia um único brinquedo, danificado, sem qualquer outro tipo de equipamento”. 

O projeto prevê a instalação de um playground, equipamentos de ginástica para a terceira idade e jardineiras para a harmonização do ambiente. 

 A gestão diz que outras praças na região também estão passando pelo processo e citaram a Praça do Samba, também em Perus. 

“Após a revitalização, tem sido utilizada para eventos e lazer e com isso sendo mais conservada pelos usuários locais”, diz a gestão.

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Jéssica Moreira

Jornalista e escritora. Formada em Jornalismo pela FAPCOM. É cofundadora do Nós, mulheres da periferia e coautora do Blog Morte Sem Tabu (Folha.com). Escreve sobre diversos assuntos a partir das questões de raça, gênero e território. Correspondente de Perus desde 2010.

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