População destaca que as principais mudanças na cidade foram visuais, mas não nos serviços essenciais
Maria Eduarda Silva/Agência Mural
Por: Maria Eduarda Silva
Notícia
Publicado em 10.09.2025 | 11:01 | Alterado em 11.09.2025 | 11:00
A mudança visual na cidade de São Bernardo do Campo foi a marca do começo da gestão Marcelo Lima (Podemos), prefeito afastado do cargo por suspeita de participação em um esquema de corrupção. Mas a percepção de que o embelezamento não chegou para todos, é o que dizem os moradores das periferias do município do ABC Paulista.
“As mudanças acontecem no centro, mas bairros como o Silvina não recebem a atenção necessária. Isso gera frustração porque essas melhorias nunca chegam”, desabafa Ludmilla Nogueira, 22.
A insatisfação de Ludmilla, que mora no bairro Jardim Silvina desde o nascimento, é sobre a pintura, iluminação e segurança, que avalia ter melhorado na área central, mas não no seu bairro.

Ludmilla, moradora do Jardim Silvina relata que falta iluminação e segurança no bairro
O supervisor de medicina e segurança do trabalho Ronildo de Sousa, 37, nasceu no Ferrazópolis e está lá até hoje. Ele compartilha da mesma visão de Ludmilla, acreditando que o legado da gestão Lima é a iluminação e a parte visual.
“Agora tudo está mais colorido e chamativo”, diz, mas ressalta que as melhorias nos serviços básicos como na saúde e na educação não acompanharam as mudanças estéticas no Ferrazópolis.
Apesar de morarem em áreas diferentes, Ludmilla e Ronildo têm a mesma esperança: que a prefeita interina, Jéssica Cormik (Avante), traga mais transparência. “É preciso ser transparente com o povo, divulgar o orçamento das obras, as notas fiscais, quem são os contratados e as contas do município”, afirma Ronildo.

Maicon, diz que a reforma da UPA foi necessária para o bairro da Vila São Pedro @Arquivo pessoal/Divulgação
Já na Vila São Pedro, um dos maiores bairros da cidade, a avaliação é diferente. Na Zona Eleitoral 174, que abrange a Vila São Pedro, Lima teve 58,27% dos votos.
Maicon Damasceno, 27, é auxiliar de logística e destaca que a prefeitura cumpriu uma das promessas de campanha: o recapeamento das ruas, entre elas, da rua Vinte e Cinco de Julho, onde ele mora.
“Prometeram recapeamento na minha rua e cumpriram, ajudando os moradores, era sempre um problema em dias de chuva e agora está ótimo”.

Crianças brincam na rua Vinte e Cinco de Julho recapeada recentemente @Maria Eduarda Silva/Agência Mural
Ele também fala sobre a reforma da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da Vila São Pedro, que estava prevista para 31 de agosto, mas não foi entregue.
A UPA foi totalmente reformada. O novo projeto alterou a arquitetura do local, criando novas salas, ampliando o espaço de atendimento e a pintura do local, há muito defasada.
Além disso, novos equipamentos chegaram, não só equipamentos médicos, mas também novas cadeiras e mesas, tanto para a sala de espera quanto para as salas de atendimento. Durante esse período os atendimentos estão sendo feitos na UBS do bairro, há poucos metros da UPA.
Ronildo diz ter se surpreendido com o afastamento do prefeito. “Em oito meses de mandato, eu não desconfiei de nada. Alguns amigos comentavam, mas nunca soube se era verdade.”

A UPA da Vila São Pedro foi entregue no mês passado, após a reforma que durou meses @Maria Eduarda Silva/Agência Mural
Apesar da surpresa, essa não é a primeira vez que Marcelo Lima tem problemas com a justiça. Em 2021, ele foi afastado da Secretaria de Serviços Urbanos após uma operação que investigava fraudes em licitações e corrupção em contratos.
Em 2022, Lima foi eleito deputado federal, mas perdeu o mandato no ano seguinte por infidelidade partidária. Eleito pelo Solidariedade, migrou para o PSB sem apresentar justificativa considerada válida pela Justiça Eleitoral. Hoje, está filiado ao Podemos.
No plano de governo, uma das promessas de Lima era a ampliação e canalização do córrego Vila São Pedro, o que ainda não aconteceu. “A periferia continua esquecida em comparação ao centro”, resume Maicon.
O projeto também fala sobre o serviço de zeladoria que estaria disponível em toda a cidade, mas em oito meses de governo essa promessa também não foi cumprida.
Ainda assim, os três moradores guardam esperança de que a nova prefeita consiga dar continuidade às boas iniciativas e, principalmente, criar projetos voltados às regiões periféricas. “Espero que ela dê conta do recado e olhe mais para a periferia”, conclui Damasceno.
A Agência Mural questionou a gestão sobre os projetos do prefeito afastado. A administração afirma que os programas, projetos e serviços não serão afetados, “tendo como base um Plano de Governo a ser cumprido, especialmente na área social e da educação, contemplando ações na periferia”.
“Atividades como o PPA (Plano Plurianual) 2026-2029, que registrou participação de lideranças de diversos bairros, apontou prioridades da gestão para o próximo quadriênio e também será norteador da gestão. As ações da Prefeitura podem ser acompanhadas pelo Portal da Transparência e nos canais oficiais do município.”
Estudante de jornalismo, estagiária de assessoria de imprensa. Ama livro reportagens, está escrevendo o TCC e ama café.
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