Por: Paulo Talarico | Léu Britto
Notícia
Publicado em 25.02.2021 | 7:31 | Alterado em 25.02.2021 | 0:15
Diz o hino de Osasco: “o movimento dos autonomistas e voos que a vista dá no coração”. No refrão fala que “foi em Osasco que o homem sonhou e conquistou o céu azul”. Porém, na frente da prefeitura da cidade da Grande São Paulo, desse voo ficou apenas uma rampa.
Há cinco anos um monumento contratado pela gestão municipal não foi retirado no Jabaquara, na zona sul de São Paulo.
Na rampa crua de 18 metros, uma réplica do Aeroplano São Paulo seria colocada para homenagear um dos episódios mais marcantes da região: o primeiro voo da América do Sul, feito há 111 anos por Dimitri Sensaud de Lavaud, inventor que vivia na região onde hoje está o Museu Municipal, na atual Avenida dos Autonomistas.
A Agência Mural mostrou em 2017 como a prefeitura havia ‘esquecido’ o monumento em São Paulo. O tempo passou e a peça ainda está fora da cidade, enquanto a rampa segue vazia para quem quiser se arriscar (tem mais de 2,5 metros de altura no final dela e nenhuma proteção).
Para piorar, a peça foi construída e ocupa todo o ateliê do artista plástico Juvenal Irene, o que atrapalhou os outros trabalhos do artista que perdeu a maior parte do espaço de produção.
Desde a publicação da reportagem, procuramos a prefeitura para entender como a gestão buscaria o monumento. Aparentemente, desistiram do projeto. Procurada nas últimas semanas, a prefeitura afirma que está “juridicamente impossibilitada”.
“Como já respondido em demandas anteriores, não houve processo licitatório aberto que possibilitasse a atual administração dar continuidade do projeto”, se limitou a dizer a gestão.
Mas como a ideia de fazer um monumento se tornou esse impasse? Na prática, apenas política.
A construção da réplica do Aeroplano São Paulo foi iniciada em 2016, ainda na gestão do ex-prefeito Jorge Lapas (PDT). O projeto contou com moradores da cidade que aprenderam a produzir os monumentos – que não era só um.
Além do avião principal, Juvenal Irene fez algumas pequenas réplicas, que seriam distribuídas para autoridades, e um avião menor – que, segundo ele, seria um presente para a italiana Osasco – cidade da região de Turim onde nasceu Antônio Agu, fundador da Osasco brasileira. Em 2016, uma delegação italiana visitou a cidade.
O problema é que naquele ano uma eleição seria disputada. De um lado, houve cobrança para que os monumentos ficassem prontos para serem inaugurados antes da votação. Durante o período eleitoral é proíbido a inauguração de obras pelo prefeito, logo precisavam avançar até o meio do ano. Ao mesmo tempo, a rampa começou a ser construída na frente da prefeitura.
As peças ficaram prontas a tempo, afirma Irene, mas a rampa não. Com isso, a instalação do novo monumento teria de esperar as eleições.
Mas Lapas perdeu a eleição para Rogério Lins (Podemos). Derrotado, a gestão tirou os tapumes e entregou uma rampa vazia. Desde então, ela é usada para skatistas, improvisada para enfeites de Natal ou para fotos de quem passa por ali.
Desde a derrota de Lapas, Irene teve dificuldades para ter respostas da prefeitura. O impasse seguiu quando Lins assumiu e com todos os secretários de cultura que passaram pela pasta. A gestão apenas repete estar impossibilitada.
Curiosamente, nessas voltas que Osasco dá, na eleição de 2020, Lapas se uniu a Lins e alguns dos secretários que faziam parte do governo anterior voltaram à prefeitura. Mesmo assim, nenhuma solução ou proposta foi tentada para resolver o impasse.
Procurado, o Ministério Público de São Paulo não retornou se há alguma ação prevista sobre a não entrega desse monumento.
Quando fomos ao ateliê de Irene, a única coisa que ele queria era a retirada do monumento para poder seguir trabalhando. Porém, ele também lamentou a perda para a própria cidade. “É um prejuízo cultural, intelectual, da estética, da beleza que poderia estar exposto lá. É um prejuízo incalculável”, afirma.
Diretor de Treinamento e Dados e cofundador, faz parte da Agência Mural desde 2011. É também formado em História pela USP, tem pós-graduação em jornalismo esportivo e curso técnico em locução para rádio e TV.
Fotojornalista e videomaker. Transitar pelos becos e vielas do mundo amando cada um do seu jeito e maneira de viver. Cofundador do DiCampana Foto Coletivo. Correspondente do Jardim Monte Azul desde 2010.
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.
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