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Professores de SP temem retorno às aulas durante a pandemia

Uma das preocupações dos educadores é a falta de estrutura das unidades para receber os alunos

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Ana Beatriz Felício/Agência Mural

Por: Raquel Porto

Notícia

Publicado em 07.08.2020 | 13:03 | Alterado em 07.08.2020 | 21:49

Tempo de leitura: 4 min(s)

Escolas construídas em prédios antigos com problemas na estrutura e sem ventilação adequada. Falta de água. Jornadas de trabalho exaustivas para os educadores, projeções de distanciamento impraticáveis entre as crianças.

Esses temas e questionamentos foram expostos ao longo das últimas semanas por professores da rede municipal em audiências entre as DRE (Diretorias Regionais de Educação) com a Secretaria Municipal de Educação para tratar o possível retorno às aulas.

Nesta quarta-feira (5), a Câmara de São Paulo aprovou o projeto de lei que estabelece o retorno das aulas. O projeto não prevê uma data para o retorno. O governo do estado havia estabelecido dia 8 de setembro, mas nesta sexta-feira (7), o governador João Doria anunciou que a retomada das aulas presenciais nas escolas públicas e privadas do estado deve ser a partir do dia 5 de outubro.

Apesar disso, os locais serão liberados para reabrir para recuperação e atividades de acolhimento de alunos, de forma opcional, depois de 8 de setembro.

“Nós não vemos a hora de retornar, porém 8 de setembro não é possível retornarmos. A Covid-19 nos trouxe uma realidade de que é preciso pararmos para de fato pensarmos a estrutura das escolas”, afirma o representante dos diretores das escolas da DRE Itaquera, Davi do Carmo Ferreira.

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Na cidade, educadores discutem o retorno às escolas @Secretaria Municipal de Educação/Divulgação

A minuta ‘Protocolo Volta às Aulas’ elaborada pelas áreas de educação e saúde da Prefeitura de São Paulo estima as etapas de retorno.

Além da data, o texto da minuta traz orientações e adequações que os servidores deverão seguir dentro das escolas com o intuito de diminuir os riscos da crise sanitária causada pela pandemia.

No quesito “Organização do Ambiente”, por exemplo, consta que cada unidade educacional é responsável para estabelecer o melhor cenário de segurança que é primeiramente garantir o fornecimento de água e sabão e orientar os estudantes.

“Nós temos caixas d’água com vazamento, com ferragens à mostra, a escola onde eu trabalho e outras escolas da região possuem duas caixas d’água de 500 litros, quando abre a vazão e aumenta a pressão da água na rua, falta água na escola”, aponta Davi. 

“Como vamos fazer a higienização, a limpeza, lavar a mão das crianças, sendo que no nosso cotidiano dentro da normalidade já existia falta de água nas escolas?”, questiona.

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Por conta da pandemia, alunos da rede pública e privada fazem atividades em casa @Ana Beatriz Felício/Agência Mural

O protocolo também orienta que as salas de aula devem ser ventiladas antes da chegada dos estudantes e durante os intervalos. 

A professora Juliana Menezes Santos, representante dos professores dos CEIs (Centros de Educação Infantil) e Emeis (Escolas Municipais de Educação Infantil), ressalta que os indicadores de qualidade da educação infantil paulistana aponta falhas em vários desses itens como a estrutura e a ventilação. 

“No nosso território temos muitas unidades escolares erguidas nos anos 1980, algumas adaptadas para que fossem transformadas em escolas”, diz.

DISTANCIAMENTO IMPRATICÁVEL

Um ponto citado na minuta foi como deverá ser o tratamento com as crianças dos CEIs e EMEIs, com idades que vão de 0 até 5 anos de idade. 

Os professores e cuidadores deverão estar o tempo todo de máscara, as crianças não. O distanciamento de uma criança para outra deve ser de um metro, evitar contato direto, contaminação respiratória ou gotícula, inclusive entre as minicamas. 

Os brinquedos poderão ser individualizados e oferecidos em cada berço, após o uso, deverão ser higienizados, se não puder, deverão ser guardados fora do alcance das crianças.

“Como será possível se o nosso fazer pedagógico envolve tato, afeto, fazer dormir, trocar fralda, contar histórias, sentar em roda, limpar nariz”, questiona Juliana. 

“As nossas crianças sentam-se em mesas que acomodam 4, 6, 8 lugares e nosso mobiliário inviabiliza o cumprimento das medidas sanitárias de um metro de distanciamento”, afirmou durante a audiência.

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Na zona leste, o CEU Aricanduva atende crianças que estão em casa durante pandemia @Secretaria Municipal de Educação/Divulgação

Segundo o protocolo e a OMS (Organização Mundial da Saúde), as crianças da educação infantil não poderão utilizar máscaras. Porém, um dos receios é que parte dos contaminados pelo coronavírus são assintomáticos e podem transmitir para outras pessoas. 

Nesse sentido, apenas verificar a temperatura das crianças não resolve a questão. O cenário poderia manter o avanço do vírus. “São vetores e circularão em um mesmo ambiente com pessoas de idade mais velha em suas residências e até mesmo nas escolas”, afirma a professora.

Em caso de estudantes ou adultos com sintomas, o protocolo a ser seguido é o isolamento em uma sala dedicada a isso, uso obrigatório de máscara, contato direto com o serviço de saúde e familiares. Caso o teste de Covid-19 der positivo, a família deve ser acompanhada, os locais ocupados por estes desinfetados e aqueles que tiverem tido contato devem ser informados.

Para a bióloga e doutora em biologia animal, relações antrópicas e parasitologia, Luciana Franceschi Simões, outras providências devem ser tomadas.

“Não acho que isolar apenas o aluno seja 100% eficiente. Até lá ele já terá mantido contato com outras pessoas. E se caso um adulto, professor ou outro funcionário, apresentar os sintomas no meio do expediente? Seria importante testar ou monitorar o maior número de pessoas possível”, explica.

O secretário Bruno Caetano afirma que não há pressão de fora para que as escolas sejam reabertas. “Não se estão reabrindo escolas para atender interesses de qualquer outra questão que não seja interesse das nossas crianças. Portanto quando tivermos o sinal verde para abrirmos as escolas, esse sinal verde não vai vir da economia, do capital, do setor produtivo. Esse sinal verde virá da saúde”, complementa.

O Conselho Municipal de Educação de São Paulo também está elaborando uma resolução que permite aos pais decidirem se vão mandar os filhos de volta à escola ou não, caso seja publicada e votada, aqueles alunos que não retornarem à escola continuarão tendo aula à distância. Ou seja, caso voltem às aulas presenciais, o professor seguirá presencialmente nas escolas e online, em dupla jornada.

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Raquel Porto

Jornalista, pós-graduanda em Gestão Ambiental. Militante feminista engajada nas pautas de direitos humanos, meio ambiente, educação e cultura. Ama carnaval, cinema, música, séries, novelas, livros e HQs. Correspondente da Cidade Líder desde 2018.

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