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Agência de Jornalismo das periferias

alissonfrocha/mcluanna_/Reprodução

Por: Estela Aguiar

Notícia

Publicado em 03.02.2023 | 12:09 | Alterado em 13.02.2023 | 11:32

Tempo de leitura: 4 min(s)

Do Jardim Boa Vista, periferia de Raposo Tavares, na zona oeste de São Paulo, a cantora Luana Santos Oliveira, 28, conhecida como Mc Luanna, tem atraído grande público por onde passa. A carreira na música começou ao responder com rimas alguns dos funks cantados por homens, e hoje ela acumula mais de 700 mil ouvintes mensais só no Spotify.

Também conhecida como “Maldita”, nome em referência ao primeiro EP que lançou, Luanna é técnica em saúde bucal e trabalhou no ramo da odontologia desde os 18 anos. Ela confessa que estar nos holofotes passou a ser cogitado ao ver o amigo Dfideliz, nome artístico de Felipe Micaela, viver de música.

“Escrevia poesia na escola e depois disso comecei enxergar a possibilidade de cantar assim que Dfideliz virou [um rapper]. Mas foi um teste e nunca um sonho de estar num palco”, comenta.

Mc Luanna é o nome artístico de Luana Santos Oliveira @mcluanna_/Reprodução

Em setembro de 2020, ela lançou o single “Kit Rosa”, que fala sobre progresso e vitórias, a partir daí não parou mais. Porém, antes de sair do consultório odontológico e abrir mão do emprego com carteira assinada, a cantora viveu um conflito ao adentrar o mundo artístico.

“Fazia um show a noite com pessoas falando que mudei a vida delas, mas tinha que bater ponto duas horas depois e voltava ser uma pessoa em preto e branco que não mudava a vida de ninguém”, diz.

Atualmente Luanna se dedica inteiramente à carreira artística. Ao fazer isso, ela percebeu onde a música a estava levando – como estar em um dos maiores eventos de hip hop do país, o CENA 2k22, que ocorreu em junho do ano passado em São Paulo, e reuniu mais de 100 mil pessoas em três dias de festival.

“Enxergava que todos os meus amigos estavam lá me prestigiando. Conhecia vários rostos que estavam lá, eram as pessoas que me apoiaram”

Mc Luanna, cantora

De lá para cá, a Mc esteve na Praça das Artes, no centro da capital, em novembro de 2022, com um público majoritariamente feminino a convite da Secretaria de Cultura de São Paulo, e mais recentemente na festa Ralachão (voltada para o público negro, LGBT+ e periférico), em janeiro, junto às cantoras N.I.N.A e Slipmami.

A cantora durante apresentação no CENA 2k22 @isabelleindia_/mcluanna_/Reprodução

Maldita e 44

Com quatro singles lançados desde 2020, chegou o momento de formular um trabalho mais concreto. Em junho de 2022, Mc Luanna colocou para jogo o EP “Maldita”, com quatro faixas produzidas por Mello Santana.

O trabalho foi um sucesso, alcançando mais de 2 milhões de players no Spotify e 1 milhão de visualizações no YouTube. “Sempre vou considerar o EP uma chave de virada”, diz.

O nome leva em consideração uma situação vivida pela artista. “Os caras aqui da rua chamam uma mina de maldita quando você faz algo que vai contra eles. Tinha que ser algo característico da rua. Além de que ser maldita é fazer algo que te subestimaram”, explica.

Trajada de rosa, como uma cor de superstição, Luanna exalta sua vivência como mulher preta e favelada nas músicas. Ela também carrega consigo o número 44, que deu nome ao mais recente trabalho – um álbum com oito faixas, lançado em setembro de 2022.

O título veio de algo que ela frequentemente usa para ser localizada onde mora. “Moro numa viela e, quando pedia pizza ou algo, [a referência] era a ‘Luana do 44’, o número da minha casa”, revela.

Além de singles, a Mc lançou dois trabalhos em 2022 @alissonfrocha/mcluanna_/Reprodução

O lançamento foi feito de forma independente, junto aos produtores Mello Santana, Marcos Beatman, JayP e Vitin Wav. Quem ouve as faixas, percebe uma mudança de atitude de quem canta no início e no fim do álbum – e a escolha foi proposital, segundo a artista.

“Falo muito da diferença da Luana Santos para a Mc Luanna. E ‘44’ é exatamente isso: as quatro primeiras músicas são muito sobre o que eu sou e as quatro últimas são sobre a Mc”

Ela também conta que sua versão do palco é diferente da versão nos bastidores. “São duas personalidades, que são distintas, mas que se completam: uma mais tímida e observadora, e outra que ‘fala mesmo’.”

Ao construir 44, Luanna se preocupou em abordar as vivências de pessoas pretas, tanto no amor, quanto sofrer um enquadro, além de ser provocativa ao falar dos desejos femininos. Além disso, nas redes sociais, a artista conversa com frequência sobre a importância do processo terapêutico para entender os próprios sentimentos.

“Terapia não te isenta de sentir, e ajuda em tudo – para lidar com o público, com os outros artistas… E a música ‘Rotina’ é parte do experimento da terapia, até porque aprender a receber afeto é tão difícil quanto terminar um relacionamento”, afirma.

Sendo uma das grandes revelações do rap nacional em 2022, Mc Luanna não foi ouvida apenas no Brasil, mas em outros 115 países, como Portugal, Estados Unidos, Reino Unido e Japão.

Com feats para soltar neste ano (o primeiro deles, “Filhas do Improvável”, ao lado de Clara Lima e Rizzi Get Buzy, foi lançado em 11 de janeiro), ela sabe que está fazendo parte da cena do hip hop, e afirma ser a mesma pessoa do passado que planejava os próximos passos.

“Eu seria ídolo da Luana criança e o meu progresso é ‘no off’. Sei que vão ter outras meninas que vão escrever e acreditar em si mesmas, e o que mais gosto disso é que o que eu faço muda vidas”, finaliza.

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Estela Aguiar

Jornalista. É fiel à crença de que da ponte pra cá, o jornalismo é revolucionário. Apaixonada por carnaval, filmes e séries. Correspondente do Jardim João XXIII desde 2019

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