Na terceira reportagem sobre as periferias e as Olimpíadas, as histórias de Christal, de Guaianases, e Ailton, da Brasilândia, que sonham com os Jogos de Paris
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Por: Cleberson Santos
Notícia
Publicado em 05.08.2021 | 17:22 | Alterado em 22.11.2021 | 15:42
Enquanto as medalhas ainda estão sendo disputadas em Tóquio, inúmeros atletas estão dando duro desde já para garantir uma vaga nos próximos Jogos Olímpicos, os de 2024, em Paris.
A ginasta Christal Bezerra, 16, e o lutador de wrestling (luta livre e greco-romana) Ailton Brito, 21, são dois exemplos disso.
Algumas semanas antes da Pira Olímpica ser acendida em Tóquio, Christal estava no Rio de Janeiro disputando o Pan-Americano de Ginástica, onde conquistou três medalhas. Já Ailton esteve em Sergipe, onde ficou com a prata no Brasileiro Sub-23 da sua modalidade.
Christal vive com a mãe e os avós em Guaianases, zona leste de São Paulo, e Ailton mora na Brasilândia, na zona norte, e fazem parte das promessas vindas das periferias que sonham com o pódio olímpico.
Esta é a última reportagem da série sobre as Olímpiadas e as periferias. Desde o começo dos jogos, a Agência Mural contou a história de medalhistas olímpicos do passado, sobre atletas das quebradas que estão nesta edição em Tóquio e, agora, as promessas para as próximas edições.
As três reportagens também foram episódios do Próxima Parada, podcast da Agência Mural, original Spotify.
Uma semelhança entre eles, e que também está presente na trajetória da Fofão e do Felipe dos Santos, são os trabalhos no COTP (Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa), no Ibirapuera.
Criado em 1976, o COTP é o principal equipamento público para formação de atletas de alto rendimento em São Paulo.
Apesar de ser uma referência, ele também é um símbolo da falta de investimento esportivo nas bordas da cidade. Há mais de 40 anos, esportistas de todos os cantos de São Paulo precisam se deslocar ao Centro Olímpico para se desenvolver como atleta.
Guaianases, onde Christal vive, tem 0,18 equipamentos esportivos públicos para cada 10 mil habitantes, segundo o Mapa da Desigualdade de 2020. Ela gasta duas horas em cada viagem para o Centro Olímpico, lugar que frequenta desde os quatro anos de idade, quando a mãe dela percebeu que a pequena levava jeito para a ginástica.
“Ela me colocou no balé primeiro, mas eu só me pendurava, escalava parede, dava cambalhota em qualquer lugar. Alguém da família conhecia o Centro Olímpico e acabou me colocando, com quatro anos, para fazer o teste lá e eu passei”, conta a ginasta.
A ginástica tem revelado talentos desde o ano 2000 e, neste ano, trouxe uma das medalhas de ouro para o Brasil este ano, com Rebecca, cria da periferia de Guarulhos. Christal já se encontrou com Daiane dos Santos, uma das principais referências da modalidade e que atualmente é comentarista esportiva.
Ailton começou a frequentar o COTP bem depois. Antes de conhecer a luta olímpica, ele foi apresentado ao jiu jitsu, por meio de um projeto na escola em que estudava. “Fui treinar numa academia e lá tinha um professor que dava aula de wrestling. Aí ele falou se eu queria conhecer a luta. Gostei de primeira, foi amor à primeira vista”.
Hoje, a rotina começa às 5h da manhã, quando acorda para ir à faculdade de educação física, e depois vai aos treinos no Ibirapuera, chegando em casa somente por volta das 20h.
Segundo a Secretaria de Esportes de São Paulo, a diferença do COTP para outros equipamentos públicos, como os Clubes da Comunidades e os Clubes Escolas, é o propósito de “promover o desenvolvimento de atletas e equipes competitivas nas categorias de base”, assim como os clubes privados e tradicionais, como o Paulistano e o Pinheiros.
Assim sendo, é comum que os atletas formados pelo Centro Olímpico comecem a participar de competições. No caso da Christal, ela nem se lembra quando foi a primeira, de tão nova que era.
“[Lembro que] tinha uma equipe de 30 meninas que treinavam comigo, que a gente ia em campeonatos, parecia de escola. A gente torcia uma para a outra, ficava muito feliz, eu lembro disso, da gente pequenininha.”
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Já a experiência de Ailton com as primeiras competições não tiveram tanta a inocência infantil, mas sim a adrenalina que qualquer jovem busca em seus hobbies:
“Não tem como esquecer minha primeira competição, no Rio de Janeiro. Eu ainda ganhei, mas a sensação era muito estranha, uma adrenalina diferente”, relembra o lutador, que conquistou a primeira medalha de ouro com apenas dois meses no wrestling. “Mesmo se eu não tivesse ganhado, a sensação de estar lutando lá é inexplicável”.
Correspondente do Capão Redondo desde 2019. Do jornalismo esportivo, apesar de não saber chutar uma bola. Ama playlists aleatórias e tenta ser nerd, apesar das visitas aos streamings e livros estarem cada vez mais raras.
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.
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