Simony Maia/Agência Mural
Correspondentes da Mural apontam alta em propaganda entregue em casa na Grande SP. Na capital, houve menos uso, com exceção de uma residência que recebeu 400 papéis
Por: Ariane Costa Gomes | Ana Beatriz Alves | Daniel Santana | Cleberson Santos | Luis Antonio | Katia Flora | Humberto do Lago Müller | Jacqueline Maria da Silva | Livia Alves | Paulo Talarico | Simony Maia
Notícia
Publicado em 01.11.2024 | 15:58 | Alterado em 13.11.2024 | 10:02
“Aqui foram 71 santinhos, quase um terço deles (23) foram jogados no dia 6”, conta Jacqueline Maria da Silva, correspondente da Mural em Cidade Ademar, na zona sul de São Paulo.
“Foram 18 candidatos diferentes, de partidos variados, em sua maioria de direita como PSD, MDB. Um papel de um candidato de Diadema veio parar na minha caixa, apoiador do Fillipi (PT)”, ressalta citando o prefeito de Diadema.
A presença de mais candidatos da base aliada aos atuais prefeitos foi uma das conclusões do Santinhômetro, levantamento feito pela Agência Mural desde 2016 sobre como as propagandas têm chegado nas casas das periferias da cidade e da Grande São Paulo.
Em 11 casas de correspondentes da Mural, coletamos todos os materiais jogados nas caixas de correio, no portão, no chão, e que foram possíveis de salvar de um eventual cachorro ou chuva que poderia destruí-lo. O resultado é uma variação a depender do endereço.
Em três casas, o número de propagandas ultrapassou 150 papéis, em especial em cidades da Grande São Paulo, como Osasco e Ferraz de Vasconcelos.
Na capital, houve uma moderação nesse tipo de uso dos materiais impressos, com uma exceção. No Jardim São Luís, na zona sul, chegaram 464 santinhos. Esse recorde leva a uma quantidade de 10 materiais por dia, numa propaganda desenfreada. Na casa, Professor Claudio Fonseca (PCdoB) teve 79 santinhos enviados, e Jair Tatto (PT) 49.
Esse monte de santinhos enviados não é ilegal e, muitas vezes, foge do controle dos candidatos. O material, em geral, feito para ser distribuído um por residência, muitas vezes acaba sendo despejado de uma vez em alguma casa. Fora os que são guardados para jogar no dia das eleições. De todo modo, ele indica tanto quem mais apostou nisso quanto quem tinha mais dinheiro disponível.
Este ano, houve uma volta com força desse tipo de propaganda que começou a perder espaço com o avanço das redes sociais, e com a pandemia de Covid-19 reduzindo a possibilidade desse tipo campanha em 2020.
Mas fato é que as campanhas têm variado.
De volta a Cidade Ademar, a maior quantidade de santinhos foi de Rodrigo Goulart (PSD), quase um terço com 23 panfletos. A figura já é conhecida por ser filho de João Goulart, vereador em vários mandatos, também seu apoiador. Rodrigo conseguiu se reeleger.
Outros com maior quantidade foram de Silvinho Leite e Silvão Leite, do União, somando 12 papéis, ambos apoiados pelo presidente da Câmara Milton Leite.
Marcelo Messias (MDB), com três papéis, e Sidney Cruz (MDB), com um, também se reelegeram e são figurinhas carimbadas em Cidade Ademar e Pedreira, se reelegeram, mesmo com poucos papeis. Eles estão entre as pessoas citadas como fazendo campanha antecipada com cartazes nas matérias da Mural.
“A primeira impressão que tive é que recebi poucos santinhos em casa nesta eleição, mas comparando com o levantamento de 2022 percebi que estava errado. Foram cinco santinhos a mais, subindo de 22 para 27”, aponta Cleberson Santos, correspondente do Capão Redondo, também na zona sul .
O que causou a impressão é que foram poucos candidatos, apenas 8, o que dá quase uma média de 3 panfletos de cada um. Também houve variação de candidatos. Enquanto os Leite apareceram em Cidade Ademar, a situação foi diferente.
“Diferentemente de outras eleições, em que era comum ver muito material da Família Leite e aliados, esse ano o candidato dele, Silvinho, deixou apenas 3 santinhos aqui”, ressaltou.
No Campo Limpo, a correspondente Livia Alves relata ter escapado bastante do derramamento de materiais. “Com 10 santinhos, este ano tivemos uma pré-eleição menos poluída, com mais placas e adesivos colados nas casas e menos papéis espalhados.” O número foi semelhante aos nove de Cidade Tiradentes, no extremo leste.
Entre os materiais que chegaram, é difícil estabelecer conexão com o resultado. Doze candidatos a vereador que entregaram santinhos foram eleitos, e 24 ficaram de fora na cidade de São Paulo.
No entanto, esses materiais sempre trazem o apoiado para a prefeitura, o que reforçou boa parte das bases aliadas na Grande São Paulo, onde o derramamento nas casas foi mais intenso.
Em Ferraz de Vasconcelos, ocorreram muitas carreatas durante a campanha no bairro da Vila São Paulo, com um número surpreendente de santinhos: 198 até o final do período eleitoral, grande parte dos vereadores. “Para uma cidade que não tem segundo turno, achei o número altíssimo”, avalia Beatriz Alves, correspondente da cidade.
A maior parte dos materiais trazia a prefeita reeleita Priscila Gambale (Podemos). O adversário, Dr Rafu mesmo, só enviou 1. Mas havia também candidatos que viviam no mesmo como Jair do Estacionamento, que não foi eleito.
“Reparei também um destaque nos santinhos recebidos pela candidata Zenaide da Saúde, foram 25, mais até do que recebi da campanha da prefeita, que foram 21”, ressalta. “Ferraz não elegia uma vereadora desde 2016, Professora Selma (Republicanos) foi a única mulher eleita para ocupar uma cadeira na Câmara, dela, recebi 3 santinhos.”
Em Mairiporã, na região norte da Grande São Paulo, o número de santinhos diminuiu considerando as eleições anteriores. “Também houve menos variedade, a grande maioria (mais de 30) eram candidatos a vereador endossados por Aladim (PSD), que venceu a disputa para reeleição como prefeito”, conta o correspondente Humberto Muller.
Os campeões em quantidade foram Major Paulo (Podemos) com 10 e que não foi eleito, e Leila Ravazio (PSD) com 8, e que acabou eleita vereadora.
Entre os mais de 90 materiais de campanhas políticas entregues numa residência no Santo Antônio, bairro da zona sul de Osasco, na Grande São Paulo, boa parte foi de candidatos a vereador que faziam parte da coligação “Para seguir cuidando de Osasco”. O mesmo foi visto no bairro Bandeiras, onde 166 materiais do tipo foram jogados no quintal.
A maioria dos impressos foi composta por uma imagem do até então candidato à prefeitura, o deputado estadual Gerson Pessoa (Podemos), ao lado de um concorrente ao legislativo de Osasco.
Pessoa venceu a disputa pela prefeitura no primeiro turno com 285.998 votos. Apoiado pelo atual prefeito, Rogério Lins (Podemos), o deputado estadual apareceu mais em materiais em parceria com outros candidatos do que em próprios nos “santinhos” recebidos na residência. Foram 66 em conjunto e apenas 3 sozinho.
Em Osasco, a proporção dos candidatos apoiadores do prefeito eleito foi bem maior @Ariane Costa Gomes/Agência Mural
Em Osasco, a proporção dos candidatos apoiadores do prefeito eleito foi bem maior @Ariane Costa Gomes/Agência Mural
166 materiais chegaram em bairro da periferia osasquense @Paulo Talarico/Agência Mural
Acúmulo superou da última eleição @Paulo Talarico/Agência Mural
Mas há casos em que o grupo do atual prefeito não foi o mais presente.
No período de campanha das eleições municipais, em São Bernardo do Campo, o material mais visto pelos moradores foi do Podemos, com alguns candidatos a vereador e de Marcelo Lima, prefeito eleito com 205.831.
“Ao todo recebi 79 santinhos dos candidatos. Diferente a última eleição em 2020 que foram mais de 100 materiais de diversos partidos e candidatos”, conta Katia Flora, correspondente de São Bernardo do Campo.
O atual prefeito, Orlando Morando (PSDB) apoiou a sobrinha, Flavia Morando (União) no primeiro turno, mas decidiu apoiar Marcelo na reta final. Materiais de candidatos ao lado de Flavia também chegaram.
Em Diadema, a presença da base do prefeito também foi mais forte, mas a oposição venceu a disputa.
O número de santinhos entregues no bairro do Taboão, foi de 48 papéis em formatos e mensagens diversas com um maior destaque para os pertencentes ao prefeito e candidato a reeleição José de Filippi Jr (PT), que saiu na frente com 13 santinhos.
Um fato curioso é que o segundo candidato com mais santinhos entregues – Boquinha do partido Republicanos – conseguiu se eleger com 1,81% dos votos. Enquanto o prefeito da cidade, perdeu a disputa no segundo turno para Taka Yamauchi (MDB).
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