Por: Ana Beatriz Felicio
Notícia
Publicado em 22.06.2021 | 20:53 | Alterado em 30.11.2021 | 16:13
Localizada na região oeste da Grande São Paulo, Osasco possui o segundo maior PIB (Produto Interno Bruto) do estado, ficando atrás apenas da capital. O IDH, índice de desenvolvimento humano, também é considerado elevado.
Entretanto, não é essa narrativa oficial, que inclusive está no site da prefeitura, que mais interessa ao osasquense Sidnei Junior, 24. Motivado em contar histórias de pessoas que vivem nas periferias da cidade, ele é o criador do projeto “Quebradas de Osasco” e produz vídeos documentários para serem distribuídos nas redes sociais.
Todos os vídeos trazem moradores como protagonistas, ou como Sidnei diz, “dão licença” para que essas pessoas apareçam.
“A proposta é trazer essas figuras da periferia da cidade para cena. Para que elas possam dar um passo à frente e contar sua história, falar sobre trajetória de vida, sobre o trabalho, realizações. Abrir espaço de verdade.”
AMOR PELAS PERIFERIAS
Morador do bairro Jardim Elvira, na zona norte da cidade, Sidnei é arte educador e além de trabalhar com audiovisual é quadrinista e ilustrador. Ele é o responsável também pelo projeto “O Homem Saudade”, perfil onde posta ilustrações que buscam retratar a estética periférica.
A ideia de criar o “Quebradas de Osasco” surgiu no final de 2019, quando ficou desempregado e resolveu usar a câmera e equipamentos que tinha em casa em prol dos moradores da cidade.
“Sempre nutri um amor muito grande por Osasco e conforme o tempo foi passando descobri que esse amor é pelas periferias daqui, pelos lugares onde cresci. E aí em uma noite me veio a ideia de fazer documentários”, relembra.
Com a ideia na cabeça, o maior problema era como fazer para editar os conteúdos, já que ele não sabia usar os softwares. Com a ajuda do YouTube, vendo vídeos como “edição em cinco minutos”, Sidnei aprendeu rapidamente como realizar as funções básicas para poder começar e iniciou as entrevistas.
Porém, o começo do processo de produção veio quase junto com a pandemia e ele precisou adiar a estreia dos episódios. O primeiro, intitulado “Amor Preto Vivo”, foi divulgado no dia 12 de março de 2021.
Apesar dos temas diferentes, em comum os vídeos são construídos por meio de falas íntimas dos entrevistados, com uma fotografia preocupada em demonstrar a beleza dos locais retratados.
A periodicidade gira em torno de três semanas a cada vídeo. Todo o trabalho, desde pesquisa até a organização das postagens nas redes sociais, são feitas por Sidnei.
Sem nenhum tipo de apoio financeiro, ele conta que o único investimento que fez até agora foi o do valor das passagens para ir até o local das gravações. Mas atualmente estuda parcerias e formas de tornar o trabalho rentável para poder contratar uma equipe.
FALTA DE APOIO À CULTURA
Na opinião de Sidnei, apesar de Osasco ser uma cidade rica, são sempre os mesmos grupos políticos que se alternam no poder de diferentes setores, o que faz com que as periferias e a produção cultural que emana delas não seja visualizada pela própria cidade.
“Aqui nas nossas periferias temos muitas pessoas produzindo cultura, temos muitas pessoas prestando serviços sociais e não existe um reconhecimento da própria prefeitura em investir nessa produção de cultura e de educação que é oriunda daqui.”
Nesse sentido, ele acredita que o “Quebradas de Osasco” também cumpra uma função social, de revelar esses personagens “anônimos”.
O projeto aceita indicações do público, pessoas que tenham alguma história para contar e que morem nas periferias de Osasco podem participar. É só escrever para [email protected].
“Pretendo pelo menos alcançar as pessoas das periferias da cidade para que vejam esse projeto e se identifiquem. E que seja um pontapé inicial para que os entrevistados sejam mais visibilizados”, diz Sidnei.
Jornalista, curiosa, já foi apresentadora do Próxima Parada. Gosta de conhecer pessoas novas e descobrir o que as motiva a acordar todos os dias. Correspondente de Carapicuíba desde 2018.
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.
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