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Agência de Jornalismo das periferias

Por: Paulo Talarico | Cleberson Santos

Notícia

Publicado em 31.07.2023 | 10:35 | Alterado em 31.07.2023 | 14:39

Tempo de leitura: 4 min(s)

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Foi há 24 anos, nos Estados Unidos, que o Brasil alcançou a então melhor colocação em uma Copa do Mundo Feminina. Um terceiro lugar em cima da Noruega nos pênaltis e uma seleção que já contava com duas lendas do futebol feminino: Formiga e Sissi.

Essa seleção histórica, de uma época que o futebol feminino ainda dava os primeiros passos no país, também contava com Delvanita Souza Santos, a Deva.

Hoje com 42 anos, ela disputou sua única Copa do Mundo com apenas 18, pouco tempo depois de ser descoberta nos campinhos da Vila Missionária, na região de Cidade Ademar, zona sul de São Paulo.

Em 1995, ela passou em um teste para entrar na categoria de base do Corinthians.“Disputamos um campeonato no Rio de Janeiro e na volta apenas oito dessa base continuaram no time. Depois fui para um amistoso da seleção sub-17 na Holanda. Foi tudo muito rápido, eu tinha 15 anos na época”, relembra Deva.

Ex-jogadora prestigiou evento que reuniu jogadoras do futebol de várzea de várias regiões @André Santos/Agência Mural

Como jogadora profissional, ela passou por times como Flamengo, Palmeiras, Corinthians e Portuguesa, além de ter sido convocada para a seleção diversas vezes até 2007. Ela tentou voltar ao futebol em 2021, mas não conseguiu conciliar a rotina de treinos com o trabalho, que dava a ela um retorno financeiro mais garantido.

“Hoje as meninas têm carteira assinada, um salário digno, antes era mais verbal, quando o time acabava o campeonato você saía, não era certo até o fim do ano.”

Outra comparação que Deva faz entre o tempo em que jogou com o atual momento da modalidade é a normalização da presença das mulheres no futebol, seja na TV quanto nos bairros.

“Estou vendo aos pouquinhos que a gente está conseguindo resgatar a cultura do futebol feminino. Na minha época poucas meninas jogavam, era considerada ‘hominho’, por estar no meio dos meninos, mas nunca liguei para isso”.

Uma das lembranças que ela guarda dessa fase de jogar junto com os meninos é ter que ir bem cedo ao Parque do Ibirapuera para conseguir uma quadra disponível. Na época, a máxima das “donas da bola” se fazia presente para continuar jogando.

“Eu, minha irmã e uma galerinha chegava 7h na quadra porque sabíamos que depois chegavam os caras. E eles não queriam deixar a gente de próximo, então a gente levava a bola embora mesmo”.

Hoje a ex-meio campista se mantém próxima ao futebol feminino e ao bairro de origem. Além de ser professora de educação física na região, ela é atuante no futebol de várzea.

Como professora, ela usa da própria experiência como jogadora de Copa do Mundo para impedir que os alunos não deixem as meninas jogarem com eles. “Se de repente falarem ‘ah professora, elas não sabem’, eu falo vem jogar comigo, eu deito, driblo. Não tem esse tipo de preconceito não”.

Evento reuniu meninas do futebol de várzea na zona sul @Paulo Talarico/Agência Mural

Deva conversou com a Agência Mural durante um evento “Maior Festival Feminino de Várzea do Mundo”, que reuniu de 1.000 jogadoras do futebol amador, na região de Pedreira, na zona sul. Ver os jogos animou Deva. “Não consigo parar, quando vejo isso me passa um filme, dá vontade de entrar em campo para jogar, é a minha paixão mesmo”, desabafa Deva.

A ex-atleta evita jogar futebol com maior frequência por conta de um histórico de lesões. O mais recente deles foi há três anos, quando rompeu um ligamento no joelho em um jogo no bairro.

Apesar dos avanços do futebol feminino, Deva vê uma série de barreiras impostas para as mulheres e cita o fato de que há poucas treinadoras. Um dos motivos para ela é o custo. Para tirar uma licença da CBF e trabalhar profissionalmente, é necessário fazer um curso e uma taxa que pode chegar a R$ 20,9 mil para quem quiser atuar no Brasil e no exterior ou R$ 10 mil para o âmbito nacional.

Uma discussão que ela diz que precisa ser feita é que a licença possa ser concecida para atletas que passaram pela seleção e tem interesse em trabalhar.

“A gente está nessa briga aí porque é esse reconhecimento que a gente quer, não é dois minutos de aparecer na TV. Porque aparece na TV hoje e amanhã já foi, ninguém lembra mais”

Sobre a Copa do Mundo de 2023, que está sendo realizada na Austrália e na Nova Zelândia, Deva reconhece a superioridade dos Estados Unidos (atual campeã e também vencedoras do Mundial que ela participou em 1999), mas torce pela vitória brasileira: “A gente precisa colocar uma estrelinha nossa no peito”.

Brasil na Copa

Desde 2020, o uniforme da seleção feminina não carrega as mesmas cinco estrelas que representam as conquistas na Copa do Mundo Masculina. Além do terceiro lugar em 1999, o Brasil tem um vice-campeonato no Mundial de 2007. Na última edição da competição, em 2019, o Brasil foi eliminado nas oitavas de final pelo time anfitrião, a França.

Nesta edição, a seleção estreou com vitória contra o Panamá por 4 a 0 e perdeu para a França por 2 a 1. A equipe da técnica Pia Sandhage precisa vencer a Jamaica na última rodada para chegar à segunda fase.

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Paulo Talarico

Diretor de Treinamento e Dados e cofundador, faz parte da Agência Mural desde 2011. É também formado em História pela USP, tem pós-graduação em jornalismo esportivo e curso técnico em locução para rádio e TV.

Cleberson Santos

Correspondente do Capão Redondo desde 2019. Do jornalismo esportivo, apesar de não saber chutar uma bola. Ama playlists aleatórias e tenta ser nerd, apesar das visitas aos streamings e livros estarem cada vez mais raras.

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