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Em São Bernardo, diretor LGBTQ+ ganha seis prêmios com documentário 'Apenas Garota'

Premiado, o diretor retratou em obra algumas experiências da comunidade LGBTQ+

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Arquivo Pessoal

Por: Katia Flora

Notícia

Publicado em 28.01.2021 | 19:27 | Alterado em 22.11.2021 | 16:13

Tempo de leitura: 3 min(s)

“Não pareço, eu sou mulher”, a frase foi escrita por uma mulher transexual, com um batom vermelho, na parede de um quarto feminino, com bolsas, urso de pelúcia e boneca. O cenário foi decorado para mostrar a luta e dificuldades que enfrentam na sociedade. 

É assim que começa o “Apenas Garota”, documentário com a temática LGBTQIA+ que retrata a história de três mulheres trans. Elas contam os desafios com a família e a sociedade por respeito e reconhecimento. 

Quem idealizou o projeto foi o diretor Danilo Facioli, 27. Ele se inspirou na tia que foi morta nos anos de 1980, por causa da transfobia – ações negativas, discriminatórias ou preconceituosas contra pessoas transgênero. “As mulheres trans têm poucos direitos, e ainda sofrem nas ruas. O intuito é dar voz para elas e também homenagear minha tia”, comenta.

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Danilo Facioli, diretor do documentário Apenas Garota @Arquivo Pessoal

O documentário independente foi produzido por Facioli em junho de 2019, no Cav (Centro de Audiovisual), local público que oferece cursos técnicos gratuitos na área de cinema, TV e animação, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo

No filme há relatos da vida e adversidades no cotidiano de Denise Oliveira, Hannah Ribeiro e Letícia Corrêa, como os desafios nas entrevistas de emprego, nos relacionamentos e na hora de usar um banheiro público feminino. 

Foram três dias de gravação, com uma equipe de seis pessoas. Facioli improvisou uma sala do Cav e colocou várias bonecas no chão, documentos, placas de banheiros e tinta vermelha para representar o sangue das mulheres mortas no país.

As entrevistas trazem o contexto de ser trans no Brasil. Contam sobre a infância, mas sobretudo da adolescência, que não se identificavam com o universo masculino. Ao mesmo tempo, começava a cobrança dos pais por causa dos trejeitos. Na fase adulta, outros obstáculos vieram como relacionamentos abusivos.

A produção foi bancada pelo diretor. Ele vendeu um celular para conseguir comprar os objetos que utilizou como manequim num brechó, alimentação e o vale transporte para as entrevistadas – total R$ 300. “Quando falo que foi esse valor, as pessoas não acreditam, o orçamento foi barato. Tive também ajuda da minha mãe e do meu namorado”, enfatiza.

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Letícia Corrêa, conta as dificuldades na hora da entrevista de emprego @Divulgação/Homero B.S.Filho

O documentário foi exibido em 11 festivais no Brasil, dentre eles 19ª Maual (Mostra de Audiovisual Universitário e Independente da América Latina) e conquistou alguns prêmios, como o da Mostra Tropiqueers, como Melhor Arte e menção honrosa na categoria de Melhor Roteiro (14º Comunicurtas) em Campina Grande, Paraíba. 

O filme está disponível na plataforma www.originiou.com, como um dos mais acessados. 

Danilo Facioli nasceu em Cerquilho, no interior de São Paulo. Em 2017, resolveu se mudar para São Bernardo do Campo quando soube na internet do curso no Cav. 

Ele fez uma prova e assim que saiu o resultado de aprovado, alugou uma casa com o namorado no município, para ficar perto da instituição. “Vim em busca de um sonho: estudar numa escola gratuita, fazer audiovisual. Pretendo me especializar nos cursos de figurino e em outras escolas, quero ser referência para os jovens com meus trabalhos voltados ao público LGBTQ+”.

Para uma das mulheres trans que teve participação no filme, a microempresária Hannah Ribeiro, 25, foi emocionante falar da sua vivência. Ela é amiga do diretor há uma década.

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Hannah Ribeiro contou sua história no filme @Divulgação/Homero B.S.Filho

Ela diz que foi impactante fazer a cena poética que limpa as bonecas com sangue escorrendo. No mesmo dia da gravação, em maio de 2019, recebeu a certidão de nascimento corrigida no cartório. “Fiz a cena com muita emoção, e senti um alívio de ter meu novo documento, antes tinha vergonha de frequentar locais e mostrar o RG anterior”, comenta.

Ela afirma que é uma exceção por ter conquistado espaço, independência financeira, pois muitas mulheres transexuais têm dificuldade de conseguir emprego e visibilidade. Mas vê um avanço na eleição municipal de pessoas LGBTQ+ que foram eleitas em São Paulo.

Em janeiro, o diretor começa a gravar um curta-metragem com alguns atores de São Bernardo do Campo, com o nome Rua 23, um drama com a temática LGBTQ+. 

Nesta sexta-feira (29), Dia da Visibilidade Trans, vai participar de uma live na Fábrica de Cultura 4.0 do município para explicar como foi a produção do documentário. Ele pretende inscrever o trabalho em festivais fora do país como Portugal, França e Argentina. 

Correção: texto alterado em 9 de fevereiro. Ao contrário do publicado inicialmente, Danilo nasceu em Cerquilho e não em Cotia.

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Katia Flora

Jornalista com experiência em jornalismo online e impresso, tem publicações em diversos veículos, como Uol, The Intercept e é ex-trainee da Folha de S. Paulo no programa para jornalistas negros. Correspondente de São Bernardo do Campo desde 2014.

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