APOIE A AGÊNCIA MURAL

Colabore com o nosso jornalismo independente feito pelas e para as periferias.

OU

MANDE UM PIX qrcode

Escaneie o qr code ou use a Chave pix:

[email protected]

Agência de Jornalismo das periferias
Notícias

São Lourenço da Serra registra morte por Covid-19, e todas as cidades da Grande SP têm casos

Família aponta descaso no tratamento de Robson Sousa, que tinha 36 anos, e passou por três municípios para receber atendimento

Image

Divulgação/Prefeitura de São Lourenço da Serra

Por: Karol Coelho

Notícia

Publicado em 21.04.2020 | 11:02 | Alterado em 27.02.2024 | 16:22

RESUMO

Família aponta descaso no tratamento de Robson Sousa, que tinha 36 anos, e passou por três municípios para receber atendimento

Tempo de leitura: 4 min(s)

Na tarde desta segunda-feira, a prefeitura de São Lourenço da Serra divulgou o primeiro óbito na cidade, devido a Covid-19. Robson Sousa, 36, morreu no domingo (19), no HGIS (Hospital Geral de Itapecerica da Serra). 

Até então, o município era o único da Grande São Paulo sem histórico de casos de infecção pelo novo coronavírus. Também aponta as dificuldades do tratamento da enfermidade. 

O comunicado, publicado na página oficial da prefeitura no Facebook, provocou revolta na família. 

Segundo a cunhada de Sousa, Dayane Medeiros, 28, houve descaso no pronto-socorro da cidade.

Image

Prefeitura fez ações de limpeza em São Lourenço da Serra; família de vítima aponta descaso @Divulgação/Prefeitura de São Lourenço da Serra

“Ele passou no pronto-socorro no final do mês de março e foi diagnosticado com quadro de sinusite. Ele já estava muito ruim, com coriza, e o médico deu 7 dias para ele, mandou ele ficar em casa. Só que ele tinha que ir todo dia lá tomar medicação e fazer inalação”, conta.

Ainda segundo a família, Sousa não tinha histórico de doenças respiratórias, e por isso, suspeitam que ele já estava infectado. Ele trabalhava como controlador de acesso em um prédio em construção em São Paulo. 

No dia 9 de abril, ele se sentiu muito mal e mais uma vez passou no pronto-socorro, tomou medicação e voltou para casa. Um dia depois, ele saiu carregado de casa pelos parentes.

Sousa morava em uma casa, onde dividia o quintal com outros familiares. “Todo mundo tem contato com todos e é provável que tenham sido infectados”, avalia a cunhada. Ela vive em Ferraz de Vasconcelos, no Alto Tietê, com o marido, que é irmão de Sousa. 

Ele tinha dificuldade para respirar e levaram-no novamente para o pronto-socorro. O médico plantonista afirmou que tratava-se da Covid-19 e pediu para ele ficar em observação e isolamento. “Deu até uma atenção boa”, conta.

VEJA MAIS:
Confira a cobertura especial sobre o coronavírus e as periferias
Confira como solicitar o auxílio de R$ 600
Conheça o Em Quarentena, podcast da Agência Mural sobre a Covid-19
‘Comprar comida é o mais urgente agora’, dizem autônomos que aguardam auxílio de R$ 600

No dia 11, contudo, apesar de Robson não estar respirando bem, o médico do plantão da manhã deu alta ao paciente, com um atestado de 14 dias. Por não estar se sentindo bem, o colocaram na cadeira de rodas. Um familiar o encontrou na calçada do pronto-socorro. “Ninguém nos avisou”, diz.

Ele foi levado pelo parente imediatamente para o hospital de Campanha em Embu das Artes, município vizinho que criou um espaço destinado aos pacientes de Covid-19. Em três dias, o seu estado se agravou e ele entrou em coma induzido.

Na terça-feira (14), ele foi encaminhado para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Geral de Itapecerica da Serra, outra cidade vizinha. Ao decorrer dos dias, ele teve febre e uma infecção no pulmão foi diagnosticada, até morrer no domingo (19).  

AVANÇO DA COVID-19 NA GRANDE SP
Barueri fecha a semana como a segunda cidade com mais casos; Grande SP têm 12 mil com Covid-19
Covid-19 chega a Salesópolis e apenas uma cidade não tem infectados na Grande SP
Na Grande SP, 36 cidades têm casos de Covid-19, Vargem Grande Paulista e Poá registram mortes
Cidades da Grande SP aguardam 6 mil resultados de suspeitas da covid-19

SEM DESPEDIDA

A família de Robson não teve mais contato com ele desde que ficou internado no hospital de Embu da Artes. Quem tinha contato com ele não recebeu orientação sobre o que fazer nem foram feito testes.

Sem poder se despedir, o velório e o sepultamento entristeceu mais ainda os parentes. Além da limitação de participação de pessoas, quem pôde acompanhar, certificou-se sobre as condições do cemitério da cidade de São Lourenço da Serra.

“A gente teve que sair driblando as covas para passar com o caixão. Ele foi o último de cinco a ser enterrado, mas o espaço era pequeno e cheio de mato. Havia covas sendo abertas embaixo de barrancos”, relata Dayane. “Eu vi o coveiro pegar um osso de pessoas que estavam enterradas”. 

Image

Cidade de São Lourenço da Serra fica a 55 km da capital @Divulgação/Prefeitura de São Lourenço da Serra

Descrito como um “um homem de coração enorme e muito brincalhão”, Robson tinha quatro irmãos, deixa a esposa Carina, 35, que conheceu quando tinha 16 anos, e dois filhos, de 2 e 6 anos.

Ele nasceu no Butantã, zona oeste de São Paulo, cresceu no Campo Limpo e passou a juventude em Interlagos, zona sul. Mudou-se para São Lourenço com a família em 2015.

Questionada sobre a falta de atendimento a Robson, a Prefeitura de São Lourenço da Serra não respondeu. 

No comunicado sobre o caso divulgado nas redes sociais, a gestão pediu o cumprimento do isolamento social. “Continuamos a insistir no isolamento social, evitem aglomerações, fiquem em casa e façam higienização, conforme as recomendações”, disse a prefeitura em comunicado.  

< >

PRIMEIRO CASO

A morte de Robson foi a confirmação de que todas as cidades da região metropolitana já tem casos de Covid-19, inclusive os municípios mais distantes e com característica interiorana. Também indica a dificuldade de cuidados que esses pequenos municípios da Grande São Paulo tem enfrentado.

Situada a 55 km da capital no Sudoeste da Grande São Paulo, São Lourenço da Serra conta com 16 mil habitantes e é conhecida pelo turismo de natureza. Faz parte da região em que Itapecerica da Serra, Embu das Artes e Taboão da Serra são os municípios mais populosos. Também faz limite com Embu-Guaçu e Juquitiba.

Moradores dali tem contato constante com a zona sul da capital, em especial com os distritos do Campo Limpo, Capão Redondo e Parelheiros. 

Segundo o Conisud (Consórcio Intermunicipal da Região Sudeste), que reúne oito prefeituras, a região contabiliza 280 casos e 33 mortes por Covid-19. Outros 36 óbitos estão sob investigação. 

Em São Lourenço, há apenas o caso de Robson, mas durante o enterro de Robson, familiares dizem que havia tensão por conta de outros casos no município.

*Texto alterado em 21/04 às 15h55: Robson era controlador de acesso de um prédio em construção e não porteiro, como publicado inicialmente. 

receba o melhor da mural no seu e-mail

Karol Coelho

É jornalista, cofundadora da Agência Mural e correspondente do Campo Limpo desde 2010. Colaborou com a criação da Escola Comunitária de Comunicação da Escola de Notícias, no Campo Limpo, zona sul de São Paulo. Escreve poesias e tem um livro chamado "Estado Atmosférico", que produziu de maneira independente. Na Mural, também apresentou o Rolê Na Quebrada e o PodePá! e foi editora de projetos especiais.

Republique

A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.

Se você quer saber como republicar nosso conteúdo, seja ele texto, foto, arte, vídeo, áudio, no seu meio, escreva pra gente.

Envie uma mensagem para [email protected]

Reportar erro

Quer informar a nossa redação sobre algum erro nesta matéria? Preencha o formulário abaixo.

ERRAMOS

21.04.2020Robson era controlador de acesso de um prédio em construção e não porteiro, como publicado inicialmente.

PUBLICIDADE