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São Paulo comemora 463 anos e moradores cobram mais diálogo

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Por: Redação

Publicado em 25.01.2017 | 12:10 | Alterado em 31.01.2023 | 15:56

RESUMO

Cidade comemora 463 anos e moradores de vários pontos do município dizem o que esperam do novo governo

Tempo de leitura: 8 min(s)

De um lado, esperança de que o novo governo municipal consiga cumprir os avanços que prometeu. Do outro, a desconfiança de como os bairros periféricos serão olhados nos próximos quatro anos, com o polêmico início de gestão com os grafites sendo apagados pela cidade. A palavra de ordem foi: ‘Diálogo’.

São Paulo comemora hoje 463 anos e a Agência Mural ouviu como os moradores começam este ano e o que esperam daqui para frente na cidade. Entre as demandas que dominam a vida de vários moradores, temas como a saúde, a segurança, as enchentes, o trânsito, a situação vivida pelos moradores de rua, a cultura e a diversidade.

Brasilândia, na zona norte (Foto: Jéssica Costa)

GUAIANASES — PRIORIZAR TRANSPORTE E SAÚDE AO INVÉS DOS MUROS

Eu queria muito que o transporte público melhorasse, a superlotação dos trens e ônibus em horário de pico é insuportável. A segurança também, porque o medo tira até a vontade de sair e conhecer as coisas boas que a cidade oferece. Se tudo isso melhorasse, não só no meu bairro, mas na cidade toda, ficaria feliz. O prefeito deveria se atentar mais às questões da educação, oferecer vagas nas creches e escolas, se preocupar em oferecer ensino de qualidade e boas condições aos professores e demais funcionários das escolas. Hoje fui ao hospital [Júlio Tupy] e a recepcionista me disse que o tempo estimado para atendimento era de quatro horas, fora muitas outras situações precárias que também vi em vinte minutos que permaneci ali. O prefeito deve se atentar a isso, ao invés de pintar muros na avenida 23 de maio. Em quatro anos, ele pode melhorar muita coisa, já que entende tão bem de gestão.Ingrid Reis, 21, desempregada — Guaianases


VILA ITAIM — VONTADE POLÍTICA COM O BAIRRO

Esperamos por mudança sim, respeitando os desejos e lutas dos moradores. O Governo Doria tem o direito de levar adiante as promessas de campanha. Contudo, a manutenção das conquistas e reivindicações dos moradores deve estar nessa pauta. Após muita luta, o Governo Haddad entregou (em parte) o viário do Viaduto Carlito Maia [na Vila Itaim, zona leste]. O governo Doria tem que dar continuidade as obras viárias. Acompanhei com grande ânimo a parceria entre a Prefeitura de Guarulhos com a de São Paulo e o Estado para a construção da Ponte da Vila Any (que Liga São Paulo com Guarulhos). Essa administração tem que pautar as demandas na nossa região no [governo do] Estado, aproveitando a parceria entre o governador e o atual prefeito. O problema não será condições de fazer isso, e sim vontade política com o bairro, e não com a Política Partidária, sendo que vejo um silêncio que entristece o coração com o desmantelamento do CIC [Coordenadoria de Integração e Cidadania] Leste. Euclides Kiko Mendes, líder comunitário e morador da Vila Itaim, na zona leste


VILA GUARANI — TOLERÂNCIA ÀS DIFERENÇAS

Samuel de Paula, designer e autor do livro “Guardei no Armário”, espera que a cidade seja cada vez mais tolerante às diferenças. “Espero que o ódio e a polaridade fiquem de lado, que sejamos mais pacientes e mais humanos”. Ele diz acreditar que houve pequenos avanços na saúde nos primeiros dias, como diminuição nas filas de atendimento. Sobre a periferia, o jovem avalia que o novo governo, a exemplo de outros, não trará grandes benefícios para a população mais afastada do centro. “É ilusório achar que ele pensará na periferia. Se pensasse, não iria propor junto com o Governo Estadual, o aumento das passagens e a cobrança na integração em terminais [de ônibus]”. Samuel é morador do bairro da Vila Guarani, zona sul da capital paulista e é autor do livro Guardei no Armário.


JARDIM FELICIDADE — ESPERANÇA COM 2017

Esperança. O início de ano, pra mim, sempre funciona como renovação das esperanças. Mesmo com tantas mudanças na cidade, já que começamos 2017 com um novo prefeito e com mudanças (que pra mim não são nada positivas), eu ainda acredito que as coisas vão melhorar. Acredito em nossa cidade, acredito em nosso país, e acima de tudo acredito no povo brasileiro, esse que mesmo com tantas adversidades não desiste nunca. Izis Bispo, 30, é jornalista e moradora do Jardim Felicidade na zona norte


VILA INDUSTRIAL — É PRECISO DIVULGAR A CULTURA

Diferente do que diz a maioria, o estado tem incentivado, sim, a cultura e educação. O que vejo, no caso, é a pouca força que ela exerce quanto a isso. Exemplo triste disso é sempre que passo em frente a uma estante de livros no terminal Mercado [na região central]. Suas prateleiras deveriam ter livros que os transeuntes deviam doar e pegar outros emprestados, sem a menor burocracia. Basta pegar sem pedir licença e podem deixar quantos quiserem sem precisar registrar a doação. Porém ninguém se aproxima para sequer olhar. Seria muito bom que o nosso novo prefeito visse com seu olhar empreendedor formas melhor de espalhar e divulgar tudo mais de bom que São Paulo tem a oferecer nesse quesito. Quanto mais pessoas verem dicas de livros, espetáculos, peças de artes, amostras, mais tudo isso será incutida em suas mentes. Basicamente, espero São Paulo recheada de notícias sobre os mais vários temas culturais para que o povo paulistano saiba que essas coisas existem e estão a disposição de todos. Daniel de Santana Pelotti, 33, é escritor e vendedor ambulante, morador da Vila Industrial na zona leste. Conheça a história dele


MOOCA — MELHORAR A SEGURANÇA E A ZELADORIA

Para a auxiliar administrativa Ana Paula Criscolo, 35, moradora do bairro da Mooca há 20 anos, a região precisa de muitos ajustes. “Espero que tenha mais policiamento em 2017, melhorias nos parques e menos alagamentos. Para a cidade de São Paulo é preciso melhorar as área da Segurança, Transporte e Saúde”.

A assistente administrativa Yara Falcone dos Santos, 55, moradora há 50 anos, espera melhorias na parte de zeladoria, praças, parques, clubes da comunidade e recapeamento de ruas. “Precisa também resolver a situação das pessoas em situação de rua, pois os locais em que eles se encontram hoje não é digno de ser humano, mesmo aqueles que são dependentes químicos, calçadas e praças não são moradia. Isso vale pra toda São Paulo. Acredito na força do atual prefeito. Ele tem mudado muitas coisas para São Paulo melhorar e nós temos que fazer a nossa parte. Tenho certeza que esse ano será de grandes mudanças”.

Vista do bairro da Mooca, na zona leste (Alexandre Ofélio)

VILA CURUÇÁ — GESTÃO PARA TODOS

Uma Cidade administrada por um empresario: é o mesmo que dizer que ele vai tratar SP como uma empresa. Só que ele se esquece que numa empresa um patrão manda e desmanda ou quem ele não quer manda embora e uma cidade não é bem assim. Tem que ter mais diálogo e que tudo que ele tem que fazer é somente uma gestão para todos. Muito cedo pra se dizer daqui pro futuro mas posso afirmar que em relação a cultura está faltando mais diálogo em geral com quem faz a movimentação artística periférica de São Paulo. Andre Pazracial França, Vila Curuçá.


VILA ZILDA — FIM DAS ENCHENTES

“De acordo com as campanhas eleitorais dos novos políticos, eu espero, claro, sempre o melhor, tenho esperança que nossa cidade pode ficar melhor. Acredito que quando o governador e prefeito andam na mesma direção, nós só temos a ganhar. Nós esperamos que cumpra, principalmente o que prometeram referente às obras para conter as enchentes, sofremos muito e isso é urgente. Quanto ao novo prefeito João Doria, ainda é cedo pra cobrar alguma coisa, mas acredito no que ele falou, que não é político e sim servidor, então espero que ele sirva bem a cidade”, finaliza Leocádio Teixeira Santos, 73, ativista e líder comunitário da Vila Zilda, na zona norte.


CHÁCARA SANTANA — MAIS ECONOMIA SOLIDARIA

Moradora do bairro Chácara Santana, na zona sul da cidade, Evelyn Dayse, 33, é criadora da marca de roupas plus size “Preta Empoderada”. Ela espera que o transporte público melhore em Chácara Santana neste ano. “E gostaria também de levar para o meu bairro o sentido da economia solidária, queria que os comerciantes se unissem e houvesse um cooperativismo sem cooperativa”, diz ela. Sobre a nova gestão municipal, pede que o prefeito respeite a cultura periférica e urbana que já existe na cidade. “Ele está preocupado em tirar grafite para ‘limpar’ a cidade”, critica. “Ele acabou de entrar, não sei se vai cumprir o que prometeu. Tenho que esperar mais tempo, mas não tenho boas expectativas”, finaliza.


ITAIM PAULISTA — MENOS BUROCRACIA

Acredito que tem um pessoal novo experiente que entende do assunto, espero que se cumpra o que foi prometido em campanha e se inove sistemas ultrapassados de gestão trazendo modernidade e facilitando o acesso aos serviços do município. Eu mesmo passei em uma UBS em fevereiro do ano passado de 2 exames simples e só consegui fazer um até o momento. Nada de agendamento. Acredito que o primeiro exame nem vai poder ser analisado junto com o segundo, pois vai ter mais de um ano de diferença entre um e outro. Espero que isso melhore e o munícipe fique em primeiro lugar e não a burocracia. André Ruiz, Ativista Cultural, morador do Itaim Paulista


JARDIM HELENA — MEDO DA FALTA DE DIÁLOGO

Como morador da periferia e cidadão de São Paulo eu espero que ele cumpra as melhorias que prometeu em campanha, e faça uma boa gestão para todos e não somente pra uma parcela da população. Como grafiteiro e arte educador, tenho medo que a gestão do PSDB seja igual as anteriores na área cultural, ou seja, sem diálogo real com o povo, sem incentivos duradouros, sem parceria com os coletivos culturais nem perspectivas de políticas públicas verdadeiras. É o prefeito Doria já começou mal né ? Apagando os graffitis feitos na avenida 23 de Maio. Manulo Silva Sauro, grafiteiro, morador do Jardim Helena, na zona leste.


SÃO MIGUEL — CONFIANTE COM ESCOLHAS DA GESTÃO

Estou muito confiante com a nova administração do prefeito João Dória, pois além de ser um excelente administrador está demonstrando ser um ótimo político, mostrando muita atitude neste início de governo. Gostei também das escolhas dos Prefeitos Regionais dos distritos de nossa região, principalmente São Miguel em que o Edson Marques já estava trabalhando antes de assumir, está ouvindo toda a população e tentando apagar alguns incêndios provocados pela má gestão anterior e por causa das chuvas. Confio muito na equipe da nova gestão da prefeitura. Tuany Cesar de Lima, empresario, de São Miguel Paulista, na zona leste


MAIS DIÁLOGO E MENOS DEMAGOGIA

Sou grafiteiro há 17 anos, no bairro de São Miguel Paulista, sobre essa nova gestão, não esperava muito pois eles estão seguindo a linha de raciocínio do Kassab que implantou a lei Cidade Limpa em 2006/2007. Está sendo um retrocesso a parte, pois o grafite, assim como a pichação, são estéticas urbanas que resistem em SP desde o final dos anos 70 a início dos anos 80. Espero que criem diálogo com os artistas e não essa demagogia que vem acontecendo. Espero que mudem essa desconstrução, trazendo alternativas. Porém que sejam dialogadas, pois os mesmos não sabem distinguir o que é grafite e o que é pichação. Temos belos eventos e murais pelas quebradas. que ele incentivem e vejam de fatos os trabalhos já existentes nas periferias. Robson Bó, empresário e grafiteiro, no Jardim Helena, zona leste.

Represa Billings (Foto: Priscila Pacheco)

PARQUE E CANALIZAÇÃO

Vejo muita disposição, não só no prefeito, como nos regionais. Disposição e trabalho, juntos. Espero que resolvam as demandas há muito tempo engavetadas, por ineficiência ou falta de vontade política. Como exemplo, o Parque Primavera, há 38 anos de espera. Parte final da canalização do Córrego Limoeiro, há 2 décadas de espera, depois da maior parte já canalizada. Essas demandas aqui na Vila Jacuí, regionalmente, falando. Claro, que torço para que esses tipos de obras sejam realizadas, em vários outros bairros que dependem de saneamento básico e outras necessidades. Sylvio Sena Bimba, líder comunitário e professor, moraDor da Vila Jacui, na zona leste.


BORORÉ — ALÉM DO GRAFITE, NÃO APAGUE A MEMÓRIA

Eu não esperava que esse debate todo sobre o grafite, sobre a arte urbana, pichação voltasse à tona. E num certo sentido só mobilizasse uma reflexão nas pessoas quando gerasse polêmica assim. Eu espero que nesse ano muita memória, uma memória que não quer ser mostrada, não seja apagada. E eu não tô falando só do grafite. Tempos difíceis. Tem que se manter firme. Eric Silva, 22, estudante de Geografia na USP e morador da Ilha do Bororé, bairro localizado no distrito do Grajaú, zona sul.

Alexandre Ofélio, Aline Kátia Melo, Lucas Veloso, Diogo Marcondes, Priscila Gomes, Priscila Pacheco, Vander Ramos e Vagner Vital. Organização: Paulo Talarico.

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